Tipos de Gentileza | Yorgos Lanthimos mantem sua estranheza natural em novo projeto

Danilo de Oliveira
5 Min de Leitura
4 Ótimo
Crítica - Tipos de Gentileza

O cineasta Yorgos Lanthimos, tem a excentricidade e estranheza em sua filmografia por natureza. Diferente de realizadores como Wes Anderson ou Paul Thomas Anderson que busca na sua excentricidade uma forma de homenagear algo, Lanthimos, está para provocar e refletir sua a natureza pessimista da humanidade em muitas de suas obras através do humor acido ou um clima deprê. Os claros exemplos estão em trabalhos como O Lagosta, O Sacrifício do Cervo Sagrado, A Favorita e seu ultimo Pobres Criaturas.

Depois do sucesso de Pobres Criaturas, uma obra que bebe da reimaginação feminina de Frankstein de Mary Shelly pra nos mostra sobre a emancipação feminina na sociedade assim como nos entender sobre o que é uma vida que vale a pena ser vivida, seu novo projeto que traz Emma Stone (sua terceira colaboração seguida com o diretor) Tipos de Gentileza é tudo menos gentil que entrega cinismo com três historias surpreendentes e bizarras ao mesmo tempo.

Seachlight/Reprodução

Na primeira história, Jesse Plemons interpreta um homem cuja rotina de vida é pré-determinada pelo personagem de Willem Dafoe. O que comer e beber, o horário para ter relações sexuais e o pedido ainda mais estranho de colidir o seu automóvel contra o de um estranho. Na segunda história, Jesse é um policial atormentado com o fato de que a esposa resgatada (Emma), após ser dada como desaparecida, não parece mais ser a mesma pessoa. Na terceira história, Jesse e Emma participam da seita liderada por Willem na procura de uma pessoa que tenha poderes milagrosos de reerguer os mortos. Todas estas histórias, mal ou bem, estão relacionadas com o misterioso R.M.F. (que intitula todos os segmentos).

Após assistir, Tipos de Gentileza, percebemos que Lanthimos queria sair um pouco dessa vibe mainstream trazida por Pobres Criaturas e voltar as suas raízes mais excêntricas de sua narrativa, que não deixa de mostrar ousadia por parte dele por trazer três historias tão bizarras e independentes que causam estranhezas por trazer o mesmo elenco nos diferentes segmentos.

Em “A morte de R.M.F”, primeira fábula do filme, Lanthimos elabora uma contundente crítica com bases filosófica, sobre como o mundo corporativo adestra as pessoas para agirem de acordo com suas diretrizes, que com a narrativa do diretor ganham contornos de tragicidade cômica.

Seachlight/Reprodução

Na segunda história, “R.M.F está voando”, Lanthimos abraçar princípios do body horror, e é beneficiado por uma atuação enfática de Jesse Plemons e com momentos bizarros e grotescos (os mais tensos e fortes do longa) para o bem ou mal dos espectadores.

Em “R.M.F come um sanduíche”, último conto – e talvez o mais absurdo. O enredo mimetiza uma espécie de seita religiosa, onde os fiéis buscam se purificar da “contaminação” do mundo. Em busca pela mulher perfeita, capaz de ressuscitar os mortos com um simples toque, a personagem de Stone se sobressai aqui, sendo uma pessoa sem escrúpulos para atingir seus objetivos, o que gera os momentos mais intrigantes e porque não dizer bizarros de toda obra.

Alias, Lanthimos não poderia ter um elenco mais proposto a suas bizarrices que o quinteto composto por Emma Stone, Jesse Plemons, Willem Dafoe, Margaret Qualley e Hong Chau arrasam e se entregam aos diferentes personagens que fazem nas historias. Plemons se destaca nas duas primeiras historias, enquanto Stone rouba cena na terceira e ultima.

Seachlight/Reprodução

Repetindo a parceria com o diretor de fotografia Robbie Ryan, o mesmo de Pobres Criaturas e A Favorita (2018), o cineasta volta a experimentar o uso do preto e branco em Tipos de Gentileza, especialmente em momentos de sonhos e flashbacks dos personagens. O requinte técnico, aqui parece menos pomposo aqui, mas parece proposital, visto que o diretor parece fazer do longa seu filme sabático pós o hit que foi o anterior.

Pra finalizar, Tipos de Gentileza é uma obra que não foi feita para todos os públicos, quase que feita para os fãs do diretor. Lanthimos utiliza da ironia e do humor acido, unidos a sua excentricidade para criticar um mundo egoísta e por muitas vezes pessimista de ver, onde a tal da “gentileza” não é o que parece ser. Um projeto menor do realizador que revisita suas origens mais antigas, antes de talvez mergulhar em algo mais ambicioso.

 

Crítica - Tipos de Gentileza
Ótimo 4
Nota Cinesia 4 de 5
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