É bem interessante como as comédias românticas sempre parecem utilizar de um lugar comum para mostrar nosso cotidiano amoroso.Mas claro que não estou dizendo que isso seja ruim, pois há varios exemplos de roteiros bem simples, mais muito cativante como Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro e outras.
A outra parte interessante é que esse gênero embora ainda tenha alguns filmes lançado, ficou pouco popular nessa década por sempre reciclar a fórmula de forma pouco inspirada, e algumas vezes não ser uma autentica comédia de gênero e acabar se subvertendo a outro estilo.
Por essas e outras Talvez Uma Historia de Amor,traga essa velha formula clichezona de forma competente, leve e divertida sobre o amor e suas variáveis inconstantes em nossas vidas.
O longa baseado no livro homônimo do francês Martin Page, retrata um recorte da vida de Virgílio (Mateus Solano), que ao chegar em casa, depois de um comum e rotineiro dia de trabalho, liga sua secretária eletrônica e ouve um recado perturbador. É a mensagem de Clara, informando o término do relacionamento dos dois, o curioso é que Virgílio não faz a menor ideia de quem é Clara. Por ser um cara todo metódico, ele não se lembra de ter se relacionado com ninguém com esse nome, mas todos ao seu redor perguntam sobre como ele está se sentindo sobre o fim do relacionamento, então Virgilio resolve descobrir, quem essa mulher “misteriosa”.
Se ele abusa dos clichês mais convencionais do gênero,o que não é ruim, tenho que afirmar, é na sua narrativa que está seu maior atrativo. Pegando desses “clichês” o filme “brinca” com a expectativa do público e assim nos apresenta uma história de amor bem humorada, mas sem usar de recursos pastelões ou apelativos bem recorrentes, principalmente nos longas nacionais.O diretor Rodrigo Bernardo opta por se inspirar em obras hollywoodiana(vide o ótimo Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças) para compor sua produção, de resultado extremamente requintado.
Seu grande diferencial é que o arco dramático apresenta uma história de amor, mas não vemos um casal em cena em quase nenhum minuto da projeção, o filme é praticamente um monologo de Mateus Solano, deslumbrante no papel de Virgílio,refazendo os passos dele pra tentar descobrir quem é essa tal mulher misteriosa e o por que dela ter terminado com ele.
Em paralelo à busca incessante por Clara, o diretor constrói também um punhado de situações visuais que tão bem ressaltam a personalidade meticulosa e conservadora de Virgílio. Todo o cenário é intencionalmente retrô, da TV de tubo ao rádio-relógio, do figurino antiquado ao próprio nome do personagem, ressaltando uma cuidadosa direção de arte alinhada ao roteiro. Soma-se a isto a boa fotografia de Hélcio Nagamine, especialmente nas cenas em que contrasta luz e sombras a partir de um capacete-lanterna, e uma trilha sonora que presta homenagens, do brasileiríssimo Charlie Brown Jr. ao eterno Frank Sinatra.
Nada disso seria possível se o personagem principal não fosse carismático, e sim ele é graças a como Mateus Solano dá riqueza ao Virgílio,trazendo camadas interessantes sobre transtornos, comportamentos metódicos e tiques.
Bianca Comparato e Marco Luque são dois outros atores que somam a parte mais cômica do filme. Otávio (Luque) age como o oposto de Virgílio, sendo um cara despojado, tranquilo e que não poupa esforços para ajudar o amigo nessa missão. Já Katy (Comparato), é uma jovem que apesar da rebeldia, demonstra doçura e afeto pela história do rapaz, e junto com suas maluquices de adolescente, encontra um meio de ajudar Virgílio. As cenas entre eles trazem esses constates de personalidade e se tornam hilárias. Além disso, nomes como Nathalia Dill, Juliana Didone, Totia Meirelles e a americana Cynthia Nixon, estrela de Sex And The City, complementam o protagonista, cada uma a sua maneira divertida de ser.
Talvez Uma História De Amor é um daqueles filmes aconchegante, divertido e simples. É daqueles que entram na nossa cabeça e faz a gente querer rever e rever… Tem lindos cenários, cenas coloridas e diálogos inteligentes. E, claro, mostra que amores são cheios de “talvez” que dão certos.