Existem clássicos que não precisam de sequência visto o quão impactante e única são suas idealizações.
Lançado há 50 anos em 1973, O Exorcista definiu o gênero do terror, trazendo uma história de possessão demoníaca, unindo cenas e clima aterrorizante com personagens e seus dramas bem estabelecido de forma consistente.
Claro que Hollywood viu uma possibilidade de faturar muito mais no sucesso e gerou fazer do longa uma franquia. Com isso vieram 2 sequências caça-níquel péssimas e duas prequel nos anos 2000, além de uma série de TV que ganhou duas temporadas, nada disso conseguiu arranhar e trazer um pouco da essência que o longa original trouxe.
Depois de trazer uma nova trilogia de Halloween, o produtor Jason Blum com sua Blumhouse juntamente do diretor David Gordon Green decidem fazer o mesmo que fizeram com a nova incursão de Michael Myers, e fazer uma sequência do filme de 73 desconsiderando todos os outros e assim criar uma nova trilogia. O Exorcista: O Devoto, chega aos cinemas e a idéia resulta em um desastre, com um filme que tenta atualizar os conceitos de O Exorcista para novos tempos, mas falha de forma catastrófica em um terror convencional e sem alma.
O novo longa acompanha duas famílias de costumes distintos que são ligadas após o desaparecimento de suas filhas, Angela (Lidya Jewett) e Katherine (Olivia O’Neill), que são encontradas três dias depois apresentando distúrbios que a medicina convencional não é capaz de diagnosticar…
Como as perguntas parecem não ter respostas naturais, o pai de Angela, Victor (Leslie Odom Jr.), entra em contato com Chris MacNeil (Ellen Burstyn) após ler o livro que expõe os traumas vividos por ela durante a possessão de sua filha, Regan (Linda Blair), décadas atrás.
Fruto do trabalho de um time de cinco roteiristas, Peter Sattler (Marcados Pela Guerra),Scott Teems (Sobrenatural: A Porta Vermelha), Danny McBride (Halloween Kills – O Terror Continua) e o próprio diretor David Gordon Green (Halloween Ends), o roteiro se mostra um amarrado de idéias que foram jogadas aqui, mas parece não ter uma devida atenção no que desenvolver.
Idéias como a trazer uma nova perspectiva sobre a prática que dá nome à série, como mostrar que exorcismos são parte não apenas do cristianismo, mas estão inseridos na história de inúmeros povos e culturas, soa interessantes no que propõem, em expandir a visão de mundo sobre a propriedade intelectual que a franquia, mas O Devoto falha em apresentar tudo isso de forma consistente ou no mínimo decente.
Apesar da boa relação pai e filha do protagonista ser o fio condutor da trama, Victor tem uma jornada um tanto forçada já que o roteiro do filme em vez de explorar o luto como uma analogia profunda pra a narrativa, o coloca o tempo todo a ceder às provocações vindas de todos os lugares, para que enfim se torne “o devoto” e salve sua filha, mas isso soa forçado, principalmente pelas facilitações aqui trazidas pelo texto, principalemte no desastroso terceiro ato.
Assim como em Halloween, aqui o legado e a conexão que o longa faz com seu original é trazido na figura de Ellen Burstyn, a Chris MacNeil, mãe da Regan, aqui uma ex-atriz e especialista em rituais de exorcismo que se estabelece mais como a introdutória para o protagonista no universo da franquia que realmente ter um destaque. Pelo contrário, o que fazem aqui com a intérprete soa como ofensa, visto o tempo de tela que lhe é dado e o que é feito com ela.
Conhecida por ter cenas perturbadoras, aqui em O Devoto, Gordon Green tenta homenageia alguns elementos do filme clássico, mas claro, que não nada disso consegue ser minimamente impactante. Abusar de uma colagens a lá Jequiti de coisas assustadoras, além de jumpscares só pioram o processo aqui. O terceiro ato mesmo é uma sucessão de erros que acaba em um clímax sem força que apesar de tentar justificar a idéia do título, soa covarde.
O Exorcista: O Devoto, poderia ser qualquer filme de terror e soaria ok, mas por se tratar de uma sequência de um clássico absoluto do cinema de horror, ele no mínimo é uma ofensa para o nome O Exorcista. E ainda teremos mais dois filmes a caminho! Se seguir o caminho desse, talvez Pazuzu preferia ficar no inferno quieto viu!!!