O cinema espirita já se tornou um gênero bem visto e popular no Brasil. Obras como Kardec e Chico Xavier já ganharam suas biografias retratadas para os cinemas, e outras obras que são best seller estão a chegar em breve. Agora é a vez de contar a história de José Pedro de Freitas, mais conhecido como Zé Arigó, um dos mais populares figuras que ajudaram a difundir a medicina espiritual pelo mundo.
A trama mostra José Arigó (Danton Mello) era um cara comum de Congonhas do Campo, zona histórica de Minas Gerais. Ele tinha sua vidinha pacata como vendedor de um comércio até que sua realidade é transformada completamente após a visita do espírito do Dr. Fritz (James Faulkner), um médico alemão morto durante a Primeira Guerra Mundial que lhe obriga a aceitar a missão de ser seu instrumento para curar pessoas. De princípio, Arigó não quer isso, pois começa a perceber, já nos primeiros atos, que suas ações afetarão toda a sua comunidade e, principalmente, a vida de sua família com Arlete (Juliana Paes). Mas ninguém consegue fugir do destino, e, ao abraçar o seu, Arigó também desperta a fúria do padre local (Marcos Caruso) e dos cientistas e médicos da capital.
O roteiro de Jacqueline Vargas é bem perspicaz em contar de forma bem interessante a história de como o filme diz: uma importante personalidade de uma religião que, tivesse nascido em outro país, seria motivo de estudo, não de rechaço. Some isso ao o uso de recursos narrativos do terror para retratar as famosas cirurgias espirituais de José Arigó, e Predestinado é uma obra um tanto que unica a outras da cinebiografia espirita.
As cenas baseadas nas raras sessões gravadas do médium em atividade, registradas por uma equipe estadunidense demonstra, na prática, como a coisa toda da cirurgia era feita sem anestesia, no seco, na faca, e que Arigó retirava tumores, retinas e outros pedaços podres do corpo humano assim, sem anestesia. Não são poucas as cenas, bastante gráficas e em close up, dessas cirurgias, banhadas de uma boa dose de gore, o que pode deixar alguns fechando os olhos durante as cenas.
Outro ponto a destacar é na forma de como é demostrado a intolerância religiosa (que ainda acontece nos dias de hoje) e de como a igreja e os médicos olhavam torto para algo que não conseguiam compreender e simplesmente achavam que era. Além disso, aborda questões como falsos profetas e as relutâncias do protagonista em aceitar sua missão, assim como o sofrimento de seus familiares, que acabam ficando em segundo plano.
Com isso, Gustavo Fernandez imprime humanidade aos personagens de seu filme, especialmente aos antagonistas. É um acerto colocar Danton Mello e Juliana Paes nos papéis principais, que demonstram, com categoria, os anos de experiência às atuações e conferem profundidade a seus personagens. Mello ainda se destaca por alternar bem em suas posturas e tom de voz o Arigo e Dr. Fritz em seu corpo. É quase por exemplo a mudança de Christopher Reeves fazendo Superman e seu alter ego Clark Kent.
A recriação de época da Minas Gerais entre os anos de 40 a 60 é excelente e reforça o bom trabalho de design da produção.
Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz é mais um grande filme sobre a religião espirita no Brasil. Um filme que nos mostra como a fé pode está em todos os lugares, que as vezes é preciso crê e sentir do que procurar explicações ou menosprezar a fé do outro.