2019, será um conhecido como o ano de marcos na história das adaptações de quadrinhos. Se no primeiro semestre fomos trazidos a emoção de um dos maiores eventos que a industria cinematográfica já viu, com a Marvel e seu arrasador Vingadores: Ultimato, o segundo semestre a rival vai deixar todos nocauteados com Coringa, uma obra que tem muito a nos dizer como sociedade contemporânea e ainda sim reescrever o que é fazer adaptações do gênero de agora em diante. Um novo frescor a uma indústria servida a mais do mesmo com uma obra prima singular.
Sabemos que a DC não anda muito bem das pernas quando se fala em universo de cinema, mas convenhamos que seguir uma linha totalmente diferente do usual e entregar a Todd Phillips e Joaquin Phoenix pra retratar de maneira unica um de seus maiores e mais emblemáticos vilões foi sensacional! Me falta palavras pra descrever o que é ver esse longa!
Baseado no icônico vilão da DC esse filme não lembra nada o que foi lançado ou até mesmo imaginado no gênero,sendo algo único e novo ao mesmo tempo que conhecido e velho.
Na trama, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) passa os dias preparando seu número de comédia stand-up, fazendo bicos como palhaço e cuidando da mãe doente (Frances Conroy), ao mesmo tempo em que enfrenta transtornos mentais que o fazem ser visto como aberração pela maioria à sua volta.Quando a sociedade falha com o ser humano, sua base familiar é uma tragédia, é possível salvar essa pessoa? Bom a partir daí vocês já sabem né? rsrsrs.
Aqui o termo “filme de super-herói” é completamente descartado, já que estamos falando de um vilão (descarte o Venom por favor) e como eu falei acima, ele diferente de tudo já feito no gênero, sendo até mais denso que obras, que aparentemente fogem do estilo como Batman: Cavaleiros das Trevas e Logan, já que aqui estamos vendo mais um estudo de pessoa do que uma jornada ou algo semelhante, alias não dá nem pra fazer esse comparativo entre essas adaptações.
Aqui acompanhamos o Arthur, um sujeito que tem problemas mentais, que tem ciencia disso, e que procura se tratar pra tentar se encaixar na sociedade,e ao longo do filme uma série de situações trágicas e violentas jogam ele no espiral grandiosamente decadente. Durante esse processo a sociedade de Gotham que ignora a figura do Arthur, passa a idolatrar a figura do Coringa, do Joker. E é nesse momento que o roteiro do filme como um todo, passa a dialogar e critica a nossa sociedade atual que passa a idolatrar esses tipos de figuras e alçar-los como celebridades,podendo ser políticos, presidentes e também como a mídia mostra essas questões e como o povo vendo isso passar a adorar esse tipo de comportamento.
O vilão nesse sentido e ao longo do filme, mais que um ícone ele acaba sendo um fruto da nossa sociedade atual, que está caminhando a uma regressão gigantesca. É uma crítica pontuada e incisiva que por consequência incomoda quem ta assistindo, e aí é que vamos pra outra questão!
Seria a crítica do filme 100% clara? Essa que vos fala acredita que sim, mas acredito eu que diante dessa sociedade que vivemos é muito fácil as pessoas olharem pra essa figura do vilão é a enaltecer também ,por mais que esse não seja o objetivo do longa, já que a forma como o personagem é construído,faz com que a gente veja essas ações que tem um fundo tridimensional na construção desse emblemático personagem, mas em nenhum momento enaltece ou válida.
Até a própria violência que tem um grau impactante e nos pega de surpresa em vários momentos não são simplesmente gratuitas por serem altamente gráficas, tem todo sentido e fio pra narrativa. O roteiro também é muito sagaz em brincar com a nossa expectativa em achar pra onde a história está indo ou no quanto isso é real,no quanto isso é mentira e quanto isso pode se chocar! Sério eu sair da sala procurando meu chão depois do terceiro ato desse filme!
Apesar de não utilizar propriamente uma história de quadrinho, ainda sim a vários elementos de inúmeras HQs pra se referenciar sendo a maior em destaque Cavaleiros das Trevas de Frank Miller, inclusive a Gotham mais suja e idealizada de todos as adaptações da cidade no cinema. Outra referência artística está na fotografia e alguns momentos que lembram trabalho de Scorsese, como Taxi Driver e O Rei da Comédia( o personagem de De Niro no filme é quase uma representação desse filme) e claro as referências ao universo do Batman. A trilha sonora tem ser reverenciada já que ela nos coloca no clima intenso que o filme vai nos inserindo.
O elenco apesar de todos estarem bem em seus papéis, o grande destaque está no Joaquin Phoenix que faz, se não a sua melhor atuação, uma de suas melhores da carreira,e olha que estamos falando de um ator que sempre carregou um alto nível. Ele constrói uma figura com bastante tridimensionalidade, sendo frágil e quebradiça tanto por fora quanto psicologicamente, lembrando muito traços do que ele já tinha feito em O Mestre e Você Nunca Realmente Esteve Aqui pra montar a persona do Arthur Fleker/ Coringa. Sua risada é dolorosa, sofrida sendo um fruto de como o mundo o fez reagir, tanto pelo seu transtorno, Phoenix realiza de forma sensacional e com certeza seu nome pra careca dourada já está em curso.
Bom, pra encerrar esse longo bate papo com vocês, posso dizer que Coringa é uma das melhores coisas de 2019 e uma das mais maduras adaptações já feitas na história do cinema, sendo desde de já um novo marco para o cinema desse gênero, sendo único,vibrante e incômodo por apesar de se tratar de personagem em quadrinhos tem muito a nos dizer atualmente.