Conquistar, Amar e Viver Intensamente é funcional em sua jornada agridoce de altos e baixos

Danilo de Oliveira
4 Min de Leitura

O cinema LGBTQ+ está recheado de produções que abordam o lado melancólico e triste da vida de personagens gays. Não é de hoje que a grande maioria dos roteiros focam na dor, na solidão e na perda, como se ser gay e o “final feliz” não fosse possível dentro desse contexto.Claro que existem suas exceções, mas em muitos casos, mas essa falta de originalidade nos leva a questionar porque esse tipo de temática é tão abordada no cinema.

Conquistar, Amar e Viver Intensamente é mais um filme que chega pra mostrar o tema, mas até de maneira lúdica e poética, mostrando que, se vivido intensamente, o amor é capaz de provocar grandes mudanças na trajetória de qualquer um. .

Na trama, Jacques (Pierre Deladonchamps) é um escritor que se vê em uma crise existencial, tanto no trabalho quanto na vida, quando encontra, acidentalmente, o jovem Arthur (Vincent Lacoste) dentro de um cinema e juntos iniciam um forte romance que atravessa os problemas, no entanto, Jacques está doente e precisa encontrar forças para aproveitar o tempo que lhe resta ao lado de seu amado.

O roteiro  foca na ternura que se sobressai ao desespero, já que os personagens tentam seguir a vida normalmente, mesmo com todas as adversidades que encontram. Retratar o medo de morrer de forma delicada, sem apelar para imagens que choquem o espectador, é um trabalho digno de aplausos e feito com competência aqui.

Se o roteiro falha em ser original, a direção do francês Christophe Honoré é delicada e gentil com os personagens, explorando ângulos aproximados sempre que a trama assume ares mais emocionais, semelhante ao que ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ faz, até mesmo optando por não exibir nudez explicita e sim momentos de intimidade entre os protagonistas, um acerto e certamente um bônus em relação a outros filmes semelhantes, assim como a boa trilha sonora, que entra em momentos oportunos e não força a barra na tentativa de fazer chorar, aliás, a trama consegue emocionar em cenas pontuais, como a da banheira, por exemplo, em que um dos personagens arrasta o outro para um banho juntos enquanto conversam sobre a vida e sobre o fim do relacionamento. Simples, sutil e deliciosa de se assistir.

A diferença de personalidades dos dois personagens centrais, Jacques mais realista e sincero, e Arhur mais otimista e romântico, representa um ótimo contraponto, como se as disparidades de ambos os completassem. Além disso, os discursos existenciais e filosóficos que ambos tecem, servem para mostrar como cada um enxerga a vida e quais as suas perspectivas para o futuro, ainda que um acredite que seu tempo é curto, e o outro sonhe em viver em Paris ao lado de seu amado.

Pierre Deladonchamps é o nome perfeito para o papel do escritor, demonstrando desenvoltura e naturalidade, ao contrário de Vincent Lacoste, um tanto desconfortável. Denis Podalydès, num papel menor, faz uma composição discreta e excelente, com direito a um dos diálogos mais comoventes do filme.

Conquistar, Amar e Viver Intensamente cumpre muito bem o seu papel e funciona dentro de sua proposta, emocionando pontualmente e provoca reflexão sobre o significado do amor, mesmo que não inovador, deve agradar quem gosta de produções com esse estilo. Talvez desperdice sim a oportunidade de tratar o assunto com maior naturalidade, mas não frustra ao lidar com o universo LGBTQ+, ainda mais por se tratar de um recorte específico de uma época. Uma jornada agridoce de altos e baixos.

Share This Article
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *