Sense8 | O episódio final é uma amostra de tudo que a série ainda tinha para nos oferecer

Priscila Dórea
7 Min de Leitura

Primeiramente, é bom entender a situação de Sense8: mesmo sendo uma das mais populares séries da Netflix, foi pega na onda de cancelamentos que o serviço de streaming fez no ano passado. O motivo do cancelamento foi o alto custo na produção, principalmente por ser gravada em diversos países. Choramos, reclamamos e fizemos petição para que a série voltasse, mas a Netflix se manteve firme na cruel verdade: “Infelizmente não podemos”. Até que, quando já havíamos aceitado a dura realidade, um episódio final foi anunciado.

Com esse anúncio, a missão era transformar uma história de mais ou menos 12 horas, em um episódio de 2h30min. Por essa razão, muitos ficaram com um pé atrás, ainda mais considerando o tanto de personagens e tramas para desenvolver. Pelo lado positivo, ao menos teríamos um final para a história que, com o último episódio, deixou uma necessidade enorme de resolução.

No episódio intitulado Amor Vincit Omnia, a vida pessoal dos sensates é posta de lado, enquanto eles se concentram em salvar Wolfgang da OPB, assim como derrubar a organização e, com isso, proteger o futuro de todos os sensates do mundo. Uma pequena parte do roteiro se dedica a mostrar que os oito ainda têm uma vida fora da loucura que vivem com seus sensates, mas, infelizmente, essa vida pessoal deles foi o que sofreu o maior corte do roteiro.

Porém, considerando que queríamos mesmo era ver a treta sendo resolvida, podemos nos contentar com algumas perdas. A história se desenvolve dessa vez juntando aos poucos todos eles em um único país, para que com isso cobrisse o principal fator que causou o cancelamento. Isso deixou a maior parte da trama concentrada em Paris, na França e outra importante parte em Nápoles, na Itália. Países vizinhos, que um trem e carro já facilitava a vida de todo mundo.

Mesmo que suas vidas pessoais tenham sido postas de lado em detrimento do fechamento da intrincada trama principal, ainda era preciso fechar a trama pessoal de cada um. Com “trama pessoal” estou querendo dizer o lado afetivo deles, porque Sense8 foi criada para ser uma série de ficção focada em sentimentos e no amor livre. Quem, a essa altura, não percebeu isso precisa reassistir tudo outra vez. E mais uma terceira vez, só para garantir.

“Todos seremos julgados pela coragem de nossos corações.”

No entanto, isso só valeu para metade dos sensates. Para os mais ou menos resolvidos na vida amorosa, como Capheus, Lito, Will e Riley, a trama não trouxe maiores novidades. A história deles foi bem mais trabalhada nos outros 23 episódios, deixando esse extra apenas espaço para que Wolfgang, Kala e (amém!) Sun terem suas vidas arrumadas. Sabemos que Nomi é a queridinha das irmãs Wachowski – e de grande parte dos fãs -, então temos muito dela e de Amantina nesse final também.

Podemos sentir durante o episódio essa perda, essa coceira curiosa no fundo do cérebro que nos faz querer saber mais da vida deles, mas a sensação de perda é ainda maior na trama principal. Mesmo ela tendo ocupado maior parte de todo o episódio. Somos apresentados a vários segredos e mistérios dos sensates, como a Lacuna – uma espécie de velho conselho dos sensates -, e claro, a outros clusters. No entanto, tudo o que não temos é tempo para apreciar tudo isso.

Esse episódio dá um pedacinho de cada possível grande potencial na série: a trama envolvendo a Lacuna, os outros clusters, o que poderia vir da eleição de Capheus, a briga de Sun com o irmão, a derradeira mudança de mente da mãe de Nomi e por aí vai. Vemos até o potencial da Dany, em uma cena memorável dela com Milton.

O apelo dos fãs e a grande insistência da Lana Wachowski trouxeram esse episódio ao mundo. Não apenas para dar um final digno a Sense8, mas também pelo amor dos fãs, se a dedicatória final é qualquer indicação. Ele tira o fôlego em muitas partes e não perde em nada para a edição, fotografia ou trilha se comparado aos outros episódios. Ainda permanece com a excelência das Wachowski que, e isso é uma opinião minha, deve ter Sense8 como um de seus trabalhos favoritos.

O único real incômodo durante as 2h30min é perceber o quanto de história perdemos pela série ter sido cancelada. É realmente triste na verdade. Sense8 por si só se tornou um marco na história dos seriados pelo seu roteiro inovador e corajoso. Se contentar com esse episódio final parece pouco, mas vale a pena, se não pela excelente produção, pela mensagem que passa com seu título: Amor Omnia Vincit é parte do título de um quadro do pintor barroco Caravaggio, onde ele retrata o cupido e o amor vitorioso. Seu título completo, em latim, é Omnia Vincit Amor et nos cedamus amori, que traduzido para o português significa…

O amor vence tudo, vamos todos ceder ao amor!

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Jornalista e potterhead para toda eternidade, tem um amor nada secreto por mangás e picos de felicidade com livros em terceira pessoa. Além de colaboradora no Cinesia Geek, é repórter do Grupo A Tarde e coapresentadora do programa REC A Tarde.
1 Comment
  • Eu amei e não gostei ao mesmo tempo desse episódio porquê é Tããããão visível o quanto de história se perdeu, tanto na trama principal quanto nas tramas dos protagonistas, várias histórias não se resolveram, e várias revelações que tinham a maior cara de cliffihanger de final de temporada passavam que nem dava pra apreciar. Valeu cada segundo, mas tô muito triste. E considerando várias das grandes produções da Netflix, acho em algum ponto eles vão se arrepender de cancelar Sense8, porquê pouca coisa é tão boa quanto.

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