Não! Não Olhe! | Jordan Peele entrega mais uma reflexiva e intrigante obra do gênero

Danilo de Oliveira
6 Min de Leitura
Universal Pictures/Reprodução

Apesar de ter a comédia como sua raiz de nascimento no meio audiovisual, Jordan Peele é um diretor que firmou o terror como seu grande destaque. Corra! lançado em 2017 não só foi um soco no estômago da plateia com uma historia de gênero que trazia um forte texto racial, como deu a estatueta do Oscar ao diretor por Roteiro Original na época.

Seu segundo trabalho em Nós (2019) não tinha como não ser cercado de expectativas e claro, Peele trouxe ainda mais autorialidade em trazer uma obra perturbadora, mas que trazia em seu texto varias reflexões e comentários a ser digerido pela plateia após a sessão.

Novamente, agora em 2022, o novo projeto do cineasta chega repleto de hype. Não! Não Olhe! vai ser mais uma obra que ao primeiro olhar pode ser uma coisa mas são muitas as digressões que o seu realizador quer passar para sua plateia. Mas claro, que estamos diante de um blockbuster que traz suspense, ficção e comédia com camadas a mais de detalhes no pacote.

Universal Pictures/Reprodução

Para a trama de Não! Não Olhe, eu vou tentar ser o mais brando possível, já que quanto menos você vier verde de informações sobre, melhor sua experiência será com o projeto e o que o diretor quer lhe entregar. No filme vemos os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer) que perdem o pai Otis( Keith David) de maneira misteriosa quando um objeto não identificado cai dos céus e o fere em um dos olhos. Após a tragédia, a dupla então se vê encarregada de assumir o rancho da família que tem como principal foco fornecer cavalos treinados para gravações cinematográficas.

Porém, meses depois, quando notam uma possível ameaça alienígena pela primeira vez, todo o objetivo se torna capturar a evidência perfeita em vídeo, com a ajuda de um técnico de informática (Brandon Perea) e um documentarista cult (Michael Wincott).

Trazendo fortes referências a uma vasta gama de gêneros e estilos, o filme ecoa tanto traços de  Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977) quanto Sinais (2004) e até Tubarão (1975) e até pincelando algumas outras referências como por exemplo Akira e Evangelion, Peele mostra ainda mais a vontade para mostrar suas propostas mais autorais, mesmo em um projeto de grande orçamento. Não! Não Olhe, talvez seja o projeto que menos entrega reviravoltas mirabolantes e isso pode até frustar alguns, já que aqui, a viagem que o diretor propõe está além da jornada dos seus personagens e que apesar da história mirabolante,traz até uma linha de roteiro simples, mas é no seu recheio o seu maior triunfo. Separada em capítulos (cada um batizado com nome dos cavalos), a narrativa nunca se conecta de maneira óbvia e nem entrega respostas fáceis. É um longa que atira para muitos lados, algo que pode ser interpretado como experimental por uns, e desconjuntado por outros. O diretor parece ciente que sua obra definitivamente não funcionará para todos, mas que se beneficia de ser sentida ao invés de decifrada. Há inúmeros comentários em seu escopo como sensacionalismo midiático, abusos e controle animal assim como outros temas sociais que podem trazer inúmeros diálogos após a sessão e nas redes sociais.

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Outro ponto a destacar é o domínio técnico que o seu realizador tem em conduzir sua obra. Peele com um orçamento ainda mais generoso que antes e um controle total se mostra um cineasta ainda mais completo. Filmado em IMAX, o projeto e o diretor sabe explorar e fazer uso de belíssimas tomadas de plano aberto trazendo o céu como foco e paranoia. Seu domínio da tensão nunca esteve tão afinado, em um filme altamente sufocante por sua intensa aura de mistério, e pela forma que demora para revelar seus horrores ao olhar do espectador. Seu estilo autoral com certeza se mistura com de grandes realizadores do gênero como Hitchcock, Shyamalan e claro Spielberg.

O elenco é liderado por um Daniel Kaluuya sóbrio, contido, mas bem centrado e que entrega uma performance bem mais poderosa no segundo ato do longa, quando o ritmo da produção atinge um pico interessante. Porém quem rouba a cena é Keke Palmer com seu enorme carisma e jeito descontraído. A química entre os dois atores ultrapassa a tela e ambos garantem uma forte identificação com o público.

Perea e Yeun têm momentos de glória, é claro, e encontram espaço para brilhar ao lado da dupla, sempre trazendo uma leveza em cenas mais tensas e mostrando preparo para um trabalho tão complexo.

Pra finalizar Não! Não Olhe traz suspense, terror, comédia mas também vai lhe fazer sair da sala de cinema refletindo sobre as inúmeras entrelinhas propostas por Peele em sua nova e ousada obra que aqui acena para os mais diferentes gêneros cinematográficos não em um exercício de fanservice,mas para provar que pode se explorar muito do cinema principalmente do de gênero com os mais variados temas e não só os óbvios que os esteriótipos querem rotular, principalmente para os realizadores negros. Que as rodas de debates sejam ainda maiores que Nós com esse novo projeto do Jordan Peele!

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