Em um mercado saturado de narrativas previsíveis e visuais genéricos, a HQ Pandemonium surge como um verdadeiro grito nas sombras — uma antologia de terror e ficção que mistura vampiros, zumbis, demônios e ficção científica em uma experiência que é tão perturbadora quanto visualmente cativante.
Produzida de forma independente e viabilizada por financiamento coletivo, Pandemonium carrega consigo uma liberdade artística rara. A obra reúne um time criativo afiado — incluindo nomes como Alix, Ítalo Silva, Val Oliveira, Rob Saint e Alex Lins — que entregam histórias curtas, mas densas, cada uma com seu tom particular e estética própria.
Terror com alma (e sangue) vintage

As influências dos quadrinhos e filmes dos anos 1970 e 1980 são sentidas em cada página. Seja no tom de paródia, nas narrativas carregadas de humor negro e nonsense, ou nos clichês assumidamente homenageados (e subvertidos) com estilo, Pandemonium oferece uma leitura que ao mesmo tempo celebra e brinca com os clássicos do gênero.
Um dos grandes destaques é o uso de luz e sombra na composição visual — um verdadeiro espetáculo gráfico que constrói atmosferas densas e urbanas, como na história de vampiros que se desenrola em um cenário soturno e decadente. A arte não apenas ilustra, mas participa ativamente da narrativa, mergulhando o leitor em uma sensação de desconforto constante.
Sci-fi, suspense e grotesco

Para além do horror tradicional, a HQ flerta com a ficção científica, misturando mistério e elementos quase filosóficos — como na história de um homem acidentado que faz revelações perturbadoras. Essas tramas ampliam o escopo da antologia, mostrando que o medo pode vir tanto de monstros sobrenaturais quanto das implicações da própria ciência e existência humana.
Veredito final
Pandemonium é uma daquelas publicações que nos lembram o poder do quadrinho independente: ousado, criativo e livre das amarras comerciais. Com um equilíbrio instigante entre horror clássico e irreverência moderna, a HQ funciona como uma carta de amor às narrativas sombrias — mas escrita com sangue, tinta e um leve toque de sarcasmo.