Em Morando com o Crush, Luana (Giulia Benite) e Hugo (Vitor Figueiredo), dois colegas de escola que secretamente estão afim um do outro, precisam manter seus sentimentos escondidos quando Antônia (Carina Sacchelli), mãe de Hugo, e Fábio (Marcos Pasquim), pai de Luana, decidem iniciar um relacionamento e morar juntos. Dirigido por Hsu Chien Hsin (Licença para enlouquecer, 2024) o filme é o puro suco da ficção adolescente e facilmente teria um livro por trás.
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Filmes adolescentes possuem uma fórmula e apesar de um deslize aqui e ali em seus roteiros – em prol do exagero contido e a realização de fantasiosas de algumas situações -, a verdade é que essas fórmulas funcionam bem para seu público. Isso torna o filme divertido, cativante e eles ganham um toque extra de primor quando conseguem tocar em temas mais sensíveis em meio ao enredo romântico. E é exatamente o que Morando com o Crush faz.
Dois jovens que estão afim um do outro, pais que de repente contam que estão em um relacionamento e decidem morar juntos em uma cidade pequena, bem longe do agito das cidades centrais… Isso torna o amor deles proibido, ainda mais com a cidade inteira achando que eles são irmãos – detalhe que torna a história interessante de uma forma estranha, porque é nitidamente um roteiro nada sutil, que força a história deles serem irmãos através de várias situações e personagens, sem dá muita margem para outra coisa.
O que mais me surpreendeu no filme foram os temas sensíveis que ele optou por abordar, como alimentação saudável, luto, carreira e o medo de engravidar – não o medo de uma gravidez na adolescência, mas sim o medo de possíveis dificuldades no parto. Isso é um meio spoiler, mas acho importante destacar aqui para mostrar que os filmes teen, cada vez mais, têm buscado colocar diferentes questões em pauta – para além das confusões e romances esperados nesses filmes.
Os assuntos são tratados com sutileza e gentileza, tornando clara a intenção de abranger o maior público infantil possível, o que se mostra claro com sua classificação 10+. A atuação dos atores, claro, ajuda demais nisso, principalmente a interação entre os pais e os filhos, pois houve o cuidado de mostrar que os dois protagonistas foram criados de formas diferentes, a proximidade que cada um tem de seus pais e mostrando que é possível que pessoas tão diferentes podem formar uma família, desde que façam concessões e realizem mudanças que todos aprovem.
Outro ponto positivo do filme é a forma sutil que ele mostra como cada novo membro dessa família é uma boa adição, sem forçar a barra com a ideia “pai, mãe ou irmãos substitutos”. São pessoas novas na vida de outras pessoas, e todos têm algo a acrescentar nesse convívio, ainda que nem tudo sejam flores. No meio disso, o romance criado entre Luana e Hugo vai crescendo da mesma forma que em qualquer outro filme, só que longe dos olhos dos outros, até que, claro, chega ao ponto de ruptura, como já era esperado… Mas não demora para tudo ficar bem de novo, e esse é outro ponto interessante da história.
Para além de alguns acontecimentos, é perceptível como a história, além de tudo, quer mostrar a importância do diálogo não apenas jogando vários mal entendidos na tela e escancarando que tudo se resolveria se os personagens tivessem conversado. Claro, existem passagens assim, mas há o contraponto: depois de um breve choro ou irritação, alguns problemas se resolvem com uma boa conversa na cena seguinte. Não fica tudo maravilhoso de imediato, mas há esse respiro de “conversamos sobre”.
Morando com o Crush tem seus altos e baixos na história, mas acho que a única coisa que incomoda de verdade é a fácil aceitação do relacionamento dos dois jovens por parte dos pais, “mas já era o final do filme, ele tem que acabar feliz”… A sensação é bem essa. Não há nenhuma espécie de conflito nesse sentido e é quando você percebe que existe um limite para concordar com a aura good vibes de alguém. Apesar disso, é um filme que, sem dúvida alguma, vale muito a pena assistir, em especial com os mais jovens.
O longa chega aos cinemas de todo o Brasil no dia 23 de maio de 2024.