Lançada no início dos anos 2000, a franquia Premonição sempre seguiu uma fórmula simples e eficaz: uma premonição salva um grupo de pessoas de um acidente mortal, mas a Morte – teimosa e metódica – passa a caçá-las uma a uma. Ao longo dos cinco filmes anteriores, essa fórmula oscilou entre momentos geniais (como o icônico acidente na estrada em Premonição 2) e repetições cansativas. Agora, mais de uma década depois do último longa, Premonição 6: Laços de Sangue chega com a promessa de refrescar a franquia. E consegue – com diversão, ao trazer generosas porções de sangue e humor macabro.
A história gira em torno de Stefani (Kaitlyn Santa Juana), uma jovem atormentada por pesadelos vívidos sobre um desastre ocorrido nos anos 1960. Ela vê um colapso trágico em uma torre com um restaurante no topo, onde desconhecidos – exceto por uma jovem chamada Iris (Brec Bassinger) – morrem de forma brutal. Logo, Stefani descobre que essas visões têm conexão com sua própria linhagem familiar, já que a jovem é sua avó e que, desta vez, o grupo de potenciais vítimas não é formado por adolescentes aleatórios, mas por seus próprios parentes. Quando as mortes começam a acontecer exatamente como em seus sonhos, ela precisa convencer sua família de que estão sendo caçados – e que talvez não haja como escapar.

O maior mérito de Laços de Sangue é sua tentativa de romper com a mesmice das sequências anteriores. Ao substituir o grupo genérico por uma família completa – pais, tios, primos e irmãos – o roteiro injeta uma dose de urgência e conexão emocional que a franquia há muito não via. Cada perda pesa mais, e o vínculo entre os personagens torna o perigo mais palpável.
A dupla de diretores Zach Lipovsky e Adam B. Stein entende perfeitamente o que os fãs esperam: mortes criativas, tensão crescente e aquele humor negro típico da série. E entrega com competência. A sensação de que tudo ao nosso redor pode ser mortal é uma ótima sacada da direção e do roteiro do novo filme. A sequência inicial na torre é absurda e espetacular, com direito a choques, quedas e caos culinário – tudo com um toque grotesco e cômico que funciona bem. Destaque também para a cena da ressonância magnética, que já nasce cult entre os fãs do gênero.

Outro acerto é a leveza bem dosada do roteiro, que assume o absurdo da trama com deboche inteligente. O humor macabro aparece como ferramenta narrativa, aliviando a repetição e tornando a experiência mais divertida, sem desrespeitar o elemento de suspense.
Por mais que tente renovar, Premonição 6 não foge de seus próprios clichês. A narrativa segue o caminho conhecido: uma premonição, mortes em cadeia, personagens lutando contra o inevitável. Em alguns momentos, o roteiro força situações apenas para avançar a trama, especialmente na tentativa de desenvolver o drama pessoal de Stefani, que não convence. Sua jornada emocional soa rasa e colocada apenas para dar direção à carnificina.

Outro tropeço está nos efeitos visuais. Algumas cenas, principalmente a sequência inicial e o clímax, dependem de CGI visivelmente duvidoso, o que tira parte do impacto das mortes mais complexas. Em uma franquia onde o visual exagerado é parte da diversão, falhar nisso é um tropeço que se releva.
Entre as maiores surpresas do filme está a homenagem ao ator Tony Todd, eterno William Bludworth. Mesmo fragilizado, o personagem retorna com destaque, encerrando seu ciclo de forma simbólica e tocante. É um gesto de carinho da produção para os fãs de longa data e uma maneira poética de eternizar uma das figuras mais icônicas da série e do cinema de horror.

Premonição 6: Laços de Sangue não reinventa a roda, mas a lubrifica com sangue novo, bom humor e um toque de nostalgia. É um retorno digno para uma franquia que nunca quis ser mais do que entretenimento macabro e exagerado – e é exatamente isso que entrega. Entre quedas, explosões e churrascos que viram armadilhas, o filme acerta ao entender que o verdadeiro protagonista aqui nunca foi um personagem, mas sim a própria Morte – cada vez mais criativa, debochada e sádica.
Para quem busca reflexão ou profundidade, Laços de Sangue pode decepcionar, mas se você chegou até aqui, claro que não poderia esperar isso mesmo né? Agora para quem quer rir (de nervoso), se surpreender e lembrar por que começou a gostar da série, esse sexto filme vale a pena. Afinal, às vezes, morrer pode ser… divertidamente inevitável.