O assassinato de JonBenét Ramsey é um dos casos de infanticídio mais famosos dos EUA (se não for do mundo), e não é a primeira vez, e não será a última, que criam um documentário sobre a jovem miss. Mas uma garantia eu posso dar a vocês – garantia essa vinda de uma pessoa que já viu alguns outros doc. sobre o caso -, o que a Kitty Green e a Netflix fizeram nesse documentário nunca foi feito antes, e é uma tradução nada sutil e espinhosa de como esse caso foi se desenvolvendo ao decorrer dos anos e o interesse quase mórbido de terceiros sobre ele.
Detalhes sobre o caso¹:
JonBenét Patricia Ramsey foi uma americana rainha de beleza infantil que foi assassinada em sua casa, em Boulder, Colorado, em 1996. Aos seis anos de idade, o corpo foi encontrado no porão da casa da família quase oito horas depois de ter sido dado como desaparecido. Ela tinha sido atingida na cabeça e estrangulada. O caso, mesmo depois de várias audiências, ainda permanece sem solução e continua a gerar o interesse do público e da mídia.
Tudo sobre o caso é confuso e parece ter sido manipulado, não apenas pela mídia, mas também pela força policial e pela família. A repercussão foi intensa, e dividem opiniões até os dias de hoje, mais de 20 anos depois do caso. E claro, todos têm uma opinião e uma teoria sobre o culpado.
E foi esse excesso de opiniões e teorias que inspiraram Green: ao invés de criar um documentário (mais um) sobre JonBenét, ela criou 1hr20min de fato e ficção metalinguísticos, onde atores fazem testes para os papéis de JonBenét Ramsey, Patsy e John Ramsey (pai e mãe), Burke Ramsey (irmão), o chefe de polícia e John Mark Karr (um pedófilo). E enquanto fazem testes de elenco, esses atores (que estavam fazendo papel de atores) contam o que acham do caso.
Detalhes sobre o caso²:
Agências de aplicação da lei de Colorado inicialmente suspeitaram dos pais de JonBenét e seu irmão. No entanto, a família foi parcialmente absolvida em 2003 quando o DNA retirado das roupas da vítima provou que eles não estavam envolvidos.
Seus pais não seriam completamente inocentados até Julho de 2008.
Enquanto contam suas próprias teorias, além de trazerem detalhes de suas próprias vidas que os fariam entender os sentimentos dos familiares ou estarem aptos a falar sobre aquilo, os atores também, por terem ideias diferentes sobre o que aconteceu, interpretam de variadas formas os seus personagens, e esse é o tesouro do documentário: o seu foco não é falar sobre JonBenét, e sim sobre o circo de acusações e teorias que pessoas de fora, ao se sentirem minimamente ligadas ao caso, formaram ao redor do assassinato.
“Foi a coisa mais importante que aconteceu em Boulder”, uma das atrizes para o papel de Patsy Ramsey diz, e Kitty Green mostra o quanto as pessoas estavam interessadas nisso.
Detalhes sobre o caso³:
Em fevereiro de 2009, o Departamento de Polícia de Boulder reabriu as investigações do caso.
A cobertura da mídia sobre o caso frequentemente se preocupou com a participação de JonBenét em concursos de beleza infantil, a riqueza de seus pais e as provas incomuns no caso.Relatórios também questionaram movimentação total da polícia do caso. Vários processos por difamação foram arquivados contra várias organizações de mídia por culparem os membros da família Ramsey.
Esse documentário não busca contar minuciosamente detalhes do caso, muitas das provas e evidências, por exemplo, são apenas mencionadas. Eu diria que seu público alvo se divide em quem já conhece o caso e suas variadas teorias, e aqueles que irão atrás de informações sobre a trágica morte da jovem logo depois de assistir.
E volto a dizer: é uma tradução nada sutil e espinhosa de como esse caso foi se desenvolvendo ao decorrer dos anos, e o interesse quase mórbido de terceiros sobre ele.