As Viúvas | Steve McQueen traz um filme de assalto que tem muito a que dizer

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura

Steve McQueen é um desses diretores que fazem sua filmografia algo imperdível atualmente. Em seu quarto trabalho, o realizador juntamente com a escritora e roteirista Gillian Flyn trazem em As Viúvas poderosos temas que convergem com nossa atualidade e traz no elenco um grupo de mulheres fortes pra isso.

Na trama, Veronica Rawlings (Viola Davis) é a esposa do criminoso Harry Rawlings (Liam Neeson), que é morto pela polícia, juntamente com seus comparsas de assalto. Sem recursos para pagar uma dívida de crime do marido, ela decide recrutar as também viúvas dos companheiros que morreram com ele para um “último golpe”. Assim, entram no jogo a imatura e destratada Alice (Elizabeth Debicki) e a marrenta Linda (Michelle Rodriguez), ambas em situação financeira precária.

Mostrando versatilidade, McQueen constrói um complexo entrecruzamento de relações por trás de um drama ordinário recheado de adrenalina, e inseri temas relativamente importantes que nos beliscam de volta à realidade. Sem nenhum medo de arriscar, ele faz críticas à corrupção, ao racismo unido a assassinatos de jovens negros nas periferias americanas e à violência doméstica.

Alias, do começo ao fim da trama o que salta aos olhos é a vulnerabilidade humana de cada personagem, apresentado objetivamente no início, em uma edição primorosa do diretor. Entre um casal em que a mulher apanha do marido, outro em que a mulher é subjugada como incompetente pelo ex-companheiro, outro ainda em que nem há diálogo entre os dois, é apenas na intimidade de Verônica e Harry que identificamos amor legítimo. Ou, pelo menos, acreditamos que exista.

Sem apelar para twists gratuitos ou outros truques de roteiro, a narrativa de As Viúvas se sustenta ao longo do filme, dando o peso correto a cada acontecimento e fechando um ciclo para todos os personagens. A empatia que Viola Davis e suas aliadas despertam no desenrolar da história não fica de lado quando saímos do cinema.

Quando o assunto é atuação,Viola Davis como sempre nos faz lembrar os motivos de seu nome estar entre as grandes estrelas de Hollywood na atualidade. A atriz dá um show de atuação e convence como a determinada Verônica, equilibrando a força com o lado traumatizado da personagem sem deixar que um deles se sobressaia.

Debicki, surpreende e deslancha com sua Alice. Ela começa como uma frágil garota rica e mimada e se torna uma das mais destemidas integrantes do assalto. A já conhecida Rodriguez (Velozes E Furiosos) também se destaca como a forte Linda, que entra para o plano a fim de garantir a segurança dos filhos, e acaba assumindo riscos perigosos que garantem boas doses de tensão ao longa.Outra surpresa está em Cynthia Erivo, que é uma excelente e grata adição ao elenco. A personagem Belle é autêntica e inteligente e Erivo conquista espaço merecido com seu talento e flexibilidade.

Por outro lado, o elenco masculino é visto com mais distanciamento, à exceção de Robert Duvall, um ponto de interesse que destoa com seu perfeito Tom Mulligan. Sua relação dúbia com o filho Jack revela mais desgosto que algum orgulho pela linhagem que Colin Farrell (Jack) ostenta apenas quando é conveniente, de maneira brilhante. Quando confrontados com o núcleo dos Manning, formado por Jamal Manning (Brian Tyree Henry), o político assassino e corrupto alvo do roubo inicial, e Jatemme Manning, o capanga homicida e torturador (Daniel Kaluuya), os brancos Mulligan também lutam entre si, mas aqui tudo que é imoral e ilegal já está normalizado. Isso tudo em uma Chicago obscura, uma cidade de cores frias.

Com As Viúvas, McQueen consegue realizar além de um forte drama de assalto, um thriller de ação e critica social embutida. Trazendo e utilizando bem seu elenco impecável, é um filme que certamente tem muito a dizer.

 

 

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