Livros sobre jogos sempre me deixam com um pé atrás. Isso por causa de traumas assassinos passados, onde o escritor sente a dificuldade (ou a facilidade) em transformar um jogo em um livro. Mas livros de jogos são versões, e dificilmente ficará bom se for feita uma tradução literal do jogo. Ai me vem um designer de jogo querer escrever o livro sobre sua mais famosa criação e para isso chama uma escritora de peças teatrais para escrever com ele. O resultado?
Simplesmente. Muito. Melhor. Do. Se. Pode. Imaginar.
Five Nights at Freddy’s é um jogo independente no gênero survival horror e point click em primeira pessoa criado por Scott Cawthon e lançado em 2014. O jogo se concentra na Pizzaria Freddy Fazbear, onde o jogador é o guarda-noturno de uma pizzaria e ele precisa se defender dos animatrônicos bizarros e assassinos que animavam o local, enquanto os acompanha não apenas vasculhando o lugar com sua lanterna, mas também através de câmeras de segurança. O objetivo é sobreviver por seis noites enquanto é perseguido pelos animatrônicos gigantes: Freddy Fazbear, Golden Freddy, Bonnie, Chica e Foxy.
O senhor Cawthon então resolve transformar em literatura o jogo que foi viciando e aterrorizando as pessoas durante anos. E junto com a escritora Kira Breed-Wrisley, ele escreveu Five Nights at Freddy’s: Olhos Prateados, e consegue passar exatamente o que um leitor de terror procura, aliado a nostalgia daqueles que jogaram, e a leveza de um terror para adolescente, com cenas e conclusões assustadoras apenas o suficiente para que você imagine e divague muito sobre o horror que os clientes e as vitimas que frequentavam a pizzaria sofreram.
O ponto chave do livro é exatamente esse: imaginar.
Scott e Kira descrevem os lugares e situações com detalhes o suficiente para que você possa criar toda a cena na cabeça. O clima de suspense e terror é construído lentamente, assim como o que realmente aconteceu na pizzaria há dez anos e o motivo dos bonecos se mexerem.
A narrativa é bem pensada. Lenta em sua maior parte e isso pode fazer algumas pessoas largarem a leitura. Porém nos impregna com a naturalidade dos personagens, que de forma alguma são super heróis, ou estereótipos de filmes de terror. Eles são o mais comum grupo de amigos, tendo como diferencial a tragédia que chocou a cidade e fez com que os seis fossem morar bem distantes um dos outros.
O grupo é inteligente na medida certa, motivados apenas pela curiosidade juvenil, um toque de “vamos descobrir a verdade” e aquela vontade de revisitar um lugar que atualmente é aterrorizante, mas que no passado era o paraíso para eles.
O livro inteiro é como um background do jogo, tornando ele, que sempre foi conhecido por sua simplicidade – que em nada prejudicava o terror que queria passar -, ainda mais interessante por você ter com o que alimentar a imaginação que já aflorava durante suas noites na Pizzaria Freddy Fazbear.
Uma dica:
Se você não jogou ou não quer jogar, recomendo que pelo menos assista alguns vídeos do jogo. Como grande parte do livro se passa na pizzaria e ela é cheia de corredores, salas e salões, esses vídeos ajudam a montar um bom mapa na cabeça.
Porém uma coisa que acontece lá pro final da história me deixou dividida entre: o sonho para a resolução de um crime VS como isso se resolveria se fosse na vida real. Nessa vida sem spoiler, só digo que é sobre a pessoa que fez o carinha ser arrastado por outros cinco carinhas para dentro do salão… Leiam e me digam o que acham.
Scott Cawthon e Kira Breed-Wrisley fizeram do público alvo o mesmo para qual o jogo foi direcionado: juvenil. Então não se espera aqui algo extremo no quesito sofrimento e angustia, então se você ler pensando em para quem ele foi escrito, entrar no clima não é realmente difícil.
A promessa é de uma trilogia que não sei como vai funcionar. Tenho a impressão que uma antologia deixaria a série estranha, mas uma continuação direta de Olhos Prateados parece meio forçado também. Então ficaremos no aguardo, e enquanto isso, cuidado…
Eles podem ver você. Eles vão caçar você. Eles querem matar você.