Nosferatu | Robert Eggers entrega um sublime romance gótico ao adaptar clássica obra

Danilo de Oliveira
7 Min de Leitura
Reprodução
5 Perfeito
Crítica - Nosferatu

Lançado em 1922, Nosferatu é uma obra sem igual no cinema de filmes de vampiro e do terror. 

Adaptado de forma não oficial da obra literária de Bram Stocker, Drácula, o longa além de realizar as mudanças de locais e personagens, também imortalizou o visual do Conde Orlok que viria a se tornar uma representação horrenda dos vampiros na cultura pop (obras como The Strain de Guillermo Del Toro bebem disso por exemplo).

Robert Eggers que já tem no currículo trabalhos incríveis como A Bruxa, O Farol e O Homem do Norte tinha como obsessão na carreira trazer uma nova versão da obra, e aqui o faz com sua eficácia de sempre, trazendo um romance gótico, que traz uma atmosfera soturna e atuações perfeitas do seu elenco para contar uma história de amor, fascinação e terror.

Universal Pictures/Reprodução

Livremente inspirada na história de Drácula, a trama é centrada no casal recém-matrimoniado formado por Thomas (Nicholas Hoult) e Ellen Hutter (Lily-Rose Depp). Ellen sofre de alucinações constantes que envolvem uma figura demoníaca que assombra não apenas seus sonhos, mas todos aqueles à sua volta – e ela sente-se na obrigação de tentar impedir que o marido viaje a fim de fechar contrato imobiliário com um comprador misterioso. Contrariando os avisos da esposa, Thomas embarca em uma viagem conturbada e perigosa até chegar à mansão do Conde Orlok (Bill Skarsgard embaixo de muita maquiagem). É a partir daí que um simples negócio se transforma em um pesadelo sem fim, revelando a verdadeira e profana natureza de Orlok e de que forma sua mortal figura está associada à obsessão doentia de Ellen.

Se há algo que Eggers sabe fazer muito bem é criar atmosferas sufocantes de pura angústia. Aqui, ele se alia mais uma vez ao diretor de fotografia Jarin Blaschke (que já trabalhou em todos os outros projetos do diretor) para prestar homenagem à importância da escola expressionista, brincando com a luz e a sombra de maneira mágica e sobrenatural. Seja no vilarejo onde os Hutter moram, no castelo de Orlok, ou no meio de uma floresta sombria, Eggers sabe o que quer fazer e de que forma pretende garantir a evocação de emoções primordiais no público.

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Além disso, mesmo a Alemanha antes da chegada do conde já tem um tom totalmente gótico, o que cria um ambiente perfeito para que o público sinta que há algo à espreita.

Eggers mais uma vez entrega sua precisão aos detalhes históricos ao explorar a cultura local daquela região em seu período, seja no seu design de produção que reinventa a Alemanha do século 19 com toda estetica gótica e soturna que a obra original tem, mas também ao explorar o folclore local com rituais e lendas(em principal a do Strigol, que foi uma das inspirações de Bram Stocker) além do proprio Orlock que tem em seu idioma uma língua morta daquelas regiões que foi resgatada pelo diretor através de profissionais da área, tudo é devidamente bem construído e mostrar a paixão do realizador pelo material original.

O roteiro respeita o original e constrói a trama aos poucos, explorando muito bem a relação entre Orlok e Hutter que vão de apenas pesadelos a quase uma tortura psicológica que junto da atmosfera feita pelo realizador se torna tensa e sinistra a cada momento do filme. Além disso, o fascínio que Orlok tem em Hutter carrega um tom quase que erótico para a produção.

Universal Pictures/Reprodução

Alias o elenco é outra força motriz aqui, com todos muito bem empenhados em seus papeis. 

Depp encarna a insanidade de ser uma das vítimas de Orlok, entregando todo o tormento físico e mental causado pelo conde, em uma performance surpreendente mesmo depois de produções polêmicas, como a série The Idol (2023). Outro nome que se destaca é Willem Dafoe, como não poderia ser diferente, na pele do professor von Franz. Fascinado pela história de Orlok, o personagem oscila tenuamente entre alguém muito sábio e também meio maluco, duas características que Dafoe domina com tranquilidade, e até nos faz recorda dele em Pobres Criaturas devido a sua excentricidade. Skarsgard volta a reafirmar sua versatilidade aplaudível ao fundir-se a essência do personagem titular até se transmutar em uma criatura irreconhecível. A total falta de divulgação de seu visual no marketing do longa, reforça para o impacto em cena. Diferente do original, seu Orlok bebe mais do visual idealizado por Bram Stocker ao seu Dracula que o visual original do longa de Murrnau, mas mesmo assim impactante e grotesco.

Hoult  rouba os holofotes ao dar vida a Thomas Hutter: o co-protagonista da trama já havia aparecido no longa de 1922 e em títulos subsequentes que se basearam na obra de Murnau. Porém, aqui, o ator fornece uma complexidade apaixonante e histérica a esse agente imobiliário que se torna vítima de circunstâncias sombrias e terríveis. Tendo mais destaque no primeiro e no segundo atos, o ator sobe um pouco a barra de qualidade quando ele próprio vive horrores nas mãos de Orlok.

Universal Pictures/Reprodução
Aaron Taylor Jonhson e Emma Corrin ainda que sejam personagens mais secundários estão ótimos e entregando angustia e tensão a seus personagens.
 
Crítica - Nosferatu
Perfeito 5
Nota Cinesia 5 de 5
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