Produções que lidam com a temática do autismo, não são uma raridade em Hollywood, mas se tornaram um pouco mais populares nos últimos anos, visto o quanto o tema foi mais discutido e aprofundado. A série ‘Atypical’ da Netflix é um grande exemplo de como explorar o tema sem ser forçado e entregar algo reflexivo e conscientizador para o grande publico.
O diretor, Tony Goldwyn, possui uma curta filmografia e não dirigia um longa desde 2010, mas atuando em papéis pequenos em grandes produções como ‘Oppenheimer’, ‘Divergente’, ‘King Richard’ e, claro, fazendo a voz do Tarzan na grande animação da Disney de 1999. Em seu novo projeto que chega nesta quinta-feira nos cinemas intitulada Meu Filho, Nosso Mundo, o diretor consegue muito bem fazer uma discussão profunda sobre as diversidades de uma família com um filho autista, principalmente da relação pai e filho.
No longa, acompanhamos Max (Bobby Cannavale), um comediante de meia idade que fracassou na profissão e na família, e que ainda mora com seu velho pai (Robert DeNiro). Ele não concorda com Jenna (Rose Byrne), sua ex-esposa, sobre a melhor maneira de proceder com a educação e terapia de Ezra, filho de 11 anos e diagnosticado com autismo. Após um grave acidente que o proíbe de visitar seu filho por meses, Max decide viajar com Ezra pelo país, enquanto seu pai e Jenna tentam encontrá-lo.
A estrutura do roteiro e até da parte técnica do filme é bem simples, mas muito bem cuidada no geral, contudo é na sua abordagem com a temática e seu elenco que ele se sobressair com destreza.
Acompanhamos as dificuldades na criação de uma criança no espectro autista. O que não existe um protocolo padrão. Enquanto a mãe está disposta a trilhar uma abordagem com intervenção com uso de medicamentos e em um ambiente adaptado às peculiaridades de Ezra, Max acredita que esse olhar o distancia do mundo e foca em suas limitações ao invés de explorar suas potências, “fazer com que o filho faça parte do mundo real, não apenas do mundo dele” como o protagonista diz no longa.
Porém, Max também precisa lidar com questões relacionadas à sua criação, sua dinâmica com seu pai, a não superação de seu divórcio e um aparente trauma com o abandono de sua mãe.
Bobby Cannavale é o coração do longa no papel de Max, conseguindo inclusive dar credibilidade ao melancólico material de stand-up que seu personagem performa. Robert De Niro tem uma atuação sutil como um pai emocionalmente reprimido que nunca descobriu como comunicar seus sentimentos ao filho.
O jovem William A. Fitzgerald, que de fato pertence ao espectro autista, traz uma autenticidade incrível para o drama. Diversas cenas são elevadas por momentos que parecem ser fruto de um improviso tamanha a espontaneidade Fitzgerald. Rose Byrne também merece destaque no papel de Jenna, a mãe de Ezra.
Pra finalizar, Meu Filho, Nosso Mundo é comovente e reflexivo na sua mensagem sobre o autismo e na relação entre pais e filhos, mostrando que a cura para essa família disfuncional passe por um amadurecimento dos genitores, mas também pelo acolhimento de todos os envolvidos. Um longa que vai emocionar muitos nos cinemas, mas que com certeza tocará profundo em quem tem alguém na família com espectro.