É falar que Missão: Impossível é uma franquia consolidada é chover no molhado visto o quanto longeva é a série de filmes que chega ao seu sétimo longa (e ainda tem mais já programado para o próximo ano).
Todo o carinho e cuidado que o astro Tom Cruise tem pela franquia o faz querer extrapolar mais e mais seus limites. Se seu anterior Efeito Fallout era um novo nível para o cinema de ação, Acerto de Contas: Parte 1, consolida isso e equilibra ação e espionagem como somente a franquia faz nos ultimos anos.
Ethan Hunt (Tom Cruise) e a equipe do IMF formada por Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), Benji Dunn (Simon Pegg) e Luther Stickell (Ving Rhames) recebem outra importante missão: eles devem rastrear uma nova e aterrorizante arma que, se cair nas mãos erradas, pode representar uma ameaça para toda a humanidade. Com o controle do futuro e o destino de todo o mundo em jogo, a equipe precisa partir em uma corrida frenética e mortal ao redor do planeta. Além disso, Ethan ainda é confrontado por um novo inimigo misterioso e muito perigoso, e é forçado a aceitar que, para completar o desafio, nada pode importar mais do que a missão – nem mesmo sua própria vida.
O roteiro de Christopher McQuarrie(que também dirige pela terceira vez) e Erik Jendresen nos conduz por quase três horas ininterruptas de ação, suspense e cenas de ficar na ponta da cadeira para nos apresentar o inicio de um encerramento da jornada do Ethan Hunt junto a franquia(embora Tom Cruise recentemente colocar a possibilidade de continuar por mais um tempo nela). Com isso o personagem precisa acertar as contas com eventos de seu passado e com aquilo que o tornou quem ele é hoje.
Não é a toa que o filme aqui dialogue muito com o primeiro longa da série lançado em 1996 e dirigido por Brian De Palma. O clima de espionagem, a paranoia, além do retorno de Eugene Kittridge (Henry Czerny), são um dos pontos que converge em focar em algo mais pessoal do seu protagonista. Outro ponto é a apresentação do antagonista Gabriel (Esai Morales) com uma retcon curiosa do filme original, colocando ele como um dos principais motivos para o protagonista ter entrado na IMF.
Um destaque interessante do roteiro de Acerto de Contas – Parte Um,é que inteligentemente, ele entra de cabeça na discussão sobre inteligências artificiais, que virou foco nos ultimos meses. Os filmes da franquia já apresentaram ameaças nucleares, químicas, biológicas e muitos outros perigos terroristas, mas agora temos uma proposta voltada mais para a ficção científica. O que aconteceria se uma IA auto suficiente invadisse os sistemas do mundo todo? O que ela poderia fazer? O que seria da humanidade? Controle e manipulação de informações, deepfake e fake news estão no centro da história e confundem a realidade dos nossos protagonistas, que se torna ainda mais assustadora quando se trata de uma ameaça onipresente e invisível. Tudo isso lembra muito a terceira temporada de Westworld, por exemplo, que nos mostrou as terríveis consequências do domínio de IA sencientes que controlam até mesmo o seu destino. Isso misturado as estruturas politicas, elevam a trama a um patamar ainda mais moderno e paranóico como as grandes tramas de espionagem exigem.
Assumindo o comando de Missão Impossível a partir de Nação Secreta (2015), McQuarrie sabe equilibrar perfeitamente o clima de espionagem das missões com as ambiciosas cenas de ação propostas por Tom Cruise. Juntamente com o astro, o diretor sabe tornar as cenas em algo que mescla entre o exagero e o crível e torna aventura alucinante mesmo com a grande duração.
Alias se estamos falando de ação , temos que falar de Tom Cruise e suas peripécias insanas! O astro mostra que mesmo com seus 60 anos está a cada vez querendo se superar e realiza muitas cenas loucas, como a amplamente divulgada parte do salto de moto em um penhasco, mas isso é só um das loucuras que o astro faz aqui. Tudo é tão bem coreografado que, por mais que não alcance a excelência rítmica de um John Wick 4: Baba Yaga, ainda assim consegue ter seus próprios méritos, já que o conjunto da obra cumpre seu propósito com maestria.
Claro que nada disso seria um perfeito equilibrio, se o elenco não coopera, e aqui todo mundo está sempre maravilhoso. As adições de Hayley Atwell (Agente Carter) e Pom Klementieff (Guardiões da Galáxia) no elenco foi outro grande acerto da produção. Juntamente com performances excelentes dos veteranos Rebecca Ferguson (Duna), Simon Pegg (Todo Mundo Quase Morto) e Ving Rhames (Pulp Fiction), as duas atrizes entregam ótimas performances em cena, especialmente Atwell, que usa todo o seu carisma para construir uma personagem de grande relevância. Sua dinâmica com Cruise é tão natural que parece que ela sempre esteve presente naquele universo.
Contudo eu tenho que trazer uma ressalva aqui: o vilão Gabriel apesar de trazer um importante elo para confrontar o passado do Ethan, sua ameaça nunca parece ser o que o proprio roteiro lhe propõe. Ele acaba se tornando o elo “humano” do verdadeiro vilão da trama e acaba caindo um pouco no calcanhar de aquiles da franquia: seus vilões pouco memorável.
Mas pra finalizar Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 é mais um excelente exemplar da franquia que a cada vez consolida-se como uma das grandes do cinema de ação, equilibrando com perfeição ação insana com a espionagem tradicional e paranoica. A Parte 2 promete trazer novas peripécias ainda mais insanas de Tom Cruise e seu Ethan Hunt.