Um dos maiores clássicos do cinema italiano, Suspiria de Dario Argento, diretor de quem Alfred Hitchcock disse sentir receio de perder seu posto de mestre do medo na época,completa 40 anos em 2017 mas não envelheceu em nenhum aspecto, sendo uma obra que qualquer amante do terror deve parar um dia para desfruta-ló.
Ambientado na Alemanha, o filme conta a história de Susan Bannion (Jessica Harper), uma jovem americana que recebe um convite para ingressar como aluna na conceituada Escola de Balé de Escherstrausse, sede dos principais acontecimentos da trama. Chegando lá, logo na entrada, depara-se com uma jovem desesperada em fuga. Ao tocar o interfone, uma voz feminina alega que sua presença não é bem vinda e a manda embora. Somente no dia seguinte, após passar a noite num hotel, Susan finalmente é recebida pela diretoria da academia, a viace-diretora Madame Blanc (Joan Bennett) e a professora Tanner (Alida Valli), que dizem não ter conhecimento de quem possa ter sido a pessoa que a negou entrada na noite anterior.
À partir daí, vemos Susan interagir com as demais internas da escola, chegando a fazer amizade com Sara (Stefania Casini) e demonstrando interesse pelo jovem Mark (Miguel Bosé), também aluno que paga sua estada na escola prestando serviços gerais à diretoria. Ela também é informada que Patty (Eva Axén), a moça misteriosa que esbarrou nela na noite anterior, havia sido brutalmente assassinada, o que já a deixa receosa. Sua desconfiança aumenta quando ela passa a presenciar fatos estranhos dentro da escola, como barulhos à noite, vermes caindo do teto, indivíduos soturnos (como o mordomo ou uma das copeiras) e sensações ruins (chegando a desmaiar durante uma aula e, pouco tempo após, recuperando-se como se nada tivesse acontecido – e um misterioso sono que a faz acreditar estar sendo dopada), além do desaparecimento de sua amiga Sara (que havia alertado-a da presença maligna que ela sentia estar presente no prédio) que a levam a pesquisar sobre o local.
Durante suas investigações,faz contato com o psiquiatra Dr. Frank Mandel (Udo Kier numa pequena – mas importante – participação) e o Prof. Milius (Rudolf Schundler), autor de um livro sobre bruxaria, que a conta da lenda de Helena Markos, conhecida como “Rainha Negra”, poderosa feiticeira que havia morrido num incêndio quase um século antes naquele mesmo local, o que, aliado à morte de Sara, sua amiga, confirma suas suspeitas de que a escola é amaldiçoada, servindo como local de culto à antiga bruxa.
O roteiro é bem simples e sua abordagem ainda mais, entretanto sua força está em sua estética multicolorida.Argento cria um clima de tensão extrema baseado essencialmente nas imagens e nos sons.O diretor procura ignorar certos pontos “lógicos” e passar ao espectador uma atmosfera de pesadelo, oscilando entre o real e o bizarro, tudo em detrimento da construção de um clima de medo extremo.
O trabalho de cenografia é fantástico.Como falei acima, o uso de cores se sobressai e ganha vida, aliando precisamente com estilização nas cenas de mortes, que tem um uso sensacional de violência gráfica que dá impacto brutal e impactante as cenas, algo que viria a se tornar uma das marca do realizador.
A trilha sonora é outro “personagem”. Fugindo da quase predominante trilha clássica usada nos filmes de terror, Argento embala os grandes momentos de seu filme com o rock da banda Goblin, com uma musicalidade pesada perfeita complementada por “suspiros” e gemidos de dor ao fundo, apresentada sempre em tom crescente, nos conduzindo lentamente à agonia.Em alguns momentos é como se estivéssemos rodeados pelos demônios que dominam a instituição.
Suspiria é um verdadeiro espetáculo visual e um exercício de tensão muito bem orquestrado por Argento.A força das imagens que ele nos passa é tamanha que até mesmo o roteiro, um dos pontos-chave de um filme, e as atuações chegam a ser, em dados momentos, irrelevantes. E conseguir isso é um mérito de poucos.Somente mestres conseguem e Dario Argento é um deles.