Viuva Negra | Um aguardado e merecido aprofundamento da história de Natasha no MCU

Emile Campos
9 Min de Leitura
Marvel Studios/Divulgação

Demorou mais de uma década pra acontecer (se fomos pensar que seus direitos muito antes do MCU foram da Lionsgate e iria acontecer no inicio dos anos 2000 ai sim mais de 20 anos) mas Natasha Romanoff enfim ganhou seu filme solo e a Marvel está finalmente explorando o passado misterioso, dando à única mulher da equipe original dos Vingadores ainda que atrasada, os holofotes.

O filme é ambientado entre Capitão América: Guerra Civil e Vingadores: Guerra Infinita, quando os Acordos de Sokovia forçaram a equipe a se separar e reavaliar, embora os espectadores saibam que a equipe se reuniu (com Natasha permanecendo um membro firme). Viúva Negra faz a ponte entre uma Natasha mais mercenária, e a mulher que se jogou de um penhasco para que o Gavião Arqueiro pudesse sobreviver – apresentando-nos à sua “família”, seguindo sua missão de destruir a “Sala Vermelha” onde viúvas negras são treinadas e deixando claro que ela sempre teve escrúpulos em ser uma assassina treinada. Afinal, ela nunca teve escolha.

A produção é, em uma palavra, ambicioso. É um filme de super-herói, mas também um thriller de ação de espionagem, um drama familiar disfuncional, uma despedida, e esmagadoramente, um filme sobre a recuperação de abusos. Muito disso não parece um filme da Marvel, graças ao tom mais sombrio usado para contar a história de um programa russo que sequestra jovens garotas e as treina para se tornarem assassinas. Não há um evento catalisador que deu superpoderes a Natasha – nenhuma picada de aranha radioativa ,bomba gama ou soro de supersoldado. E Natasha já desertou para a S.H.I.E.L.D., embora os telespectadores tenham clareza sobre por que ela se juntou em primeiro lugar. O filme centra-se em afirmar por que ela continua no caminho do heroísmo, além de apenas escapar dos limites de sua vida passada. Embora se resolva com uma nota esperançosa, deixa um gosto de tragédia intensa para um dos Vingadores originais da Marvel.

Marvel Studios/Divulgação

Viúva Negra se beneficia de uma era pós-Ultimato que desbancou o Universo Cinematográfico Marvel de seu próprio formato, principalmente no Disney+. Com WandaVision jogando com a forma de sitcom e Loki servindo ficção científica de alto conceito, parece natural que a Viúva Negra seja estilizada como um thriller de espionagem no melhor estilo das aventuras de James Bond. O filme se passa entre locais internacionais, perseguições de motocicletas, missões de resgate e cenas de luta em bairros próximos que têm um verdadeiro senso de urgência e mortalidade. É uma boa volta dos filmes da Marvel cujos heróis podem se sentir imortais, ameaçados apenas por um vilão como Thanos e o poder das Joias do Infinito.

Natasha não é sobre-humana, mas sim a versão mais “otimizada” de um humano, e quando ela leva um soco parece que dói como o inferno. Quando ela luta com Taskmaster – que se sente algo mais sobre-humano, graças ao seu estilo de luta baseado em mimetismo – há uma sensação de perigo real. (Parte da diversão é reconhecer qual Vingador que Taskmaster está imitando, do escudo do Capitão América à posição de t’Challa de cruzar o braço.) O resultado é um raro filme da Marvel que se sente satisfatoriamente no nível da mais pé no chão, de uma forma Jessica Jones, enquanto ainda brinca com elementos de escala e super-heróis clássicos. O tecido do universo não se dobra e o tempo não muda, mas o filme é tratado com tecnologia pseudocientífica e futurista condizente com um mundo marvel espionado.

Viúva Negra é mais forte quando suas protagonistas, e para tudo isso funcionar, é claro, a Marvel precisou reunir um bom elenco ao lado da já conhecida Scarlett Johansson, e todos funcionam muito bem, com destaque para Florence Pugh como Yelena Belova. A dinâmica entre as duas personagens é um dos destaques de todo o filme e acrescenta até um inesperado tom de humor, já que Belova é ligeiramente irônica e mal-humorada. A intimidade entre as duas também nos faz querer saber mais sobre essa nova personagem, com a qual passamos a nos importar. Narrativamente, esse foi um grande acerto da Marvel: se por um lado já sabemos o destino de Natasha, agora a atenção se volta para o que pode acontecer a Yelena. Até mesmo o incômodo causado pelo exagero do Alexei de David Harbour parece proposital, para fazer os fãs se questionarem sobre a constante adoração aos super-heróis. Rachel Weisz completa o trio feminino, como o cérebro da operação.

Marvel Studios/Divulgação

Por toda a sua pirotecnia de ação inventiva,  Viúva Negra eventualmente aterrissa em território que se sente mais alinhado com o MCU. Ele passa por cenas que afirmam o tradicional senso de família encontrada da Marvel: a ideia de que a família é, quem você decide lutar, e um herói é alguém disposto a defender até mesmo aqueles fora dela. A “família encontrada” de Natasha dos Vingadores contrasta com sua “família” de espiões russos. As performances de David Harbour e Rachel Weisz de pais relutantes fundamentam o drama em emoções surpreendentemente relacionáveis. Já a figura do Taskmaster luta por relevância, enquanto o filme habita na bagagem da família, diminuindo à medida que sobe para seu confronto final entre Natasha e seu alvo: o homem por trás do programa Viúva Negra.

Apesar do tom auto-sério de Viúva Negra, lutas épicas ainda são marcadas com visuais muito literais de solidariedade. O filme pousa em uma versão mais sombria de resiliência, com a tolerância à dor da Viúva Negra e a resistência do sofrimento como fonte de força. Mas ao contrário de Bond, uma estrela de uma franquia com mais de 20 filmes fortes, Viúva Negra é um membro de longa data do elenco. Seu filme centra-se em sobreviver ao trauma e confrontar seu agressor- um homem que não é muito exagerado como Thanos, mas ainda se refere a jovens como o “recurso” mais surpreendente do mundo. Neste contexto, a força decorrente do sofrimento duradouro parece tão viscoso quanto trágica, um prego no caixão para o manuseio de super-heroínas da Marvel.

Marvel Studios/Reprodução

Enquanto a Viúva Negra elogia Natasha Romanoff como uma formidável, e trágica heroína, ela também intensifica o mau manuseio de Ultimato em sua despedida, e o nível desequilibrado de respeito dado aos seus pares masculinos. Pense assim: o sacrifício do Homem de Ferro foi honrado com um grande memorial. A Capitão América se aposentou e até se reuniu com Peggy Carter antes de voltar para casa, um velho. Ela ainda merecia um verdadeiro memorial.

O aguardado filme da Viúva Negra  abala a forma clássica de filmes de super-heróis. Estilizado como um thriller de espionagem, o filme aprofunda o misterioso passado de Natasha Romanoff como uma assassina treinada – abrindo-se sobre sua “família” e introduzindo um vilão inventivo, Taskmaster. Mas enquanto o filme é repleto de sequências de ação atraentes, ele luta para encontrar um equilíbrio entre ação e drama familiar, ainda é um longa do MCU queira bem ou mau. Ele finalmente captura Natasha como uma lutadora formidável com moral inabalável, e tornando sua despedida em Ultimato ainda mais agridoce. Ao menos temos a #JustiçaparaNatasha finalmente!

*Há uma cena depois dos créditos

 

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