As Crônicas de Ardak: Reino de Drakeon é um livro de fantasia medieval lançado pela editora Pendragon em 2017. O gênero literário conquista leitores há anos, e é impossível não lembrar da influência de clássicos como Senhor dos Anéis (Tolkien, 1954) na literatura mundial. O jovem autor, João Pedro Consenza Maura, de apenas 19 anos, entra agora para uma lista crescente de autores de brasileiros que se aventuram por esse gênero.
João Maura nos apresenta a história de Joe Frost, um monge com poderes mágicos, que busca vingança contra o demônio que levou sua jovem e poderosa amada, Agatha. Joe possui uma aura que lhe permite criar e moldar o fogo, porém é um rapaz emocionalmente instável, por vezes perde o controle sobre seu poder, afetado pelo modo como se sente. Seu corpo não é imune às chamas que cria. Frost não é apenas uma ameaça aos seu adversários, mas também a ele mesmo.
O monge não possui uma rotina nada religiosa, e ,em meio à uma vida de brigas e bebidas, acaba nutrindo uma amizade peculiar e improvável com um necromante orgulhoso e um arcano calculista. Apesar das diferenças e desentendimentos, eles o acompanham em sua jornada cheia de reviravoltas com encontros inesperados.
A narrativa e os personagens criados neste universo se assemelham bastante ao imaginário construído a partir dos jogos de RPG. O gosto do autor por jogos como D&D se reflete na maneira como a história se estrutura. Tal influência pode ser observada da forma de descrição dos personagens, das suas lutas e estratégias, que seguem muito semelhantes aos princípios lógicos dos jogos nos quais eles foram criados de maneira coletiva com a ajuda dos amigos do autor, como consta nos agradecimentos.
Outra possível influência que pode ser observada ao longo livro é o desenvolvimento e apresentação das lutas e golpes que remontam bastante à animes clássicos, como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, pois ao mesmo tempo em que traz a carga de RPG no desenvolvimento das estratégias, probabilidade de acerto e danos, o autor desenvolve uma descrição de movimentos durante as lutas e golpes, que chegam a ganhar nomes, trazendo uma carga referencial ligada aos formatos explorados pelos animes.
Ao longo do livro ainda é possível notar que a forma de escrita é mais informal, o autor por vezes usa um vocabulário mais recente, ligado ao público mais jovem, e em alguns momentos passa a se referir diretamente ao leitor, na tentativa de criar uma espécie de diálogo mais íntimo.
Embora a evolução na escrita ao longo dos capítulos seja visível, alguns elementos na narrativa ainda remetem à inexperiência do jovem autor no começo da sua jornada como escritor. Há uma pressa muito grande para que o leitor desenvolva uma empatia, quase que instantânea, com os protagonistas, grande parte se suas motivações e background emocional são entregues muito cedo. As informações cedidas nas descrições dos personagens, que são dadas no início do livro, poderiam ser trabalhadas ao longo da trama, exploradas ao poucos para ajudar na criação de uma aura de mistério para a história.
O autor também acaba pecando em algumas situações no decorrer do livro, ao criar dispersões para o leitor, com contínuas interrupções no rumo da história central, para tratar de curiosidades não muito úteis para o desenvolvimento da trama, além de querer explicar constantemente elementos que deveriam ser investigados por quem está lendo. Esses fatores demonstram um pouco de afobação para despejar muitas informações.
O reino e a sociedade desenvolvidas no livro ainda não foram totalmente explorados, mas, apesar desses fatores, o jovem autor mostra um potencial a ser desenvolvido na criação de narrativas fantásticas e contribuindo assim para o crescimento e exploração do gênero no âmbito nacional. Não lhe faltará tempo para buscar amadurecimento neste domínio.