Crítica – A Luz Entre Oceanos

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura

Baseado no livro homônimo de M.L. Stedman, A Luz Entre Oceanos é o novo trabalho do diretor Derek Cianfrance, conhecido por obras como Namorados para Sempre e O Lugar Onde Tudo Termina.Sua marca foi sempre gostar de retratar os relacionamentos sem os lirismos e a romantização que geralmente envolvem filmes do gênero. Aqui temos um retrato do que a tristeza pode levar alguém a fazer, por mais puras que sejam suas intenções, porem peca pela sua forma como constrói sua historia.

O filme começa com Tom Sherbourne (Michael Fassbender), um solitário veterano da Primeira Guerra Mundial, aceitando um emprego como faroleiro em uma ilha distante e praticamente inabitada. Durante sua “entrevista”, ele é apresentado a doce e determinada Isabel Graysmark (Alicia Vikander). Como já era de se esperar, o homem introspectivo e de coração fechado acaba se apaixonando pela moça e os dois se mudam para o farol.

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Depois de engravidar e perder o filho por duas vezes, Isabel acaba entrando em depressão. Entretanto, o aparecimento de um barco à deriva carregando um bebê e seu pai, já morto, lhe acende a esperança. Após insistir muito, e contra a vontade do marido, ela acaba ficando com a criança e a cria como se fosse sua filha biológica. A situação complica, porém, quando Tom descobre que a mãe verdadeira da criança, Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz) está viva e sofrendo profundamente com sua perda.

Em um primeiro momento acreditamos que A Luz Entre Oceanos irá ter um foco psicológico, em virtude das dores sofridas pelo protagonista durante a guerra e de seu posterior afastamento. O que vemos, conforme a projeção progride, contudo, é um drama envolvendo a vida desse casal. Ver os personagens de Fassbender e Vikander cometerem uma sucessão de erros é realmente desconcertante e um dos pontos que consegue envolver quem assiste, entretanto o diretor  pesa a mão nos recursos melodramáticos, fazendo com que o filme ganhe contornos de tragédia grega.  Embora a atuação do casal protagonista seja de alto nível, o roteiro não tem muito o que oferecer para que eles se desenvolvam além do drama exacerbado.

Em virtude disso, todo o dilema sofrido por Sherbourne acaba ficando em segundo plano até os trechos finais, criando uma artificialidade na narrativa, que apenas é combatida pelo ótimo trabalho de atuação do elenco principal. Fassbender, como sempre, não nos decepciona e coloca todas suas emoções para fora – seu olhar, a forma como sua boca se contorce, perfeitamente refletem a dor do personagem e não conseguimos deixar de acreditar em seu sofrimento interno. Ao mesmo tempo sentimos a paixão que nutre por sua esposa, capaz de fazê-lo realizar qualquer coisa para deixa-la feliz ou a salvo.

Vikander, por sua vez, não sai atrás e transmite, também, uma verdadeira profundidade, visto que percebemos sua noção do certo e errado que entra em oposição à sua vontade de ter um filho. Sua personagem fora profundamente abalada pela perda dos dois bebês e sua inconstância emocional, que posteriormente passa para Tom, chega a ser palpável. O amor que os levara inicialmente a ficarem juntos naquela afastada ilha, logo se transforma em uma constante dor, que ocasionalmente dá fortes pontadas no coração dos dois personagens, até criar um ponto de insustentabilidade, que nos leva para o clímax.

A ambientação do filme é muito bem escolhida e construída, com a fotografia auxiliando o longa a trazer a sensação de aflição dos personagens para a tela a partir de suas cores mais acinzentadas. O figurino distingui bem cada personagem e expressa suas angústias, sendo notável como Tom usa muitas roupas escuras – devido aos seus traumas da guerra – enquanto Isabel, com sua alegria jovial, acaba por utilizar principalmente vestes claras na maior parte da projeção.

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Porem o principal problema da obra como todo é seu desfecho, um trecho final excessivamente prolongado, que soa como um gigantesco epílogo. Há inúmeros momentos de terminar o filme, mas Cianfrance opta por continuar, quebrando nossa imersão inúmeras vezes, tornando a narrativa enfadonha, cansativa. Com isso, o apelo emocional da obra em relação a nós acaba se perdendo e assistimos o desfecho sem a menor ameaça de uma lágrima escorrer pelos nossos rostos, tornando praticamente em vão os esforços de Fassbender, Vikander e Weisz, esta, por sua vez, uma personagem que consegue nos atingir em cheio pelo drama que sofre – a atriz transmite um realismo nítido, mas é prejudicada pelos flashbacks desnecessários que interrompem o ritmo da projeção.

A Luz Entre Oceanos é certamente um filme belo de se ver, que trabalha com engajantes problemáticas do ser humano. A forma como seu roteiro é construído, contudo, atua contra os esforços do elenco e da direção, prejudicando o ritmo da narrativa e estendendo a duração do longa-metragem para mais de duas horas, sendo que poderia ser consideravelmente mais curto e, com isso, nos atingiria de forma muito mais certeira. Considerando que o filme foi apontado como forte candidato a disputar uma vaga no Oscar, isso nos leva a crer que as decisões do diretor foram pensadas para um propósito, mais que seu roteiro acaba o transformando em um romance como vários outros do genero

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