*ATENÇÃO: Contém spoilers do filme e de uma possível sequência dele.
O live-action de FullMetal Alchemist havia sido anunciado a um bom tempo e, dificilmente, você encontrava algum fã do mangá 100% empolgado com a ideia. Traumas passados (Dragon Ball) e recentes (Death Note), fizeram os fãs da obra de Hiromu Arakawa manterem as expectativas para o filme no canto mais obscuro do laboratório cinco. No entanto, o filme não é de todo ruim. Ele é o “Batman vs.Superman” dos lives de mangá: algumas cenas boas, com uma confusão descabida de Martas. Não tão ruim, não tão bom.
O filme conta a história de Edward e Alphonse Elric, dois garotos que, em um mundo onde a alquimia é comum, quebram o maior tabu de todos: trazer alguém a vida. O preço que pagam é alto e Ed perde a perna tentando recriar a mãe, enquanto Al tem seu corpo inteiro levado. Ed então tem seu braço levado ao trazer a alma de Al de volta e a fixar em uma armadura. Com isso, os jovens resolvem ir atrás do segredo para fazer a Pedra Filosofal e com ela conseguirem seus corpos inteiros de volta.
A trama começa bem, principalmente pelo apelo emocional que a infância dos irmãos Elric tem. O problema vem depois disso. Para quem já conhecia a história, a falta de personagens é gritante e escandalosa. Porém, a princípio, o roteiro foi bastante inteligente em suas escolhas. FullMetal Alchemist tem muito personagem “ativo” de núcleos diferentes que, mais a frente, montam sua grande trama. A retirada de importantes personagens para uma versão live-action, no entanto, faz sentido se eles puderem ter sua chance no futuro. O filme já estava longo demais e eles precisavam chegar em algum lugar depois da introdução.
- Live-action de Mulan tem estreia adiada para 2020
- 5 momentos em que Pantera Negra representou todas as mulheres
Apesar da Izumi ser quem ensina de verdade alquimia a eles, nesse primeiro ela é dispensável pois pode ser introduzida em flashback em uma sequência, sem grandes problemas;
Scar é outro que pode vir em uma continuação facilmente. Apesar da guerra de Ishbal ter aparecido nesse primeiro filme, ela foi apenas mencionada e pode ser um dos plots principais no próximo;
Mesmo sendo o Führer (patente máxima do exército), King Bradley é ignorado pelo roteiro, fazendo com que o filme perca a chance de plantar muitas possibilidades para uma sequência. Porém, ele também pode ser introduzido depois, sem maiores perdas.
Ao ignorar Scar e Bradley, o roteiro precisava de um vilão, certo? Pois então, a coisa começa a desandar a partir daí. A cidade de Liore (sem Rose, cadê o amém?!), assim como no original, serve como uma introdução à Pedra Filosofal, então temos o choro livre com Hughes (Ryûta Satô) e Nina Tucker, e consequentemente o aparecimento de Shou Tucker (Yo Oizumi) que… Se torna o vilão. Com motivações tão grandiosamente mesquinhas quanto as que fizeram ele fazer o que fez com a filha, mas ainda assim não mesquinhas o suficiente para ser o principal vilão da história. Os roteiristas perceberam isso e a cartada final foi jogar o General Hakuro (Fumiyo Kohinata) como principal vilão. No entanto, quem diabos é Hakuro?
Hakuro é um general do exército que não aceita a rápida ascensão de Roy Mustang (Dean Fujioka) e vive o perseguindo por isso. Ele é o general sequestrado no trem no capítulo 4 do mangá e que é salvo pelos irmãos Elric. Tudo parte do plano de Mustang para convencer o general a baixar a idade mínima do exame de entrada do exército para que Edward pudesse entrar. Ele faz mais algumas aparições ao decorrer da história, mas nada muito memorável.
Hakuro fica rondando a história e a cada cena dele você se pergunta “Sério que tiraram o Bradley?”, porque por mais que sua introdução possa ser feita depois, a falta do Bradley é sentida principalmente pela existência de Hakuro e o fato dele ter a personalidade muito parecida com a do Führer no filme. Então a história vira uma montagem dos acontecimentos do mangá, com cortes no meio que, além de fazer quem leu tentar adivinhar como vão rearranjar aquilo, abre muitas brechas para um segundo filme. Ah! E tem os homunculus.
A existência dos homunculus é permanente durante toda a história de FullMetal Alchemist, mas o propósito deles é um verdadeiro “que?” no filme. Tudo bem que suas reais intenções no mangá são mostradas bem depois e é nesse mistério que o plot deles é desenvolvido, mas alguma medida sobre isso deveria ter sido tomada na versão em filme. O modo de contar uma história é muito diferente de um mangá/anime para um filme live action, mas eles ignoraram isso quando resolveram roteirizar os homunculus. Dito isso, a Luxúria está maravilhosa.
A caracterização dos personagens e muitos cenários são praticamente uma cópia do que você encontra no mangá, e a Luxúria é a mais fiel de todas. Chega a ser surreal o quanto a Yasuko Matsuyuki atuou tão fielmente no papel da homúnculo. Uma atuação que merece ser aplaudida é a de Ryosuke Yamada no papel de Edward que está sensacional, mesmo com aquela péssima peruca. Ele parece bastante entregue ao papel, o que torna as cenas mais tensas algo bastante incrível de assistir, ainda mais por ser um filme asiático.
A atuação asiática é muito criticada no ocidente, o que não é uma questão sobre elas serem boas ou não, mas sim de puro estilo. O exagero nas expressões é o que causa mais desgosto do lado de cá, porém isso não passa de uma característica cultural da atuação deles, basta se acostumar. Assim como falar sozinho é uma marca registrada das atuações mexicanas.
Já os efeitos especiais tem seus altos e baixos, o que já era de se imaginar. Por ter muitas cenas de luta e essas lutas serem bem no estilo de “Avatar – A Lenda de Aang”, é necessário realmente muito trabalho para sair algo perto dos 100% louvável e um alto investimento. O que não parece ter acontecido no filme, mesmo com a fama do mangá.
FullMetal Alchemist é um filme que merece ser visto apesar de seus defeitos. Não deixe que traumas passados (Ooh Goku, ooh Raito…) te façam não assistir essas adaptações. Se chamam adaptações por um motivo, certo? Mesmo que não ache ele o melhor filme do mundo, o tempo gasto vale a nostalgia que bate sem pudores ao fim do filme.