O Banquete tem boa entrega do seu elenco, mas é superficial em sua reflexão

Danilo de Oliveira
4 Min de Leitura

Ambientado no início dos anos 1990, época do governo de Fernando Collor de Melo, O Banquete, filme da diretora Daniela Thomas se passa durante um banquete oferecido por Nora (Drica Moraes) em comemoração aos dez anos de casamento de Bira (Mariana Lima) e Mauro (Rodrigo Bolzan). Conforme os convidados vão chegando, a história vai se desenrolando e entregando os detalhes aos poucos, trazendo à tona uma série de relações mal resolvidas que envolvem casamentos frustrados, traições e inveja.

Todos os personagens têm um tom misterioso e sarcástico, o que inicialmente acaba fisgando o espectador pela curiosidade. Com diálogos extremamente pesados e recheados de conteúdo sexual, o maior problema é que o nível da conversa vai ficando cada vez mais baixo, e a trama começa a evoluir cada vez menos.O público vai tomando ciência do casamento cheio de problemas entre Nora e Plínio, vivido por Caco Ciocler; o caso extraconjugal de Mauro,com a crítica cultural Maria, de Fabiana Gugli; o interesse sexual do colunista Lucky, vivido por Gustavo Machado, no jovem Ted (Chay Suede) e seu insistente assédio… Contudo, diante de tantos conflitos em potencial, a informação mais curiosa que o público tem acesso – e que promete amarrar todos esses pontos de tensão – é uma carta escrita pelo jornalista Mauro contra o governo Collor. Contudo o filme vai andando e Thomas não faz muito sobre o assunto, tornando tudo arrastado e até mesmo incômodo, que frustra o espectador.

Os atores no entanto abraçam seus personagens com ferocidade quase incontrolada pela direção: Drica Moraes é excelente, e sua personagem vai ganhando camadas mais sombrias durantes a projeção, Caco Ciocler está muitos graus acima do realismo desde a primeira cena, Mariana Lima se entrega numa composição à beira do desespero. Avesso a sutilezas, o texto proporciona uma sucessão de catarses deliciosas para qualquer ator, ainda que soem lineares demais ao espectador ao evitarem transformações reais nos personagens.

Porem por mais que o filme se alongue além da conta, alguns personagens não tem um desenvolvimento e meio que caiem de paraquedas na trama como a aspirante a atriz interpretada por Bruna Linzmeyer que parece ser um gancho pra uma reviravolta na historia, mas simplesmente não tem menor relevância pra ela. O personagem do Chay Suede é outro,que com seu jeito misterioso, leva todos a pensarem na importância do personagem na conclusão da misteriosa trama. O problema é que ele é simplesmente esquecido, passando de destaque para um mero figurante em cena, que aparece somente para servir a mesa do restante dos personagens e no fim das contas não acrescenta nada à história.

O Banquete é um filme que tem dificuldade para deixar claro o que de fato quer transmitir ao espectador geral. No mais parece uma festa privada e que nós espectadores somos os grandes penetras do evento que a diretora Daniela Thomas promoveu, não compreendendo muitas das entrelinhas jogadas na tela pela realizadora através de seus personagens, trazendo uma certa superfacilidade a sua reflexão.

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