Acredito piamente que Elio, o protagonista de Me Chame Pelo Seu Nome, é um personagem criado no intuito de nos identificarmos com seus dilemas amorosos em qualquer fase da vida, sendo primeiro, segundo ou quinto amor que possamos ter. E é esse o grande trunfo da história.
O livro escrito por André Aciman, chegou no Brasil pela editora Intrínseca em 2018 com um hype enorme, já que o filme originado do livro, vinha sendo aclamado pela crítica especializada desde 2017 e, concorria ao Oscar. Nele, o autor nos apresenta Elio, de 17 anos, filho de professor universitário. Ambientado nos anos 80, os pais de Elio sempre recebem jovens acadêmicos nos verões e os ajudam em suas pesquisas. No verão em questão, a chegada do estudante americano de 24 anos, abala as estruturas do jovem Elio, e daí que a sua jornada na descoberta do primeiro amor começa.
Diferente de muitas histórias LGBTs, o protagonista é bissexual assim como Oliver. A todo momento esperava algo que rotulasse ambos como um possível casal gay, mas existiu. Ambos sentem atração um pelo outro e, também por mulheres. O que considero essencial em tempos que a sigla B, é tão inviabilizada dentro e fora da comunidade LGBT+.
A questão do amor retratada no livro, é trabalhado desde aquelas faíscas e borboletas no estomago de Elio, até a cena clímax de revelação dos sentimentos nutridos. Essa jornada é suave, confusa e dura semanas, pelo motivo de não se fácil e de quebra, conseguimos nos ver na situação.
O autor nos leva literalmente de carona na história de amor entre Elio e Oliver. Há suavidade e há também loucura, já que em certos momentos Elio se contorce de desejo naquilo que ainda não pode tocar, sentir e de certo modo experimentar.
“Foi o mais perto que cheguei de dizer Fique. Só fique aqui comigo. Deixe que sua mão viaje por onde ela quiser, tire meu calção, me pegue, vou ficar em silencio, não vou dizer a ninguém, estou duro e você sabe, e se você não fizer nada, vou pegar sua mãe e coloca-la dentro do meu calção e deixar que você coloque quantos dedos quiser dentro de mim”, pag. 33
A narrativa nos conduz a uma história dentro de um livro sem capítulos, só com sessões, o que pode parecer estranho, mas é algo curioso e nos faz querer ler sem parar. Existe uma riqueza de detalhes, não mórbida, mas cativante a casa virada de página.
O ponto de vista é do Elio, mas considero que justamente aí que o livro e o autor peca. A visão de Oliver na história não seria crucial, mas acrescentaria bastante saber seu ponto de vista e seus pensamentos mais profundos a respeito de Elio. Se existe tantos Elios no mundo, com certeza existem diversos Olivers espalhados por aí vivendo dilemas iguais.
Se é algo que não se pode reclamar, é dos diálogos entre Elio e Oliver e, especialmente da conversa clímax entre Elio e seu pai, algo lindo, tocante e que nos faz refletir sobre até que ponto nos destrói não querer sentir nada, ou é melhor sentir? É algo que o livro aborda de modo sem rodeios e direto ao ponto.
“A natureza sabe como encontrar nossos pontos mais fracos. Apenas se lembre: estou aqui”, pag 258.
Me Chame Pelo Seu Nome é uma grande surpresa, e é inegável como ele pode tocar diversos corações sem ao menos tentar. O amor vai ser bondoso, alegre e delicioso sem sombra de dúvidas, mas existe sempre o ‘mas’, e ele pode ser bastante frustante, mas como o livro aponta, nada disso será esquecido, mesmo que você lute para enterrar o que viveu com o outro, ela estará lá: as lembranças.