Na história de premiações, a academia tem um grande gosto por atores e atrizes que passam por transformações físicas para se adaptarem a seus personagens. Cristian Bale esse atualmente essa ideia em Vice, despontando como favorito na categoria, mas Charlize Theron foi um outro exemplo em Monster: Desejo Assassino, onde a atriz ficou irreconhecível na personagem.
O Peso do Passado segue nessa mesma estrada, com uma transformação radical de Nicole Kidman em rosto e cabelo para viver uma personagem que luta contra decisões feitas no passado e que viraram sua vida de cabeça pra baixo.
A trama acompanha a detetive Erin Bell (Kidman) que, ainda jovem, se infiltrou numa gangue californiana numa missão que teve resultados desastrosos. Anos depois, com o retorno do antigo líder da organização, ela tem que voltar a se relacionar com os membros que restaram daquele grupo e, consequentemente, enfrentar os demônios do seu passado.
Dirigido por Karyn Kusama em seu primeiro longa desde o seu bom O Convite(os outros prefiro nem comentar) o filme foca quase que inteiramente sobre a personagem da Kidman, com a narrativa sendo contada em dois momentos, no presente com ela investigando o possível retorno de Silas e no passado, com ela e o agente do FBI Chris (Sebastian Stan) infiltrando-se na gangue comandada pelo marginal. Vemos diligência e esperança há 17 anos e raiva e culpa agora, com uma Kidman absolutamente cativante em ambos os momentos temporais, mas particularmente no presente, com o envelhecimento acelerado de sua personagem e sua postura completamente niilista, que afastou sua filha, seu parceiro e seu colega de trabalho. O choque entre as versões da mesma personagem é gritante e assustador e a convergência narrativa vem vagarosamente, sem pressa, abrindo espaço para a atriz mostrar a que veio.
O roteiro de Phil Hay e Matt Manfredi apresenta mais um drama existencial que o trillher policial, ora lembrando Dia de Treinamento, ora A Qualquer Custo, mas sem realmente chegar à o nível de qualidade deles.Com esse transitar entre os gêneros, ele acaba se utilizando de alguns clichês que criam uma certa previsibilidade e arrasta a história por mais tempo que o necessário.
As atuações embora boas do elenco de apoio, o filme não parece se importar com eles, sendo meramente figuras para interagir com Erin. Algumas exceções podem ser vistas pela personagem da Tatiana Maslany (mais uma que se transforma no longa) e da Jade Pettyjohn, que faz a filha da protagonista.
Kidman, como falei acima, carrega o filme e é a força motriz dele. Sua atuação juntamente com a maquiagem tem um empenho admirável da atriz, passando bem as emoções que sua personagem viveu e carrega.
O Peso do Passado‘ é um suspense dramático feito nos moldes do Oscar, realizado para Kidman brilhar. Apesar da boa direção e um roteiro bem proposto,o longa sofre por trazer uma atuação muito mais interessante que o filme em si.