Em Men: Faces do Medo, Harper (Jessie Buckley), na sequência de uma tragédia pessoal, retira-se sozinha para uma casa na zona rural inglesa, esperando ter encontrado um lugar onde possa se recuperar. Mas alguém – ou algo – dos bosques circundantes parece persegui-la. O que começa como um pavor latente torna-se um pesadelo formado, habitado pelas suas memórias e medos.
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Seguindo o caminho de muitos diretores e roteiristas que tem mergulhado nas lutas sociais para entregar longas que mostram – em diferentes níveis de crueza – o pior do ser humano e de sua mente, Alex Garland (Aniquilação, Ex Machina: Instinto Artificial) usa as magníficas atuações de Jessie Buckley (A Filha Perdida) e Rory Kinnear (Penny Dreadful) para falar sobre machismo, sexismo e misoginia através de muitas metáforas. O discurso do filme não é óbvio e se por um lado isso é seu ponto forte, também acaba sendo o seu ponto fraco.
Os ares ambíguos de Men não aparecem logo no início, mas quando surgem, são seguidos por muitas questões e interrogações por parte de quem assiste. Sabemos o que está acontecendo por trás da belíssima fotografia do filme – Harper está de luto, sente culpa, quer se sentir bem outra vez -, mas os acontecimentos de seu entorno vão deixando tudo confuso e os traços de sexismo e misoginia dos personagens masculinos vão surgindo de forma sutil cena após cena.
O roteiro a todo momento quer nos passar a mensagem oculta do filme dizendo muito seguindo por uma linha sutil e visceral (se é que é possível descrever assim). É um filme de mensagem, que quer nos fazer pensar, mas que não nos entrega realmente uma resposta ou mesmo um possível caminho que vá nos levar a deduzir que fim todas as cenas bizarras vão ter, e isso vai gerando mais e mais frustração.
Não há muitas explicações, condições ou deduções a serem tomadas além de entender que o longa é uma mensagem crua e realista dentro das metáfora que vai criando. É um emaranhado de “só quem viveu reconhece o problema nisso aqui” em algumas passagens, enquanto outras são mais evidentes no que diz respeito ao seu propósito.
Durante todo o filme, para além da estranheza dos personagens esquisitos e dos aparentemente normais – sendo eles todos interpretados pelo mesmo ator, com diferentes tipos de maquiagem -, há essa dança entre o “motivo” do terror que não parece óbvio (monstro? perseguidor? alucinação? seita?) e o próprio frenesi sem sentido dos acontecimentos ao redor da protagonista.
Sabe a confusão que sentimos assistindo Mãe (Darren Aronofsky), Hereditário (Ari Aster) ou mesmo Donnie Darko (Richard Kelly)? Men nos trás uma sensação parecida como essa a principio, mas ao deixar o propósito do longa no limbo da ambiguidade e da interpretação, ele acaba colocando a si própria naquela famigerada lista de “filmes para poucos” de uma forma mais negativa que os anteriores. Frustra, porque apesar dele nos entregar e mostrar muito, nada parece ser suficiente para nos fazer criar teorias.
É um filme estranho e muito muito bonito, fala sobre tristeza, luto, apego e as escolhas difíceis que as pessoas precisam fazer para que possam ser felizes, mesmo que isso machuque outras pessoas. Fala sobre se priorizar e perceber que, muitas vezes, se manter em relacionamento pelo bem do outro pode acabar consigo mesmo, ou com ambos. É um filme sobre o machismo que é escancarado e também o velado, e sobre como ele está em todo o lugar e renasce a cada nova geração.
Men: Faces do Medo trás uma mensagem que pede um esforço extra para que você embarque, é como uma obra de arte que tem um objetivo claro desde a sua criação, mas que obriga as pessoas a pensar, analisar e refletir sobre o que viram na tela. Não para entender fielmente o que seus autores quiserem passar, mas para encontrar um sentido naquilo que viram.