Depois de mais de uma década reinando em um universo glorioso como diria Thanos, a Marvel viu seu prestígio cair com produções irregulares que fez suas fases 4 e 5 balançar na corda bamba do público e da crítica.
Em 2025, após um morno Capitão América: Admirável Mundo Novo, Thunderbolts* parecia ser mais um projeto da Marvel a ser chamado de mais um entre as irregulares produções atualmente, mas como não quem esperava, a equipe de desajustados se faz uma aposta surpreendente que nem foi Guardiões da Galáxia em 2014. Um filme que explora muito mais sua equipe e seus traumas que propriamente ser um filme de heróis, ainda que tenham que salvar o dia. Um grande frescor para um estúdio que estava sofrendo com a inconstância que estava suas produções nos últimos anos e para um gênero que ano após anos se desgasta.

Thunderbolts* é centrado no retorno de Yelena Belova (Florence Pugh), que está sem motivações ou propósito, principalmente após a morte da irmã, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) em Vingadores: Ultimato. Atualmente, a ex-Viúva Negra trabalha em missões clandestinas para Valentina (Julia Louis Dreyfus) – que, por sua vez, está sendo investigada pelo governo por seus projetos ilegais. Dentre aqueles que estão preocupados com as ações dela está Bucky Barnes (Sebastian Stan), agora um congressista.
Até que Yelena se encontra numa missão que a coloca frente a frente com John Walker (Wyatt Russell), Fantasma (Hannah John-Kamen), Treinadora (Olga Kurylenko) e o misterioso Bob (Lewis Pullman). Inicialmente inimigos, terão que se unir em um desajeitado grupo para sobreviver. Adicione ainda nesta história o pai de Yelena, Alexei (David Harbour), que sonha em voltar aos tempos de glória do Guardião Vermelho e tem um relacionamento conturbado com a filha.

Em tese, Thunderbolts* cumpre todos os requisitos da suposta “fórmula Marvel”: tem grandiosas cenas de ação e momentos descontraídos (a maioria através do Guardião Vermelho). Porém, o grande trunfo é como o tom do filme se distancia dessa imagem colorida e animada que ficou associada ao estúdio.
O longa de Jake Schreier (Treta) surpreende por trazer em seu texto uma abordagem sobre traumas e saúde mental, algo que apesar de não ser inédito na franquia, visto Wandavision ou Guardiões da Galáxia Vol 3 faz todo o sentido aqui para seus personagens.

Cada um dos personagens carrega um peso dentro de si. Um Vazio. Que é justamente um dos grandes antagonistas da obra. O Vazio, a outra personalidade de Sentinela. Thunderbolts brinca muito com o literal e o figurado, como se o inimigo estivesse fora, mas também dentro deles o tempo todo. É uma analogia que pode se tornar até clichê, mas aqui é uma ação literal sobre como ter uma comunidade de apoio pode salvar vidas. Aliás, se não fosse um filme em um universo de heróis, poderia facilmente ser sobre terapia em grupo.
O roteiro de Eric Pearson (Viúva Negra) e Joanna Calo (O Urso) sabe que enfrentar o vazio existencial e literal que cobre a cidade de Nova York não vai depender apenas de uma surra.

Aliás tudo aqui em Thunderbolts é balanceado. Não é leve ao ponto de cair na galhofa, mas também não tão sombrio. Tudo é feito de modo balanceado e funcional como já dizia novamente Thanos. Entendemos a angústia de Yelena, a crise de Sentry com o Vazio e a crueldade desmedida de Valentina do ponto de vista das vítimas, mas também dela com seus propósitos.
Ainda que traga uma equipe para explorar, é fato que Thunderbolts atende pelo destaque central em Yelena Belova e Florence Pugh. Entregando seu melhor trabalho com essa personagem neste filme, a atriz expressa o sofrimento e a relutância de Yelena, ao mesmo tempo que ela carrega um pouco de ternura e humanidade.

Junto com um surpreendente Lewis Pullman e seu Bob, a conexão é ótima. Pullman e seu personagem apresenta diversas reviravoltas na trama e o ator apresenta as diferentes facetas dele com convicção – algo que vai desde a fragilidade até uma confiança fatal.
A relação de Yelena com Alexei, com um elo entre pai e filha que transita entre drama e comédia é também muito bem explorada e com um David Harbour empolgado a cada frame. Sebastian Stan tem seu Bucky pouco tempo para ser explorado, mas tem créditos por já conhecemos sua faceta desde o início do MCU. Já Ava e John Walker apesar de explorar seus traumas, tem muito pouco tempo para passar um gosto maior para o público.
Pra finalizar, Thunderbolts* é o frescor que a Marvel precisava. Um filme que entende que menos é mais, ao se focar somente em sua história e seus personagens com começo, meio e fim, ainda que apresente coisas para o futuro do seu universo. Ao final da sessão fica a impressão que era o filme que eu não pedi, mas que entregou tudo aquilo e mais um pouco que eu nem esperava! Obrigado Marvel!
* E não sai da sala que o filme tem duas cenas pós créditos!