10 segundos para vencer | A cinebiografia é mais um dos ouros para o cinema brasileiro

Priscila Dórea
4 Min de Leitura

Se tem um tipo de filme que o cinema brasileiro gosta de fazer e faz bem são as cinebiografias. E o novo filme do diretor José Alvarenga Jr. (O Caçador, 2014), 10 segundos para vencer, entra fácil no hall de outros longas brasileiros que contam muito bem a história de alguém. No filme, nós conhecemos a trajetória do boxeador brasileiro bicampeão mundial Eder Jofre. Conhecido como Galinho de Ouro, ele foi eleito o maior peso galo da história do boxe e é considerado um dos maiores boxeadores de todos os tempos, se consagrando campeão mundial em 1961, nos Estados Unidos.

O primeiro trunfo do filme é conseguir contar toda a trajetória de Eder Jofre (Daniel de Oliveira) sem que a passagem dos anos fosse demorada e cansativa. Ao acompanharmos sua infância difícil no bairro do Peruche em São Paulo, percebemos que o Eder adulto é reflexo de tudo que ele viveu e conheceu na infância.

O jovem Eder nasceu no mundo do boxe, com o seu pai, Kid Jofre (Osmar Prado), sendo dono de uma academia e treinando seu tio, Zumbanão (Samuel Toledo), para ser um grande boxeador. Apesar de ser muito bom lutando e ter uma esquerda matadora, Eder também queria cursar faculdade e construir a própria família. Esses fatores são alguns dos responsáveis pelo segundo trunfo do filme: mostrar a intimidade de um ícone do boxe.

Filmes nos quais o roteiro gira em torno de algum esporte, seja ele baseado em uma história ficcional ou não, encontram diante de si um leque de clichês disponíveis que são esperados. Uma infância difícil, um talento genuíno, uma luta ao fazer escolhas, embate sobre suas prioridades e alguns machucados bem graves que, no fim, não conseguem bater de frente com a vontade de alcançar a glória.

10 segundos para vencer tem tudo isso e um pouco mais. O diretor soube dosar bem todas as cenas de treinamento, conflitos familiares e indecisões de Jofre ao longo da vida, até que ele se tornasse campeão em duas categorias do boxe. Ao assistir, é possível prever muitos dos acontecimentos, mas isso não deixa o filme cansativo, só faz perceber, principalmente por se tratar de uma história real, o quanto as pessoas, mesmo com suas diferenças, podem reagir da mesma forma.

Mesmo que o longa tem a sua quantidade de clichê esportivo, ainda é válido saber um pouco da história do Eder Jofre antes de assistir o filme, caso não tenha ideia de quem ele seja. Saber nem que seja um resumo da vida dele dar ao filme um brilho a mais, brilho esse que se concentra muito na escolha do elenco.

Osmar Prado no papel de Kid Jofre traz muita verdade em sua atuação, principalmente com aquele sotaque argentino que faz muita gente duvidar que ele seja brasileiro. Já Daniel de Oliveira só deixa claro que ele é aquele ator “pau para quase toda obra”, bem camaleão, capaz de ir do Cazuza ao Eder, te fazendo acreditar em todos eles, até o que ele fez no meio dos dois.

Alvarenga nos entrega uma cinebiografia cativante, que explora o melhor de seus atores e alimenta muito bem o nicho de filmes sobre boxe no Brasil.

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Jornalista e potterhead para toda eternidade, tem um amor nada secreto por mangás e picos de felicidade com livros em terceira pessoa. Além de colaboradora no Cinesia Geek, é repórter do Grupo A Tarde e coapresentadora do programa REC A Tarde.
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