Desde que estreou nos cinemas em 1987 com Arnold Schwarzenegger no comando da selva e de sua metralhadora, Predador se tornou um dos ícones definitivos da ficção científica e ação. A franquia, entre altos e baixos, sempre conseguiu manter viva a figura do caçador alienígena mais letal do universo. No entanto, foi apenas com a compra da 20th Century Fox pela Disney que o Predador ganhou novo fôlego, especialmente com a chegada de Predador: A Caçada (2022), que marcou um retorno digno da criatura ao centro das atenções. Agora, em 2025, a animação Predador: Assassino de Assassinos confirma que o monstro intergaláctico não apenas sobreviveu à transição de estúdios, como também se reinventou de forma surpreendente e ambiciosa.
Assassino de Assassinos apresenta uma estrutura inusitada e envolvente: três histórias aparentemente desconexas que se entrelaçam de forma magistral no desfecho. A primeira acompanha uma guerreira ancestral determinada a vingar seu povo, num cenário brutal e primitivo. A segunda nos transporta ao Japão feudal, onde um samurai dividido entre honra e vingança enfrenta um mal que desafia toda lógica. A terceira segue um jovem piloto latino durante a Segunda Guerra Mundial, lutando por respeito, aceitação e, eventualmente, pela própria sobrevivência contra uma ameaça invisível.

Cada um desses personagens carrega suas feridas e motivações pessoais, mas o que os une é a chegada do Predador — o verdadeiro “assassino de assassinos” — um ser implacável que não escolhe tempo ou lugar para caçar. Quando suas histórias convergem, o resultado é explosivo.
Sob a direção de Dan Trachtenberg, a animação brilha. Após o sucesso com A Caçada, o diretor retorna com um projeto visualmente ousado e narrativamente ambicioso. O estilo de animação é espetacular, com traços refinados, cores expressivas e uma direção de arte que entrega tanto cenas contemplativas quanto sequências de ação sangrentas e dinâmicas com igual competência.

A decisão de contar a história em três atos distintos é ousada, mas recompensadora. Embora o ritmo inicial possa parecer lento, tudo ganha sentido no último segmento, quando as peças do quebra-cabeça se encaixam com precisão surpreendente. A montagem final é poderosa, emocionalmente carregada e entrega o tipo de clímax que faz o espectador repensar toda a jornada até ali.
As sequências de ação, como se espera em um filme do Predador, são intensas, criativas e muito bem coreografadas — e a animação só potencializa essa brutalidade de forma estilizada. É violento, sim, mas nunca gratuito. É o tipo de violência que carrega peso narrativo, que causa tensão real e que respeita o legado do personagem.
Apesar de todos os méritos, Assassino de Assassinos não é um filme sem falhas. A estrutura em capítulos, embora interessante, pode alienar parte do público nos primeiros 30 minutos, especialmente quem espera uma ação ininterrupta desde o início.

Além disso, algumas das ideias filosóficas e existenciais sugeridas nos arcos dos personagens — especialmente no caso do samurai — são levantadas mas não plenamente desenvolvidas. Fica a sensação de que havia espaço para aprofundar mais a conexão entre o drama humano e a ameaça alienígena.
Predador: Assassino de Assassinos é mais uma prova de que a franquia encontrou seu melhor momento sob a tutela de Dan Trachtenberg e da nova fase da 20th Century Studios. Com uma animação impecável, personagens cativantes e um respeito profundo pela mitologia da série, o filme entrega ação, emoção e uma nova perspectiva para o caçador mais temido do universo. Ao mesmo tempo que celebra suas origens brutais e sanguinolentas, o filme também se arrisca a contar histórias com alma — algo raro no gênero.
É o tipo de produção que agrada tanto o fã hardcore quanto o curioso de primeira viagem, e mostra que, mesmo quase 40 anos depois de sua estreia, o Predador ainda tem muito o que caçar — e muito o que dizer.
Que venha Predador: Terras Selvagens. Estamos prontos para mais.