Em 2018, o sucesso inesperado de Venom fez a Sony dá inicio a um “Aranhaverso” com os vilões do teioso. Mesmo detonados pela crítica, os dois longas do simbionte agradaram o grande publico, que se divertiu com a relação conturbada entre Eddie Brock e Venom que lembra obras que parecem saídas diretamente da primeira década dos anos 2000, quando adaptações de HQs eram contidas, sombrias, bobas de um jeito não tão irônico, e feitas sem muito apego ao material-base.
Morbius agora é a bola da vez. Surgido em 1971, o vampiro vivo apesar do seu ar enigmático e interessante história, nunca foi um personagem que ganhou destaque nas mídias, sendo mais lembrado na clássica série animada do Homem-Aranha nos anos 90. Pois a Sony Pictures decidiu apostar de fato nele pra rechear seu universo de vilões, uma vez que o Aranha está muito bem no MCU com Tom Holland.
Se achar que trazer anti-heróis do cabeça de teia podem atrair o público tanto quanto o Amigão da Vizinhança ao menos a Sony precisa trabalhar melhor esse conceito em bons roteiros, pois, Morbius é um desastre já antecedido de projetos passados. Um filme perdido com gostinho datado e meio duvidoso em uma experiência simultaneamente medíocre e confortável como seu universo compartilhado.
A trama do longa segue Michael Morbius (Jared Leto), um dos mais brilhantes cientistas dos Estados Unidos, famoso por ter criado uma versão artificial de sangue responsável por salvar milhões de vidas. A grande ironia é que ele próprio sofre de uma doença sanguínea desde criança, que lhe força a fazer três transfusões diárias, sem falta, além de manter todo seu corpo em estado precário.
Assim, ele dedica sua vida em busca de uma cura, com o apoio de seu amigo Milo (Matt Smith), afetado pela mesma condição que o doutor. Morbius têm sucesso ao cruzar o DNA humano com o de morcegos-vampiros. A euforia inicial de ver seu corpo regenerado logo se torna um pesadelo quando ele passa a desenvolver sede por sangue. O doutor descobre ter se tornado um vampiro com instintos animalescos, e precisa lutar para controlar seu lado monstruoso.
O roteiro de Morbius é quase que literalmente parecido com o primeiro Venom, utilizando a velha e batida historia de origem que já nem mais se usa nos filmes do gênero hoje. O protagonista ao ser infectado adquirindo habilidades sobre-humanas, ao mesmo tempo que precisa domesticar sua voracidade interior. Um antagonista com as mesmas habilidades do personagem principal, que com isso se ver na posição relutante de ser um herói para impedi-lo. A formula é reciclada sem medo aqui com uma pitada de O Medico e o Monstro e referencia a inúmeros filmes de vampiro como Drácula e Nosferatu, mas lá Sony/Marvel de ser. Não chega a ser intragável, mas um abismo bem grande de ser uma obra memorável dos quadrinhos.
A direção de Daniel Espinosa também não ajuda e parece está no automático. O cineasta conduz seu elenco de forma mediana, onde cada um tenta mostrar o que pode dentro das rasas motivações de seus personagens. A edição prejudica ainda mais a imersão, sendo desconjuntada em vários momentos e somente despejando a história sem estabelecer tempo para a tensão ou drama.
Jared Leto está comprometido no papel e quem tenta fazer o longa funcionar, entregando uma fisicalidade surpreendente para Michael Morbius, seja nos momentos em que seu corpo se revolta contra ele, no seu semblante fantasmagórico, ou na dor internalizada de uma mente brilhante que não sabe como resolver o próprio problema. Claro que dentro do que se pode extrair do roteiro. Adria Arjona é outra que assim como Leto está comprometida com sua personagem. Já o eterno 11º Doutor de Doctor Who, Matt Smith está se divertindo apesar do seu vilão está bem destoado da trama e suas motivações serem bem pífias. Pior fica para Jared Harris e Tyrese Gibson. O primeiro é uma figura paterna mal explorada pelo roteiro e o segundo faz praticamente uma participação especial.
A ação do longa tem pontos positivos e negativos. De bom está na movimentação vampiresca do protagonista que lembra em alguns momentos o teletransporte do Noturno em X-Men 2. Até o segundo ato as lutas são deveras atraentes, ainda que sempre estejam encaixadas na ideia de funcionarem dentro do cinema de horror, o problema está no terceiro, onde o uso excessivo de CGi e a bagunçada edição não nos permite entender o que se passa. E falando em CGi nos momentos de slow-motion (câmera lenta) é perceptível que as feições dos personagens ficam bem a desejar.
No final Morbius é uma bagunça daquelas que você assiste e a vida segue. Um filme que mira no mediano e na conveniência e serve unicamente porque a Sony desejou construir seu universo compartilhado sem ficar dependente do MCU . Assim como seu antecessor Venom, o novo exemplar irá atrair e divertir um publico mais casual que apenas queira ver mais um filme de super-herói e só! Agora é esperar pra ver as próximas apostas desse universo do estúdio.
*Existe duas cenas durante os créditos