Criado em meados dos anos 80 pelo autor polonês Andrzej Sapkowski, a série de livros The Witcher conquistou seu pais com seu universo riquíssimo de brigas palacianas, segregação racial entre outros que acompanha na história do protagonista Geralt de Rívia.
A série de livros só ganhou o mundo quando a CD Projekt Red adquiriu os direitos e adaptou para os games em 2007 e o grande boom se complementou em 2015 com o terceiro game que é considerado por muitos um dos melhores dessa geração de consoles. Pegando essa vibe e com o fim de uma outra série de fantasia que contagiou o grande publico (Game of Thrones) a Netflix que não é boba e cada vez mais investe em conteúdo original, trouxe uma série live action baseada nos livros feitos por Sapkowski. Estrelada por um Henry Cavill super comprometido e um elenco empenhado a primeira temporada chega ao serviço prometendo cativar o grande publico com esse universo.
A trama da série se foca em Geralt (incrivelmente interpretado por Henry Cavill) um witcher, um guerreiro modificado por rituais quando criança, altamente habilidoso em combate, que presta serviços de matador de monstros e outras criaturas mágicas para quem precisa (e paga). Sua jornada também se cruzará com Ciri (Freya Allan), princesa do Reino de Cintra, que está destinada ao bruxo pela “lei da surpresa” e Yennefer (a maravilhosa Anya Chalotra), uma poderosa feiticeira.
O Geralt de Cavill é um dos três pilares narrativos desta primeira temporada,que usa os dois primeiros livros O Ultimo Desejo e A Espada do Destino, sendo os outros dois as personagens Ciri e Yennefer. O trio começa em pontos cronológicos diferentes,já que os dois livros são coletânea de contos espaçados, que vão avançando na narrativa até se mesclarem. Esta escolha se prova um exercício narrativo um tanto que instigante,e que pode causar uma certa confusão nos não iniciados na franquia. A opção surge para condensar de uma maneira mais adaptável, algo que nos livros é apresentado com mais detalhes de informação mas fora de cronologia, portanto o ponto de mergulhar na série para conhecer seu material rico fica para seu grau de gostar de sua estrutura narrativa.
Enquanto o arco do protagonista se foca mais em seus serviços e aventuras pelo Continente, com direito a abordagem de temas como segregação racial (os bruxos por serem mutantes, são desprezados por muitos humanos), natureza da maldade e escolhas. O arco de Yennefer é com certeza o mais cativante. Os elementos trazidos à série,adaptando informações inéditas aos livros, não só enriquecem e encorpam o lore deste universo como também oferecem uma boa amostra das motivações da personagem. Há um histórico de abuso e desprezo em seu passado que traz uma complexidade tocante à feiticeira, tornando ela uma mulher obcecada em seus objetivos e bastante complexa e humana. Seu monologo em um dos episódios é incrível como ela descreve o ser feminino em meu a como sociedade as enxergam e querem que sejam, isso tudo somado a atuação primorosa e imponente de Chalotra, uma grata surpresa que queima a língua de muitos fãs que torceram o nariz para sua escolha para ser a feiticeira.
O arco da Ciri basicamente se passa em busca de Geralt, que ela nunca conheceu, mas sabe que seus destinos estão conectados. Ao mesmo tempo que procura o bruxo, ela precisa fugir das forças nilfgaardianas, que demonstram interesse nela não só pela sua posição política de princesa, mas por elementos sobre-humanos ainda não explorados. Apesar de algumas problemas em adaptar o seu arco dos livros para as telas, a jovem atriz Allan é ótima e faz render as poucas cenas que tentam explorar suas camadas emocionais.Contudo a personagem irá crescer bastante nas próximas temporadas e com certeza a Ciri vai conquistar muito o publico, aguardem!
A introdução do bardo Jaskier (Joey Batey) traz um bom alívio cômico assim como um carisma necessário que equilibra bem a sisudez de Geralt e entrega canções verdadeiramente agradáveis(e grudentas como o titulo de nosso texto)) junto com algumas pistas sobre o posicionamento cronológico dos personagens. Sua presença no quinto episódio aumenta a sensação de uma clássica aventura de RPG e auxilia na entrega de um final marcante.
Outro ponto a se destacar está em suas cenas de ação. The Witcher, traz cenas de lutas incrivelmente coreografadas e Cavill incorporou com vontade o espirito do Geralt realizando todas elas e mostrando todo comprometimento no personagem. O ator incorpora tão bem que até a voz ele encontrou um tom bastante parecido com o dublador do personagem no game. As cenas de batalhas também estão de encher os olhos, a unica que alguns momentos pecou para mim são alguns CGi que não foram tão bem inseridos em cena, mas até relevo já que uma segunda temporada um orçamento mais generoso pode resolver esse problema.
The Witcher acerta bastante em sua primeira temporada e na intenção da Netflix em criar um universo na TV tão marcante quanto outras séries épicas, e trazendo elementos próprios o suficiente para ter voz, especialmente na forma como ordena os contos em uma única trama. Essa estrutura traz uma dinâmica num tanto rara em produções medievais, e mostra que o foco aqui não é nos adventos políticos ou em grandes eventos, mas sim em seus personagens. O começo pode ser um tanto confuso para quem não conhece, mas pode ter certeza que o universo de Sapkowski foi bem iniciado e só tem a melhorar graça ao carinho e entendimento profundo de sua showrunner e seu elenco afiado. Dê um trocado pro seu Bruxo!