Parthenope | Sorrentino leva para as grandes telas a beleza de sua Nápoles

Priscila Dórea
5 Min de Leitura
Gianni Fiorito | A24 | Divulgação
3.5 Muito Bom
Crítica - Parthnope

Uma epopeia feminina desprovida de heroísmo, mas apaixonada pela liberdade, por Nápoles e pelo amor, Parthenope conta a história de Parthenope Di Sangro (Celeste Dalla Porta) desde o seu nascimento nos anos de 1950 até os dias atuais. A história da jovem mostra que a vida pode ser hesitante, memorável ou vulgar. A passagem do tempo oferece todo um repertório de sentimentos. E como pano de fundo, perto e longe, Nápoles, que enfeitiça, encanta, grita, ri e até nos magoa – uma visão única de Nápoles pelos olhos do cineasta Paolo Sorrentino (A Mão de Deus, 2021).

Belo, idílico, sensual e estonteante, Parthenope é um filme focado na beleza: de sua protagonista, de Nápoles, das pessoas dessa cidade, das coisas indizíveis e das que são muito bem ditas, das distorções humanas diárias, dos primeiros, segundos e últimos amores, da juventude, da velhice, do saber de tudo e do não saber nada. No mito grego, Parthenope foi a ninfa fundadora da cidade homônima – que mais tarde seria rebatizada de Nápoles – que encantava os deuses e os poetas.

A24 / Divulgação

Nascida no mar de Nápoles, Parthenope (a do filme) enfeitiça a todos com sua beleza, e para Sorrentino se torna a personificação da própria Nápoles, passando pelas quase sete décadas retratadas no longa vivendo suas felicidades, tragédias e dualidades. Estudante (e no futuro uma estimada professora) de antropologia, Parthenope encanta e enamora a todos – das mais variadas idades e classes sociais, mas dificilmente se relaciona com eles.

A relação que mais se destaca em todo o filme, além da cumplicidade criada com seu orientador, é o trágico triângulo amoroso dela com seu amigo de infância Sandrino (Dario Aita) e o próprio irmão Raimondo (Daniele Rienzo). No entanto, a jornada de crescimento real de Parthenope se volta para além de sua beleza e se volta para a vida e suas muitas perguntas.

Gianni Fiorito / A24 / Divulgação

O que causa mais estranheza no filme é a sua falta de linearidade e um sentido maior para aquilo que vemos desenrolar diante de nossos olhos de forma desordenada. Sorrentino quer cortar a história de Nápoles através de suas principais características e exaltando sua beleza, sempre brincando com o exagero sem de fato o usar. É como se o filme estivesse na margem de um rio assistindo o realismo mágico dançar do outro lado, querendo ser aquilo, mas sem essa coragem.

Em dado momento, principalmente depois da primeira hora de filme, coisas começam a acontecer com tão pouca ligação ou introdução, que temos a sensação que piscamos e perdemos algo, o que frustra bastante pelo clima criado pelo filme, por toda beleza fotográfica e de cenário que, indiscutivelmente, estão impecáveis. A sensação é que o filme é um poema épico que perdeu sentido e virou uma bagunça bonita em sua tradução para as grandes telas.

Gianni Fiorito / A24 / Divulgação

O incômodo vai crescendo à medida que a história vai chegando ao fim, mas não é um incômodo que parece ter sido criado de forma proposital. Se revezando entre momentos que nos atrai por querer saber seu desenrolar, e outros que causam estranheza pela aleatoriedade dos acontecimentos, o “quero assistir esse filme” oscila a todo momento, assim como o nosso gosto pela atuação da protagonista que acaba se saturando apesar do perceptível esforço. 

O filme não chega a ser chato ou entediante. Ele nos faz refletir sobre o quão pode ser fácil ou insustentável ser uma pessoa, viver e amar, mas faltou levar toda a sutileza encantadora e sensual da protagonista para os cortes e mudanças nessa epopeia de amor para a bela Nápoles.

Crítica - Parthnope
Muito Bom 3.5
Nota Cinesia 3.5 de 5
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Jornalista e potterhead para toda eternidade, tem um amor nada secreto por mangás e picos de felicidade com livros em terceira pessoa. Além de colaboradora no Cinesia Geek, é repórter do Grupo A Tarde.
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