O Menino e a Garça | Hayao Miyazaki traz mais uma obra reflexiva e genial em seu último trabalho

Danilo de Oliveira
6 Min de Leitura
5 Excelente
Crítica - O Menino e a Garça

Dono de obras magníficas como A Viagem de Chihiro (primeiro anime a vencer o Oscar), Princesa Mononoke entre muitos outros Hayao Miyazaki juntamente com o Studio Ghibli se tornaram uma referência do cinema de animação japonesa para o mundo tal qual a Disney. Não há toa já foi chamada de a “Disney Japonesa” por alguns, visto o quanto os projetos do estúdio tinham um impacto na indústria ao serem lançados.

O diretor há uns anos atrás chegou a se aposentar, mas para surpresa de muitos, o veterano realizador decidiu voltar para uma talvez “última dança” com O Menino e a Garça seu novo projeto com o estúdio que promete mais uma vez transformar a realidade em fantasia com um recheio repleto de camadas que nos levam a metáforas sobre a amizade, a dor, o luto, onde portas vão se abrindo e escolhas surgindo.

Inspirado no livro de Genzaburo Yoshino chamado “Como Você Vive?” a trama de O Menino e a Garça é ambientada no Japão em tempos de Segunda Guerra Mundial, conhecemos Mahito, um jovem que perde a mãe muito cedo em uma tragédia por conta dessa terrível guerra. Tempos depois ele se muda com o pai para uma enorme propriedade na zona rural japonesa onde tem o primeiro contato com a nova madrasta. Essa última de quem não consegue se aproximar por achar que ela está roubando o lugar de sua mãe. Desbravando a extensa propriedade que é seu novo lar, acaba descobrindo um lugar que logo se mostra uma espécie de portal. Quando sua madrasta some, o protagonista embarca na sua aventura indo até esse lugar mágico junto com uma curiosa garça e lá o confronto com um universo de situações que ele jamais imaginaria encontrar se mostra à sua frente.

Studio Ghibli/Reprodução

Mesmo trazendo o tom de fábula característicos do Ghibli, Miyazaki sempre foi um diretor de trazer ótimas reflexões e questionamentos. O Menino e a Garça difere dos demais por ser mais soturno. No primeiro ato temos o protagonista Mahito com a dor da perda de um ente familiar. O menino de 12 anos, passa pelo luto, de forma solitária e angustiado, sem conseguir viver em sociedade e obrigado pelo pai a conviver com uma pessoa que lembra muito a pessoa que morreu. A partir do momento em que ela some e ele descobre a torre guardada pela misteriosa garça, a dupla mergulha numa fantasia que abre mão de qualquer didatismo ou regra convencional sobre tempo e espaço para falar de temáticas sobre luto, a perda, reconciliação familiar, escolhas e destino. A jornada do herói aqui é muito bem estabelecida com embates sendo refletidos nas ações o que impulsiona a narrativa para um ritmo intenso onde não conseguimos desgrudar os olhos da tela durante as suas duas horas de duração.

É interessante ver mais um paralelo da a Disney e o Ghibli na questão de suas obras. Por exemplo as temáticas e alegorias de O Menino e a Garça são bem semelhantes as de Soul. No filme da Pixar o Além traz as alegorias das nuvens, aqui Miyazaki traz aves para refletir e discutir sobre mortalidade e propósito. A diferença que ao contrário da obra do estúdio do rato, aqui o diretor não busca explanar nada de forma didática para o público, já que ele abre mão de qualquer monólogo direcionado ao expectador para nos imergir ainda mais ainda mais nas decisões e sentimentos do protagonista, o fazendo amadurecer a partir de aprendizados feitos na prática.

Studio Ghibli/Reprodução

O filme traz discussões existenciais que se tornam abstratas o suficiente para serem aproveitadas por quem não conhece Miyazaki. E por trazer essas questões tão densas que a produção não é um filme fácil de dissolver, mas tenho certeza que ficará martelando em sua cabeça por dias.

O projeto, todo desenhado a mão, que demorou cerca de sete anos para ficar pronto, com Miyazaki trabalhando cerca de um minuto do filme por mês é magnífico ao nível de excelência técnica que o Ghibli já nos entrega há anos com suas obras. Falar disso é quase chover no molhado. O design, a fluidez da animação 2D que se mescla com alguns elementos 3D é de um esmero incrível.

Studio Ghibli/Reprodução

Pra finalizar, O Menino e a Garça mostra o porque de Miyazaki ser um dos mais importantes diretores da nossa época. Mesmo com seus quase 80 anos, o realizador continua a nos entregar um trabalho primoroso com reflexões sobre a vida como só ele e o Studio Ghibli são capazes de entregar. Não é um filme fácil de compreender, mas gostoso de mergulhar e aprofundar em suas questões.

Crítica - O Menino e a Garça
Excelente 5
Nota Cinesia 5 de 5
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