‘Jogo de Espelhos’ narra as dificuldades da adolescência sem tantos clichês

João Fagundes
5 Min de Leitura

Dizem que “duas cabeças pensam melhor do que uma” e nesse caso até mesmo para um livro essa premissa funciona. “Jogo de Espelhos” é resultado da participação conjunta da atriz, modelo e cantora Cara Delevingne, estreando como autora nesse lançamento da Editora Intínseca, que contou com a colaboração da autora veterana de best-sellers como “O Diário de uma Vida Perdida na Memória“(2015) Rowan Coleman. Narrar os problemas de adolescentes tão diferentes não é tarefa fácil, mas existem muitas situações para serem abordadas.

O que você vê quando se olha no espelho? Para o grupo de jovens Red, Leo, Rose e Naomi pode ser algo trágico e que não parece ter reparação. Crescer se torna insuportável quando guardamos segredos que pesam mais do que podemos suportar. Tudo poderia ter um fim traumático se esses 4 adolescentes não chegassem a se conhecer através de projeto do colégio que os incentivaram a criar a banda Mirror, Mirror e se tornarem amigos e buscarem a felicidade protegendo uns aos outros. A dificuldade de aceitação é algo presente desde o início da juventude, e aqui não é diferente, mas graças a essa união eles perceberão que os amigos são a família que escolhemos para nós.

Ainda que o tema seja recorrente entre livros Young Adult (jovens-adultos), o livro consegue se manter interessante por apresentar certos mistérios e sua cota de romance. Um dos acertos foi trazer o que de fato une os jovens de hoje em dia, que é a música, sendo um instrumento de prazer para que esqueçam por um momento as dores de relacionamentos, problemas familiares, vícios e outros. Dentre os personagens Naomi talvez seja o caso mais marcante, pois ela iniciará a trama com o seu sumiço inesperado. A partir desse acontecimento podemos lembrar do livro de John GreenCidades de Papel” que Cara interpretou nos cinemas. Ainda que existam semelhanças, são bem tímidas e não comprometem o conteúdo final de ambas as histórias.

O título é condizente com a ideia proposta pelo livro, sendo a razão para entendermos que muitas vezes esses jovens passam uma imagem diferente da que são para o mundo, e toda a raiva e frustração são descontadas em uma atitude que serve de válvula de escape, mas tudo muda com um passatempo mais saudável que os manterá firmes até a conclusão da obra. Algo que está muito presente é a ideia que a família desestruturada é a razão para tais acontecimentos, ou seja, pais separados, madrastas/padrastos e relações complicadas entre irmãos, mostrando que de certo modo, tudo vem de uma mesma origem que se soma com as experiências que cada jovem encontra pelo caminho.

A obra terá muitos momentos de emoção, fazendo qualquer um reviver seus tempos de escola. Algo que deixa a leitura ainda mais emocionante é o fato da história ter em suas paginas a dinâmica dos aplicativos de celular, seja foto do instagram ou mensagens trocadas pelo Whatsapp, nos dando a impressão de que o conteúdo é real e estamos espionando o celular de alguém que queremos muito saber o que anda fazendo. Outro ponto positivo é o fato das autoras encontrarem uma forma de não dar mais de um personagem e menos de outro. Essa dosagem mostra que todos os 4 são protagonistas ao seu modo, sendo aceitos ou não. O romance é guardado para os momentos finais, então shippar não será tão fácil por aqui.

Encontraremos todas as respostas em um final satisfatório que nos fará não “julgar um livro pela capa”, já que a ideia de colocar o nome de Cara Delevingne em destaque funciona bem como marketing, mas pode perder muitos leitores que já chegariam com preconceito. Sabemos que não é fácil fugir de clichês quando falamos de adolescência, mas existe um esforço para fazer a diferença nessa obra. É um livro pronto para os cinemas, mas é tão vivo em cada palavra que talvez dispense adaptações. Por essa razão, “Jogo de Espelhos” é uma surpresa agradável e pode ser sim considerado um dos melhores lançamentos do ano. Se é difícil de acreditar, será melhor ler e tirar suas próprias conclusões.

Share This Article
Mais um Otaku soteropolitano que faz cosplay no verão. Gamer nostálgico que respira música e que se sente parte do elenco das suas séries favoritas. Aprecia tanto a 7ª arte que faz questão de assistir um filme ruim até o fim. É um desenhista esforçado e um escritor frustrado por ser um leitor tão desnaturado. É graduando no curso de Direito e formado no de Computação Gráfica. “That’s all folks!"
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *