“E se o seu maior pesadelo ganhasse vida?” Um bom suspense psicológico pode usar essa frase e estaremos condenados até descobrirmos em que fim deu. O livro de estréia do autor paulistano Victor Bonini (“O Casamento” e “Quando Ela Desaparecer“) chegou em 2015 pela Faro Editorial, “Colega de Quarto” é um romance policial que não esconde o jogo na hora de chocar com suas peculiaridades e que foi o rol de entrada para os outros romances do mesmo gênero que o autor já era apaixonado desde a infância, já que aos 7 anos escolheu a franquia “Pânico” como tema da sua festa de aniversário. O que esperar da história que poderia acontecer no seu bairro, das ruas de São Paulo?
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A trama narra a vida de Eric Schatz, carioca que se mudou para São Paulo por conta do curso universitário, quando começa a perceber indícios de que há mais alguém frequentando o seu apartamento. Primeiro, um par de chinelos. Então, uma outra escova de dentes. Um micro-ondas que é ligado sozinho durante a noite, barulhos estranhos a qualquer hora e luzes que se apagam de modo misterioso. Até que, em determinada noite, Eric enxerga o vulto do “colega de quarto” entrar em seu apartamento pela porta da frente. Desesperado, o rapaz vai atrás de um detetive particular, mas parece ser tarde demais. Em menos de 24 horas, tudo acontece de modo acelerado e depois de uma ligação desesperada (cortada abruptamente), Eric despenca da janela do seu apartamento.
O romance nacional merece destaque pelas reações que nos causa com seus personagens inusitados que podem nos lembrar o porteiro do nosso prédio ou a mãe de um amigo nosso. É esperado que thrillers causem esse arrepio até que exista uma explicação lógica, já que sempre apostamos no sobrenatural ou no opressivo home invasion. Partindo de um mistério que passa por transtornos mentais, relações familiares complexas, personagens imperfeitos somados com seus vícios e ambições, e por fim… uma longa lista de suspeitos. “Há alguém inocente?”
Num total de 278 páginas sendo divido em três partes, temos a “Loucura” na primeira parte tomando as primeiras 100 páginas, servindo de apresentação do caso e personagens, já na segunda parte temos “Turvo“, onde se concentrará maior quantidade de pistas e segredos, havendo uma investigação digna de romances policiais “das antigas”, e a terceira e última parte “Lucidez” que é a revelação de todo o mistério e toma pouco menos de 50 páginas para que tudo seja esclarecido aos envolvidos na trama, e é claro ao leitor. Cada parte fará mais sentido com essa divisão, e seus capítulos breves (86 no total) tornam ainda mais fácil de ficar pouco tempo em cada parte.
Não se engane pelo título, a leitura é bem mais intensa que ele. A diagramação e a escrita em terceira pessoa facilita a leitura dinâmica e com uma história bastante inspirada em Agatha Christie e outros autores do gênero, é fácil entender que com uma trama um tanto simples, ele manteve um desfecho nada óbvio e mantendo um desenvolvimento da trama que cativa até mesmo quando descobrimos que é seu livro de estréia. Juntamente com “O Casamento“(2017) e “Quando Ela Desaparecer“(2019), este último que já contará com uma adaptação para uma série de 10 episódios, vemos o talento de Bonini dentro e fora do ramo literário. Grande obra para perder o preconceito com romances nacionais e obras de estréia.
O livro ainda pode ser encontrado nas livrarias e site da editora, sendo que já está em sua terceira reimpressão (2019) após anos na editora e com a chegada de outros lançamentos do autor. Atualmente Victor Bonini é um grande nome da editora, ainda que seja conhecido inicialmente com o seu trabalho de repórter na Globo, e que tenha recentemente pedido demissão para fazer mestrado nos Estados Unidos, é notório o seu esforço para ser sempre lembrado por mais de um de seus talentos. Força!