Revivendo uma citação: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, não seria fácil viver com algo que é necessário esconder de todos. Originalmente lançado em 2012, “Mentes Sombrias” é o livro inicial da saga escrita por Alexandra Bracken, jovem autora com um futuro promissor no mercado literário, tendo em vista sua paixão por leitura e história. Sua distopia vai além do que muitos esperam desse lançamento da Editora Intrínseca, que é o “quando os X-Men se encontram no universo de Jogos Vorazes“, uma ligação comum para quem leu a sinopse. Acompanhe nossa precoce protagonista nessa narrativa em primeira pessoa e entenda que “as mentes mais sombrias tendem a se esconder dentro dos rostos mais improváveis”.
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Ruby é uma jovem sobrevivente de uma minoria de adolescentes que nem sabem a razão do que os fazem ser tão diferenciados da grande maioria que morreu em virtude de uma epidemia, essa que dizimou 98% das crianças nos Estados Unidos. O governo lida com a situação como se fosse um tabu, além de sofrer uma crise financeira em grande escala, o que trouxe ao país mais insegurança e desemprego. Essas crianças são detentoras de grandes habilidades, mas são caçadas por organizações que desejam fazer experimentos com a desculpa de que serão “tratadas” em isolamento. Os pais se veem obrigados a respeitarem essa voz de comando, o que trará maior impotência dessa nova geração, abandonada pelos adultos.
Em menos de 80 páginas será possível enxergar Ruby como ela realmente é. Não é fácil gostar de uma personagem omissa e sem atitude, mas ela passará por tanto em tão pouco que entenderemos o que é viver em sua pele, nessa atmosfera visceral. Os demais personagens logo chegam para trazer interações importantes para a trama. Suzume (ou Zu, como foi apelidada) é a mais jovem do grupo, e ainda assim consegue nosso carinho imediato. Liam e Bolota (Chubs no original) são a força ativa do time de adolescentes que tomam as rédeas de suas vidas, tornando a trama mais vívida e diferente dos inícios monótonos que estamos acostumados. Até mesmo o romance já é visto de modo sutil e condizente com o momento caótico.
Destaque para a Dra. Cate Begbie, que diante de todas as circunstâncias foi cuidadosa com seus passos e deu uma amostra da quantidade de mulheres em sua diversidade serão representadas no total de 382 páginas. A leitura é daquelas que lhe causa o desconforto quando necessário, e isso está claro desde o início. Além de uma escrita objetiva, a autora passa de maneira fluida seus temores aos olhos de Ruby. Tudo que vivenciamos aqui é plano de fundo para algo muito maior que virá nos volumes seguintes. Além dos maus-tratos e da banalização da violência, não é surpresa encontrar o preconceito e a desigualdade social. Muitas surpresas estão prontas para nos manter lendo essa franquia por mais alguns anos.
O lançamento recebeu atenção somente nesse ano, com a chegada da adaptação para o cinema, com um elenco divino. Pelo trailer, quem leu o livro pegará todas as informações que vieram desse livro, seja a classificação “verde” que Ruby ganhou no acampamento de Thurmond, um dos principais e o primeiro campo de reabilitação criado, onde as crianças eram “curadas” da NIAA (Neurodegeneração Idiopática Adolescente Aguda), ou a revelação dos poderes que até então eram desconhecidos. A ideia da autora se distancia do que julgamos ser um novo “Jogos Vorazes” em questão de distopia, ainda que seja igualmente conturbado, até aquele pensamento de estarmos condenados a lutar ou morrer.
Sem sombra de dúvidas, “Mentes Sombrias” está entre um dos melhores do gênero, pois o ritmo e a construção dos personagens é gradativamente pensada. Podemos ver que não é um mundo tão diferente do nosso, e por isso desejamos encontrar uma solução com cada personagem envolvido nesse holocausto norte americano. A conclusão é o que mais dói, pois é um livro que não queremos terminar.