Resenha – Mentirosos de E. Lockhart

Willyam Nascimento
5 Min de Leitura

Sabe aquele livro que muitos estão comentando e quando você finalmente lê, não acha o porquê de tanto burburinho? Pois bem, Mentirosos é esse tipo de livro, mas com uma cativante narrativa.

Candace, a personagem principal do livro é quem nos narra a história e nos descreve sua família, os Sinclair, os quais passam todos os verões reunidos em sua ilha chamada Beechwood. Ela nos apresenta uma família rica com diversos problemas e que tenta ao máximo transparecer intocável, sem erros e perfeita. O que aparentemente faz mudar tudo é o “acidente” sofrido por Candace no verão dos quinze (como ela chama) no qual é encontrada na areia da praia com a metade do corpo dentro d’água e ferida.

O nome do livro vem da ligação muito especial que ela possui com Gat, um garoto que vem a ilha todos os verões e seus primos Johnny e Mirren. Os quatro são chamados de “Mentirosos” pelo motivo de causarem problemas na ilha durante os verões.

A narrativa da E. Lockhart é viciante e foi isso que me chamou bastante atenção. O modo como ela descreve a família Sinclair nos deixa cada vez mais curiosos para saber mais sobre eles. Ela faz uma verdadeira crítica às famílias ricas e que se agarram às velhas tradições.  Como são fúteis, comprando compulsivamente para obter alegrias momentâneas, manipuladoras, com membros interesseiros etc. Mas a autora sabe equilibrar bem essas questões com o acidente da Candece, que é o ponto principal da história. Ela conduz o leitor a vários relatos antes e pós-acidente que se entrelaçam de tal maneira que formam um bom clímax para a revelação do mistério.

E falando em mistério, a E. Lockhart pecou justamente nele. Entenda, eu sou daquele tipo de leitor que elabora mil e uma possibilidades para o acontecimento de um livro e não seria diferente em Mentirosos. Na metade da história eu tinha desvendado uma parte do mistério, e quando a autora finalmente revela o motivo da Candace perdido à memória e o que realmente aconteceu com ela eu não fiquei muito surpreendido. Além que tive a sensação que a autora ficou na maior parte do tempo descrevendo a família, a disputa por bens, o joguinhos do avô com as filhas para conseguir parte da herança, etc. Tudo acaba tendo uma relevância no final, mas senti o ar de mistério em poucos momentos na narrativa, por exemplo, quando ela questionava sobre o que tinha acontecido no verão dos quinze, porque seus familiares fugiam de seus questionamentos e quando ela tentava encaixar as memórias que vinha relembrando aos poucos. Faltou aquele ar inquietante, em que o leitor cria ideias para o que aconteceu e a autora vai aos poucos destruindo tudo o que você pensa, e reformula seus pensamentos.

Os personagens são bem construídos e desenvolvidos durante todo o livro. Cada qual tem sua importância dentro da história, até os cachorros da família.  A Candece até mesmo cria variações das histórias de contos de fadas baseada em sua família, o que nos mostra alguns aspectos peculiares entre a relação entre o seu avô com vários membros da família. É tudo subliminar mais acrescenta e muito na percepção que você tem dos personagens.

“A tragédia é feia e complicada, idiota e confusa.                                                                                 

 É isso que as crianças sabem.

E elas sabem que as histórias    

sobre sua família                                                                                                                                        

são ao mesmo tempo verdade e mentira                                                                                            

Existem infinitas variações.                                                                                                                      

E as pessoas continuarão a contá-las”.

Não se pode negar que Mentirosos seja um bom livro. Possui uma ótima narração, seus personagens são bem construídos e profundos em volta de um ambiente onde tradições, dinheiro, e aparências rege uma família rica. Contudo, a autora tropeça no desenvolvimento do seu mistério, passando a sensação de ser previsível em sua revelação e batendo em uma abordagem já utilizada por muitos outros autores.

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