Baseado em uma história real, Querido Menino (do título original, Beautiful Boy) é a estreia do belga Felix Van Groeningen no cinema em língua inglesa. O filme conta a dramática história de David Sheff, um pai que tenta lidar com o vício crescente de seu filho, Nic, nas mais diversas drogas. Mas, apesar do bom casting – David é interpretado por Steve Carell e Nic, pelo francês-americano Timothée Chalamet – a maior parte do filme não consegue cumprir a expectativa de realmente emocionar quem assiste.
Isso se deve, em grande parte, à atuação de Steve Carell. O ator parece deslocado em grande parte do começo da história, quando deveríamos estar nos ambientando com os personagens. Mas, se tratando de um ator que já havia demostrado competência em outros papéis dramáticos, também podemos relacionar o problema com a forma como foi organizado o roteiro: o telespectador é jogado de cara na história, em cenas rápidas que exigem emoção sem que ao menos uma empatia fosse criada com os personagens.
O começo do longa tem um foco maior no personagem de Steve Carell e sua forma de lidar com o vício em drogas do filho e seu impacto em sua nova família. Mas, principalmente a partir da cena onde David se recusa em continuar a tolerar os relapsos do filho, Querido Menino se volta com mais atenção aos sentimentos e à luta pessoal de Nic. A diferença se torna ainda mais clara ao lembrarmos que o filme é inspirado em dois livros, com dois pontos de vista distintos: Beautiful Boy: viagem de um pai através do vício de seu filho e Cristal na veia, respectivamente escritos pelos reais David e Nic Sheff.
Com o passar dos minutos, a estratégia de repetir cenas dramáticas até fazer a audiência chorar até começa a funcionar – os incessantes flashbacks para a infância do personagem de Chalamet, em contraponto à vida triste que vive o menino agora, conseguem arrancar lágrimas mesmo repetidos ao infinito; e a relação com os outros personagens, que ganham mais corpo quando chegamos perto dos créditos, também ajuda a construir uma conexão forte com a história sendo contada nas telas.
É uma cena com um desses personagens, por exemplo, que realmente captura a essência do que deve ser lidar com uma doença tão complicada dentro de uma família. Nela, a madrasta de Nic, Karen (Maura Tierney), persegue o menino depois que este invade a casa do pai para roubar dinheiro e comprar drogas – e a determinação e emoção no rosto da mulher, contrastados com o desespero de seu enteado ao se ver seguido, causam, sem querer, uma das cenas mais reais e tocantes de todo o longa. Quase como se, ao parar de tentar ser “um filme triste”, Querido Menino chegasse lá.
Alguns momentos mal construídos ainda podem irritar ou confundir um pouco os telespectadores, mas é difícil determinar se essas partes se devem a uma falha na adaptação do roteiro ou ao próprio conteúdo que os livros originais tinham – afinal, o que foi inventado para tornar a história mais palatável e curta para os cinemas e o que realmente aconteceu como descrito? O quanto sensações, sentimentos e discussões foram “mastigadas” para a audiência? O que fica é a sensação de que Querido Menino, concentrado em emocionar facilmente quem o assiste, não consegue alcançar o potencial que a história da vida real tinha.