James Mangold já um velho conhecido por fazer cinebiografia de estrelas do rock da década de 60, afinal em 2005 ela realizava Johnny e June, filme que mostrava o relacionamento de Johnny Cash (Joaquin Phoenix) e June Carter (Reese Witherspoon), rendendo um Oscar para a atriz e mais quatro indicações.
Agora em 2024, o diretor realiza com Um Completo Desconhecido, um longa que traz mais a musica ao foco e como seu protagonista mudou um rumo de um genero com uma brilhante atuação de Timothée Chalamet.
Situado no início dos anos 1960, no influente cenário musical da cidade de Nova York, Um Completo Desconhecido acompanha Robert Zimmerman, um jovem músico de Minnesota que adota o nome de Bob Dylan (Timothée Chalamet). Após conhecer seu grande ídolo do folk, o debilitado músico Woody Guthrie (Scoot McNairy), Dylan caminha rumo à sua ascensão artística, se tornando um dos maiores inovadores musicais do século XX, porém não antes de enfrentar pressões de relacionamentos conturbados e até de parceiros musicais que não encorajam sua inventividade.
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Como eu falei acima, Mangold já um velho conhecido por cinebiografia de icones do rock americano, aqui diferente da obra sobre a vida e carreira de Cash que era mais pautada em contar com freneticidade as relações, além de flertar com o rock n’ roll e adotar características do comportamento visceral do Rei do Country, aqui com Bob Dylan existe um rebuscado sentimento de complexidade amalgamado à calmaria e até mesmo a uma conduta passiva-agressiva para caracterizar a transição do folk clássico para um autoral contemporâneo. As relações humanas importam muito menos do que a arte e todos que orbitam sua vida ganham ou perdem valor dependendo do quanto isso impacta em sua arte.
Com isso a direção e roteiro, co-escrito por Mangold e Jay Cocks, a partir do livro de Dylan Goes Electric, de Elijah Walds tem como destaque e foco Chalamet e seu Bob Dylan. Da voz fanha até a forma de segurar um cigarro, o trabalho de Chalamet impressiona e hipnotiza a cada frame e mesmo quando o artista se mostra um babaca por algumas decisões, o ator consegue impactar a cada momento e justificar o porque mereceu a indicação ao Oscar.
Edward Norton está ótimo como Pete Seeger, um dos principais apoiadores de Dylan, e mostrado aqui como o grande mentor do cantor. Scooty McNairy também aparece ótimo como Woody Guthrie, já muito doente, quando Dylan o conheceu. O cantor e compositor inspirou Dylan a deixar Nova Jersey e foi sua referência no início da carreira.
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Porém o triângulo romântico entre Dylan, Sylvie (Elle Fanning) e Joan Baez (Monica Barbaro) é um dos pontos fracos do longa. Baseada em Suze Roto, a personagem de Fanning nunca mostra o real motivo para estar na história. Ela não funciona como impedimento para a carreira de Dylan, como um catalisador, muito menos para questionar qualquer tipo de comportamento do artista na história, além do que já sabemos desde o início: a paixão dele é a música. O mesmo se dá com Baez, que apesar dos momentos musicais e o grande talento de Barbaro no vocal como um chamariz, não há nenhuma grande novidade para sua personagem.
Um Completo Desconhecido é uma cinebiografia que faz jus a Bob Dylan ao oferecer um recorte específico de sua trajetória, focando em sua relevância para a evolução da música. Ainda não que não adapte de forma precisa os acontecimentos, o longa consegue captar sua essência de forma eficiente.