Em 2017, a editora Intrínseca decidiu republicar as duas primeiras histórias da escritora Jojo Moyes. A Casa Das Marés é a segunda história, publicada em 2003 pela britânica. O livro procura conectar duas personagens através de uma residência chamada Casa Arcádia, a casa do título. Foi lá que Lottie Swift viveu uma parte conturbada de sua juventude, nos anos 1950 – e que, hoje, está sendo reformada pela arquiteta Daisy Parsons se agarra após seu marido a abandonar. Essa ferramenta, que a autora já usou em livros como A Garota que Você Deixou Para Trás, não funciona tão bem no livro, já que a casa, que deveria ser o ponto chave do livro, funciona mais como um cenário sem identidade.
Primeiros livros da autora, os dois primeiros republicados em 2017 pela editora Intrínseca
Só por essa razão, as histórias de Lottie e Daisy já mostram que, apesar da tentativa da autora, têm pouca relação no livro. Talvez um dos únicos pontos de união seja que os momentos trágicos de ambas as personagens são extremamente comuns e com pouca profundidade. No caso da primeira, por exemplo, atração de Lottie por Guy, o noivo de sua irmã, é repentina, instantânea e sem razão – e por mais que estejamos falando de um livro de romance, nem todo clichê funciona.
Apesar de sua história ser extremamente comum – menina que se apaixona por quem não pode, se envolve, acaba grávida e sozinha -, Lottie, ao menos, é uma personagem com conteúdo para o leitor explorar. Retraída e observadora na sua juventude, se torna uma idosa ríspida e sagaz, com traumas guardados. O conflito dela com seu marido e sua filha vêm para fortalecer a personagem, que escolhe finalmente deixar o passado para trás e encarar suas decisões: possivelmente por que a reforma da Casa Arcádia chega ao seu fim, naquela que é a única real conexão entre os personagens e a residência.
Escritora Jojo Moyes, autora de sucessos como Como Eu Era Antes de Você
Daisy já não é uma personagem tão boa. Parece que todas as ações da personagem são reações a algo que algum homem fez – continuar no projeto por que seu marido a abandonou, chorar por que o marido a abandonou, se arrumar por que seu chefe vem para uma visita, ir a uma reunião de moradores para parecer forte a seu chefe, etc etc etc. É claro que, se isso resultasse em uma personagem mais forte ou mais interessante ao final do livro, o leitor poderia deixar isso para lá. Mas na verdade Daisy termina o livro como começou: com um homem, um bebê e sem muita personalidade.
Os personagens masculinos são tão sem graça, rasos e calados no livro que quase não merecem menção – a não ser para dizer como são sem graça, rasos e calados! A Casa Das Marés é, realmente, um romance de uma escritora no início de sua carreira. Já se pode perceber muitas das características que, desenvolvidas, tornaram Jojo Moyes uma escritora com mais de 8 milhões de livros vendidos no mundo todo. Mas o livro de 2003 é um rascunho, e não a obra prima. Por isso, muitos clichês e personagens mal desenvolvidos tornam a leitura monótona, sem clímax, e sem um desfecho interessante. Não é um péssimo livro, mas com certeza não é memorável.