Há 10 anos Homem de Aço iniciava o anunciado DCEU, universo compartilhado de filmes da DC semelhante ao que a concorrência havia estabelecido. O longa de Zack Snyder, conseguiu fazer uma boa bilheteria para o novo filme do Superman, embora houvesse uma certa divisão sobre seu ato final.
Em 2016, Batman vs Superman: A Origem da Justiça continuava o universo e apresentava os membros da Liga da Justiça. O filme teve uma divisão imensa de público e crítica e praticamente gerou a ruína do universo compartilhado por parte da Warner Bros que começou a ficar sem uniformidade a partir de então. Foi aqui também que apareceu pela primeira vez o Flash do Ezra Miller, que só agora em 2023 finalmente ganha seu filme solo.
O longa se tornou o filme evento da DC no ano, principalmente após o anúncio no início do ano do novo planejamento de filmes compartilhado agora sobre o comando de James Gunn, e ele seria encerramento/reinício do DCEU. Mas será que ele realmente entrega tudo que espera e foi falado? Eu posso falar que ele é uma aventura que faz o que se espera de um longa de super-herói: uma aventura divertida, descompromissada, carregada de emoções e fan services, mas que derrapa em como colocar isso de forma orgânica e principalmente em seu terceiro ato, uma coisa que já é meio costumeiro da DC nos últimos anos nos cinemas.
A história do filme é baseada no aclamado arco “Flashpoint”(Ponto de Ignição no Brasil) das HQs, no qual o herói busca corrigir os eventos que mudaram sua vida de forma drástica, incluindo o assassinato de sua mãe e a injusta acusação de seu pai. Porém, ao interferir no tempo, Flash acaba preso em uma realidade alternativa, desencadeando uma série de acontecimentos surpreendentes.
O roteiro de Christina Hodson, que já colaborou com a DC no divertido Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (2020), tem como seu maior êxito explorar as nuances do herói por trás do uniforme de Flash. Seja salvando vidas antes de tomar café da manhã ou tentando desenvolver suas capacidades sociais no trabalho, Barry Allen está sempre correndo contra o tempo, como se ele quisesse vencer uma corrida cujo único oponente é ele mesmo. Usando o humor para mascarar suas inseguranças, o super-herói mais rápido, vive se agarrando a idéia de encontrar um jeito de buscar a inocência de seu pai, preso injustamente por “matar” sua esposa e mãe de Barry, Nora Allen.
Ao descobrir que pode viajar no tempo, o protagonista por impulso de corrigir tais injustiças, acaba voltando e ao mudar certos eventos acaba preso em uma linha do tempo criada por sua alteração e precisa achar um jeito de corrigir tudo e voltar.
Andy Muschietti se preocupa em desenvolver esse conflito interno do personagem(algo já realizado com exito pelo diretor em It A Coisa), fazendo a clássica jornada do herói de uma forma um pouco diferente, já que o herói não necessariamente precisa aprender sua jornada diante de uma ameaça vilanesca,mas sim por ele mesmo. A ameaça externa fica mais isolada,e o psicológico e o conflito interno é o grande foco.
Contudo, se esse foco psicológico é o cerne mais positivo da questão do roteiro, ele sofre uma inconstância devido ao não equilíbrio do humor e o drama. Sim há vários momentos divertidos que o público irá gargalhar principalmente na interação dos dois Barry Allen. O problema é que esse segundo ato, a história sofre um pouco por estender demasiadamente em sua estrutura e o equilíbrio do humor e o drama envolvendo o protagonista acaba oscilando.
Outro problema é seu terceiro ato carregado de CGi. Um problema já conhecido da DC nos últimos anos e por querer entregar algo insano e empolgante acaba prejudicando com alguns efeitos mal acabados e muita computação gráfica que chega a lembrar videogame. Ao menos a resolução do vilão eu acho muito interessante e lembra até o momento do primeiro Doutor Estranho.
Outro ponto a destacar é o uso da nostalgia. Sendo uma celebração ao universo DC nos cinemas, o público que já curtia os heróis desde o primeiro Superman de 78 terá emoções a serem vistas, contudo o uso aqui parece ser algo demasiado em muitos momentos, algo que pra mim é um dos pontos negativos de se usar esse tipo de elemento (vide o último Jurassic World).
Mesmo com seus problemas fora das telas, Ezra Miller se mostra aqui um baita ator e consegue imprimir todo os dilemas internos do seu Barry Allen. Até seus trajeto cômicos em vários momentos arrancam risadas do público e junto do roteiro ele é o foco do projeto, mesmo com dois Batman e uma Supergirl, o filme não é um Liga da Justiça 2.0 e sim um filme do Flash graças a ele.
Ben Affleck está mais solto e a vontade no seu Bruce Wayne/Batman mesmo com o pouco tempo de tela. Já Michael Keaton é o outro destaque do elenco e rouba a cena em suas aparições. Seu amor ao personagem está estampado na cara e frases e ele é o Batman! Sasha Calle mesmo com o pouco tempo de sua Kara Jol-El compõe bem sua personagem com emoção e fúria.
Pra finalizar, The Flash pode não ser tudo o que foi falado durante a sua exibição na CinemaCon, mas ainda sim é um bom filme. Respeita o personagem e entrega uma aventura divertida e clássica de super herói.
Obs: Existe uma cena após os créditos finais do filme!