A grande novidade do ano de Neil Gaiman finalmente chegou! Não, não estou falando da série “Deuses Americanos“, mas passa perto dos deuses. O novo livro do autor britânico é quase um compêndio sobre os mitos nórdicos, e se ele tem escrito sobre Thor, Loki e Odin, será uma forma definitiva de se ler sobre esses deuses pagãos tão importantes para a história. Lançado em março de 2017 pela editora Intrínseca, de modo que acompanha o mesmo mês de lançamento dos outros países, teremos aqui um conteúdo interessante e em ótima qualidade para os colecionadores, pois a edição é em capa dura.
“Gaiman costura história primordiais com um arco romântico que começa com a gênese de nove mundos lendários; explora as origens das divindades, anões e gigantes; e culmina em Ragnarok, o crepúsculo dos deuses e o renascimento de uma nova era e de um novo povo”.
Desde “Sandman” o autor refletia a respeito dessa reunião de momentos da cultura viking, sendo que na ficção é onde que encontramos várias versões da mesma história, onde nos apropriamos e contamos como achamos mais emocionante. Diferente disso, o autor busca reunir mais conteúdo buscando referências nos primórdios tempos em que os primeiros autores falaram sobre os deuses em poemas, cânticos e até relatos. Gaiman agradece a influência dos quadrinistar Jack Kirby e Stan Lee, por criarem o herói Marvel “Thor”, pois lia desde sua infância, e hoje, decidiu levar essa lembrança mais além, fazendo uma visão paralela dessas visões que permeiam a cultura pop com livros, HQ’s e filmes.
Nos contos, os personagens que conhecemos por outras obras são restaurados de maneira convincente e que nos fazem perguntar se não seriam mais apropriadas essas versões, a exemplo de Loki, que se torna mais interessante ao ser visto como parte dos deuses, ainda que esteja lá pra implicar e ser egoísta como bem sabemos que ele é. O Odin visto em “Deuses Americanos” e em “Sandman” é um tanto diferente desse, sendo um inteligente estrategista, porém sádico o bastante para tomar decisões imprevisíveis demais para um “pai de todos os deuses”. Muitos nomes são dados para os grandiosos, mas seus dons não mudam. Para quem não conhece com precisão, haverá um breve capítulo dedicado a apresentar os principais personagens que estarão na maioria desses contos.
Um dos mais divertidos é “O Casamento incomum de Freya”, onde pedem a mão dessa bela e temperamental deusa. Outro destaque é “O Mestre Construtor”, quando vemos como o muro dos deuses foi criado. Como um todo veremos o quanto os deuses gostam de uma boa aposta, seja entre eles como com os humanos, anões e até gigantes, tudo por ocupação de tempo e diversão. Para quem gosta de algo mais brutal, o conto “Os Filhos de Loki” fará os leitores sentirem na pele o que está escrito nas páginas, aproveitando para conhecer o poderoso lobo Fenrir. Esses e muitos outros totalizam 15 mitos escandinavos imperdíveis para os fãs tanto de Neil, quanto do assunto mitologia.
Essa obra é um excelente tributo histórico, mostrando que Gaiman é realmente um dedicado autor, e com sua escrita faz sombrias interpretações, sem faltar com o humor negro e o sarcasmo a respeito do cotidiano dos deuses a exemplo de “O Hidromel da Poesia” e até mesmo os momentos mais marcantes de suas eternidades, incluindo o Ragnarok sendo relativizado, tendo em vista que é visto como o “juízo final” e um recomeço ao mesmo tempo. Muito se tem para apreciar quando encontramos tantas perspectivas diferentes, e essa pode ser uma definitiva amostra do mundo nórdico. Ao final, com certeza o leitor sentirá falta de mais… não por falta de conteúdo, mas por apreciar a criatividade e gostar da narrativa.
