Midsommar | Entenda o que aconteceu no final do filme

Catarina Lopes
9 Min de Leitura
Reprodução/IMDb

ATENÇÃO: Esse texto CONTÉM SPOILERS de Midsommar. Sério, vai estragar o filme se você não tiver assistido. Assista e volte para entender o final.

Eu já assisti Midsommar duas vezes e, nas duas, assim que os créditos começam a descer, sempre tem um “Hum?” coletivo, além de risadas nervosas ao longo de todo terceiro ato. O que foi aquilo? Qual o sentido da Dani reagir assim?

Para mim, Midsommar é assustador pois, além de todo gore muito bem iluminado, me faz pensar até onde eu iria para me sentir acolhida. Vemos Dani ter uma amiga fisicamente distante com quem ela conversa pelo telefone, sem contato físico, sua família complicada que mora longe, e seu namorado e grupo de amigos que mal toleram ela.

Mesmo antes da tragédia que ocorre pré-créditos iniciais, Dani não tem pessoas que lhe dão apoio – até o pouco que ela pede do namorado, com a má vontade dele, parece demais, mais do que ela merece. Então, mesmo quando ele faz algo de legal – como levar ela para sair ou convidar ela para uma viagem – é com um ar de pena e obrigação que lembra Dani que ela não é querida, e sim um estorvo.

Dani não pode nem chorar em público; vemos que ela se sente na obrigação de ir para um lugar fechado, já que ela não quer sentir que está incomodando ainda mais. E o discurso de Pelle, questionando se ela se sente acolhida por Christian e se ele a faz sentir em casa, dão o espaço que ela precisa para analisar a situação dela.

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Então quando a vestem com um avental de Hårga, falam que ela é linda e cozinham junto com ela, vemos ela amolecer um pouco com a comunidade, passando a ser mais receptiva e escolhendo ignorar um pouco mais suas suspeitas. Quando ela senta à mesa com seu grupo de americanos, ela está mais rígida, inclusive deixando claro que ela sabe que Christian a vê como uma obrigação, uma que ele está disposto a abandonar caso se torne muito inconveniente.

No dia seguinte, seus amigos somem, e a separam novamente de Christian, vestindo ela completamente como uma jovem de Hårga e a preparando para uma das tradições que ela estava mais interessada. Dani alucina novamente que está criando raízes ali, virando parte do ambiente. Ela também fantasia que está se comunicando em sueco com uma das jovens, vencendo uma das poucas barreiras que a separam do povo – ela já parece completamente um deles.

Então, Dani ganha o concurso, e toda a comunidade abraça ela, diz como a ama, e Pelle inclusive a beija. Ela até vê sua mãe em meio ao grupo. Enquanto isso, Christian está separado, distante. A mesa inteira espera ela levantar seu garfo e comer, seu assento na cabeceira indicando um novo status. Mesmo quando tentam forçar ela a fazer algo desagradável – comer um peixe inteiro – e ela não consegue, não existe punição, só risadas agradáveis. “Agora você é uma de nós”, uma das locais afirma.

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Ela é separada uma última vez de Christian, que representa seu laço com sua antiga vida, e participa de um ritual breve de colheita e fertilidade. Mas agora o importante ocorre – após ver seu namorado traindo ela, ela corre para o quarto chorar, e toda a multidão de mulheres segue ela. Numa sequência icônica, vemos uma dezena de mulheres chorar em uníssono, igualando suas respirações e gritos. Empatia extrema. A dor de Dani não só é aceita como é compartilhada, vivida por cada uma das mulheres ali. Mais acolhimento do que ela recebeu em sua vida toda.

Ali ela larga completamente seu passado. A próxima vez que a vemos, ela está coberta de flores, uma metáfora visual para todo o afeto que agora a cobre, no centro das atenções, com o poder de se vingar do último traço da sua vida sofrida. E é o que ela faz.

Christian está completamente imobilizado – todo o poder está com Dani. Ele é enfiado dentro da carcaça de um urso, que representa, de acordo com o discurso proferido na porta do templo, todo o mal. Quando queimado, ele expurga todas as coisas negativas da vila, gritos vindos do povoado. Dani só sorri – ela finalmente destruiu, expurgou, todos os traços da sua antiga vida.

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Tá, tudo isso é muito legal, mas e todo o resto do terceiro ato? O que era aquele ritual de fertilidade? Porque matar Christian e os outros e deixar Dani viva?

Um dos sábios cita que é necessário trazer pessoas de fora para reproduzir no povoado por questões genéticas, e Christian serve para isso – Maja estava focada nele desde a primeira vez que o viu, indicando que Pelle deve ter comunicado a ida de Christian mais cedo do que imaginamos. Mas, para reprodução, a utilidade do homem é momentânea – Christian é usado e descartado.

Enquanto isso, Dani é uma mulher, o que significa que ela teria que ser cuidada por no mínimo nove meses até não ser mais útil. E talvez isso acontecesse caso ela não tivesse vencido o título de Rainha de Maio, que a faz ser reconhecida legitimamente como uma igual pelo povo, que antes estava só preparando o terreno para fazê-la participar do concurso.

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Pelle é recompensado por trazer a Rainha de Maio e mais três – sua recompensa deve ser a própria Rainha de Maio. Já seu irmão, Ingmar, traz duas pessoas que não são receptivas a Hårga desde a primeira coisa absurda, e é punido por isso, sendo convidado a ser um dos que entra no templo a ser queimado. É sim uma punição, já que enganam os vivos de Hårga, oferecendo uma pomada que supostamente os livra da dor, mas que não funciona, pois eles sofrem até a morte. É de se pensar o que os pais de Pelle fizeram para terem, segundo ele, “morrido em um incêndio”.

Os outros parecem nunca ter sido considerados mais que sacrifício, por isso pouca atenção é dada a eles. Tudo indica que eles não eram um bom par astrológico para ninguém. Não sei se é sorte deles – pelo menos eles morreram sem comer pelos pubianos e beber sangue de menstruação.

Midsommar é um filme com ainda mais detalhes e sinais espalhados por todo o filme, algo que só fica claro a partir da segunda visualização; por exemplo, o mural que aparece assim que o filme começa mostra todas as principais cenas do filme. Vale a pena assistir de novo e continuar pesquisando por novas interpretações e detalhes perdidos. Boa investigação e skål!

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Jornalista em formação e fã de cultura pop por natureza
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