O Oscar sempre foi um prêmio com fortes tendências a insensatez. A premiação nunca resistiu a um filme musical, metalinguístico e/ou que autoexalte a América. Dentre todas as categorias, a de melhor canção original dificilmente fugiu dessa lógica da academia de dar o título a escolha mais óbvia, mas feita para ganhar o Oscar. Foi assim quando, em 2012, “Man or Muppets”, do filme “Muppets”, ganhou o prêmio de melhor canção contra “Real in Rio”, faixa composta por Carlinhos Brown para “Rio”, ou ainda quando “Till it Happens to You” perdeu para o Sam Smith e sua insonsa “Writing’s on the Wall” (007).
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O jogo, porém, parece ter virado. Cada vez mais querendo afugentar a imagem de premiação de cartas marcadas que a campanha “Oscars so white” levantou para a missa solene do cinema, a escolha da academia nos últimos dois anos está sendo abrir e diversificar a cartela de premiados e indicados às estatuetas douradas. O resultado da mudança pode ser visto nas indicações de filmes como “Corra” e “Me Chame Pelo Seu Nome” a melhor filme, e a categoria de melhor canção original, que só tem trilha milituda concorrendo neste ano.
Cada indicado à categoria de melhor canção original deste ano carrega, a sua maneira e honrando a narrativa de seu filme, uma mensagem atual sobre diversidade. Da favorita da noite, “This is Me” de “Rei do Show”, que fala sobre autoaceitação até as trilhas de filmes sobre luta por igualdade racial representadas pelas canções “Mighty River” de “Mudbound” e “Stand up for Something” de “Marshall”, nunca um panteão de indicados foi tão plural e defendeu seus pontos.
A surpresa positiva da categoria ainda fica por conta de “Mistery of Love”, faixa de Sufjan Stevens que toca em um dos momentos chave da trama LGBT “Me Chame Pelo Seu Nome”. A trilha roubou merecidamente um lugar geralmente destinado para uma música genérica da Sia feita para uma animação. A categoria ainda fecha suas indicações com “Remember Me” música cantada por Miguel que serve de trilha para a animação “Viva!”, que exalta a cultura mexicana em pleno governo Trump. Não importa quem ganha o Oscar de melhor canção neste ano. Todas as faixas merecem estar onde estão e carregam suas mensagens sobre igualdade. O que eu realmente peço é um “milita mais que ainda tá pouco, @Oscar” com cara de “você não faz mais que sua obrigação, linda”.