Em 5 de outubro de 2017, a indústria do cinema americano estremeceu diante da matéria de capa do The New York Times. No título lia-se “Harvey Weinstein abafou abuso sexual com pagamentos durante décadas”. Pois aqui em Ela Disse, adaptação do livro de mesmo nome escrito pelas jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey (que foram as responsáveis pela matéria) vemos como elas chegaram e juntamente com a equipe do jornal desvendaram e revelaram para o mundo os crimes cometidos pelo produtor Harvey Weinstein, e que em seguida impulsionou o movimento conhecido como #Me Too.
Dirigido por Maria Schrader, o longa retrata uma das reportagens investigativas mais impactantes da década 2010 ao acompanhar Twohey (Carey Mulligan) e Kanter (Zoe Kazan) desvendando o sistema que facilitou, por anos e anos, o assédio e abuso psicológico e físico de várias mulheres em Hollywood, e serviu como empurrão para o movimento #MeToo, através do qual incontáveis vítimas, não só no mundo do cinema, foram a público contar suas histórias.
Ela Disse se utiliza da premissa básica de muitos filmes do gênero jornalístico (Todos os Homens do Presidente, Spotlight, Zodíaco entre outros) e consegue expor o esforço detalhado da investigação e os questionamentos pertinentes por trás de cada passo. A roteirista Rebecca Lenkiewicz costura todos os acontecimentos da vida de Jodi e Megan antes e durante a investigação contra Weinstein, assim ficamos intimas das protagonistas e junto a isso vamos vivenciando os casos que elas têm que reportar de inúmeras mulheres que tiveram suas vidas arruinadas pela influência de uma pessoa no meio.
Os relatos chocam não por trazer flashback e tal, mas na forma que são transcritos, seja por ligações em que as repórteres se comunicam ou conversando presencialmente. Com certeza é um dos momentos mais impactantes do longa, e que com certeza as mulheres serão as mais atingidas emocionalmente.
Como eu falei a estrutura do roteiro e da condução fica naquela estrutura tradicional das histórias sobre jornalistas investigando: encontram fontes, tentam convencer essas pessoas em falar com a reportagem, encontram barreiras. Mas é o feijão com arroz bem-feito. Com o foco mais voltado para a dupla é certo que os destaques fiquem para Carey Muligan e Zoe Kazan, principalmente Kazan que tem as cenas mais emocionalmente impactantes. O restante do elenco é operacional e seguram bem toda a metragem.
Ela Disse, tem uma estrutura básica de um bom filme de jornalismo investigativo ao nos apresentar uma história necessária e que parece não apenas importante, mas urgente.