Steven Spielberg, um dos maiores nomes da industria do cinema atualmente, dono de clássicos absolutos como Jurassic Park, ET, Indiana Jones e tantos outros nos traz sua obra mais intima e emocional em 2022/2023. Os Fabelmans, se inspira na infância do diretor e nos faz entender por que é um dos maiores artistas de nosso tempo.
O longa acompanha o amadurecimento de Sammy, cuja infância é marcada pela descoberta do cinema: quando seus pais o levam para assistir a O Maior Espetáculo da Terra, filme de 1952, nosso protagonista fica fascinado pela grandiosidade da ficção e encontra – na própria imaginação e nas câmeras – não só uma paixão arrebatadora, mas um propósito e um refúgio.
Sammy vive com as irmãs (com quem divide momentos ternos e hilários na fabricação de seus filmes) e com os pais, cuja relação e o desenrolar do casamento também o impacta profundamente. O pai, Burt (Paul Dano) é um engenheiro de computação cujo trabalho obriga a família a se mudar com alguma frequência; a mãe, a pianista Mitzi (Michelle Williams) enfrenta alguns dilemas e transtornos que acabam desencadeando os conflitos entre o casal. É com esta dinâmica que Sam passa da infância à adolescência e juventude encontrando a própria voz, aprimorando sua arte e equilibrando pratos emocionais.
Eu já havia comentado em outras críticas como a de Armageddon Time (2022), que se criou uma vibe do momento com essas produções que trazem a combinação entre semi-biografia e homenagem à arte, porém apesar das semelhanças a obra de Spielberg consegue se sobressai no quesito emocional e sensível de um jeito que só o cineasta consegue nos entregar.
Tudo aqui é simples e comum, não há ou não precisamos de um evento histórico para entendermos e nos deixar passar ileso pelas emoções e as paixões de Sammy. Cada vez em que Spielberg nos coloca dentro do olhar de seus protagonistas (quase que literalmente, às vezes), alguma informação tão pessoal vêm à tona que fica irresistível o convite para também nos encontrarmos dentro desses momentos. Esse jeito genuíno e sutil de contar uma história a torna um tanto distante das outras que mencionei acima. Essa sensibilidade nítida do realizador também é ampliada na sua homenagem a sétima arte. A relação entre o protagonista e o cinema é profundamente íntima, genuína, dolorosa em alguns momentos, mas muito feliz em outros. A vida de Sammy é transformada de forma definitiva e implacável pela sétima arte e sabiamente o diretor com sua apurada técnica nos passa esse mesmo sentimento durante suas 2 horas e 30 minutos de duração de forma que não vemos esse tempo passar, já que drama, humor e tensão são tão bem colocados que a viagem é reconfortante no fim.
Se Spielberg entrega uma direção e trabalho técnico impecável em sua produção, o elenco também não faz feio, e eu destaco o trabalho de Michelle Williams em um dos seus melhores papeis da carreira como a mãe do protagonista. A atriz cria uma faceta de características complexas para sua personagem e a realiza de uma forma soberba. Os acontecimentos entre Mitzi e o filho são o principal fio condutor da história:a sensação que passa é que Spielberg conseguiu olhar para o próprio passado e para os indivíduos de sua família mais com ternura do que com algum tipo de ressentimento – um trabalho também apoiado na ternura de seus atores. Temos também Paul Dano, novamente muito bem como pai racional e apaziguador e juntamente com Williams nos ajuda a entender Sammy.
Os Fabelmans é uma visão otimista e inspiradora sobre a vida e os sonhos mais profundos que nutrimos no intimo de nossas almas. Um trabalho intimista e emocionante como só Spielberg poderia nos trazer.