Transitar da atuação para direção é bem comum no cinema, mas nem sempre é uma tarefa igualmente certeira. Em muitos casos, os estreantes acabam indo para o básico e seguro clichês dos gêneros que querem trabalhar e acabam não criando uma identidade. Contudo a estreante da vez, a atriz Zoe Kravitz entrega em Pisque Duas Vezes, um trabalho que surpreende e o torna em um dos melhores suspenses do ano.
Sem expectativas, a trama estrelada por Naomi Ackie e Channing Tantum é sufocante, perturbadora e tensa em escala crescente que muitas vezes não imaginamos ser de um estreante na direção.
Na trama acompanhamos Frida (Naomi Ackie), que é uma garçonete com dificuldades financeiras e em busca de ser “vista” no seu âmbito social. Após trabalhar em um evento feito pelo bilionário Slater King (Channing Tatum), ela e sua amiga Jess (Alia Shawkat) são convidadas a passar suas férias em uma ilha remota, que foi recentemente adquirida por King. Entre eles, há outros milionários e famosos, que durante noites selvagens e curtição, vivem o verdadeiro paraíso. Mas, após alguns mistérios começarem a surgir, Frida se questiona sobre o que de fato está acontecendo dentro dessa ilha, e que talvez, algo de muito errado esteja acontecendo.
Dentro dessa premissa, o roteiro brilhantemente vai se construindo de forma brilhante. As situações que começam com puro clima de descontração a lá obras como Triangulo da Tristeza, aos poucos vai se mostrando aterrorizante que nos tira do conforto e nos coloca na tensão. É impressionante como o filme não tem pressa em criar seus momentos e nem enrolar quando ele chega em seu climax.
Os funcionários de Slater também destoam da perfeição. Os sorrisos forçados – que remetem ao trabalho de Jordan Peele em Corra! – são aterrorizantes, assim como as cobras que insistem em surgir pela propriedade.
Os personagens são bem construídos, cada um com seu jeito excêntrico de ser, com uma certa superficialidade intencional, mas que se justifica ao decorrer da trama, que ganha cada vez mais camadas de tensão e mistério.
Mesmo com uma história que matem a atenção da plateia sem piscar, a diretora não se contenta apenas com isso, ela pega sua obra e implementa diversas questões raciais e principalmente, de gênero, que é a cerne principal do filme. Já aviso que muitas cenas serão bem fortes para o publico feminino (alerta de gatilho) mas que mostra uma realidade um tanto que crua em relação ao machismo por parte de alguns homens.
Com um final que pode não agradar a todos, mas que condiz a tudo que foi proposto até ali, Pisque Duas Vezes é sem duvidas umas das melhores surpresas de 2024. Zoe Kravitz pegou um projeto que parecia ser mais um em um milhão de coisas e o tornou em um suspense primoroso repleto de camadas que com certeza fará o público ficar na ponta da cadeira de tão tenso. Baita estreia!