Texto feito em conjunto com Emile Campos
Após 2 anos do seu anuncio e inúmeros trailers e expectativa, a Insomniac Games, responsável pelo incrível e insano Sunset Overdrive traz o mais novo game do personagem mais conhecido da Marvel: O Homem-Aranha.
Pegando o gancho do acordo entre Marvel Studios e Sony para uso do teioso no MCU, Marvel’s Spider-Man além de ser o melhor game do personagem, é um retorno triunfal da Casa de Ideias ao mundos games e chega pra redefinir como fazer jogos baseados em quadrinhos nessa geração de consoles.
A Insomniac Games tomou a ótima decisão de criar seu próprio universo para o Homem-Aranha. A base é obviamente baseada nas HQs, mas ela também “pesca” elementos dos filmes, especialmente dos primeiros, do Sam Raimi, que popularizaram muito o personagem numa época em que não tínhamos tantos filmes de herói. Como foi extensivamente divulgado em entrevistas e trailers, o Homem-Aranha deste jogo não é um adolescente descobrindo seus poderes, masum jovem adulto que já se sente confortável com sua identidade e faz o papel de herói há alguns anos. Essa abordagem é muito interessante porque permite mostrar vários personagens que fazem parte da vida de Peter Parker (direta ou indiretamente) sem ter que ficar apresentando um por um, o que dá mais espaço para aprofundar as personalidades deles e seus relacionamentos com o herói.
Focando no enredo em si, temos uma história bem construída, com diferentes conspirações acontecendo ao mesmo tempo e uma boa relação de causa e consequência nas ações. Infelizmente não darei mais detalhes pra não entrar em spoilers, mas vou tentar falar em termos gerais. Os desdobramentos fazem sentido lógico e a história muitas vezes é um tanto previsível, mas é contada de maneira cativante e prende o suficiente para querer saber o que vai acontecer, com um final bastante recompensador e que me surpreendeu em sua profundidade.
Um pequeno esmero que merece ser citado é a presença de cenas pós-créditos.Marvel’s Spider-Man possui duas cenas dessas. Será que seriam elas indícios de uma gancho para uma continuação ou apenas easter eggs para mexer com os fãs? Bom, independente da finalidade mostra como a Marvel Studios está presente e que a experiência passada fosse muito mais do que um jogo, transformando mais uma mídia do seu extenso Universo compartilhado.
No quesito jogabilidade, tenho que dizer, a Insomniac realizou um trabalho sensacional! Sério,eles entenderam perfeitamente a importância do deslocamento num jogo do Homem-Aranha e deu pra ver o cuidado e a atenção que a empresa deu para esse aspecto central no game. Se balançar pela cidade é sempre uma diversão e quanto mais você pega o jeito da coisa, mais legal fica. O simples fato de se deslocar de um objetivo a outro, ou perseguir o próximo colecionável, acaba se tornando grande parte do atrativo do jogo porque você vai querer se balançar, saltar e se lançar da maneira mais fluida e cinematográfica possível(as vezes até esquecer as missões rsrsrs!). Os desenvolvedores inteligentemente vincularam sua velocidade de balanço ao nível do herói, então o Homem-Aranha se mexe mais rápido conforme você progride e se familiariza com os controles, mantendo a experiência de se mover por aí satisfatória ao longo de todo o jogo.
Você se sente em pleno controle o tempo todo, mirando exatamente onde quer ir no próximo balanço ou lançamento, com o personagem fazendo umas acrobacias extras ou umas passagens animadas para manter tudo bonito e empolgante. Este provavelmente vai ser o jogo de mundo aberto em que as pessoas menos usarão o fast travel.
O combateé outro ponto extremamente importante da jogabilidade e que ficou quase tão bom quanto se balançar.Vendo trailers e outros vídeos de divulgação, muitas pessoas(inclusive eu) mostraram preocupação na similaridade do combate com o estilo dos jogos da série Arkham, do Batman da Rocksteady. Os próprios devs da Insomniac Games não escondem as influências quando falam do sistema de luta no jogo. Mas, se você já jogou bastante os Batmans e adentra bastante nas mecânicas desse Spider-Man, haverá um consenso tranquilo em afirmar: o combate é bem diferente.
Enquanto na série Arkham os devs buscaram dar ao jogador uma sensação de racionalidade e estratégia, em que você se mantém no controle da luta, sempre planejando seus próximos golpes de maneira calculada, em Spider-Man a sensação é muito mais de reflexos e improviso, em que você reage ao que está acontecendo e vai fazendo o que dá vontade na hora. Ou seja, ambos ótimos exemplos de como alinhar o gameplay ao perfil do personagem de um universo já estabelecido e popular.
Na maioria dos combates em Marvel’s Spider-Man você vai enfrentar uma grande quantidade de inimigos ao mesmo tempo. A câmera fica bem próxima do herói, algo que pode causar estranheza no início, mas depois faz sentido. Você deve se acostumar a desviar-se de ataques sem ver, aprendendo a confiar no “sentido aranha”, um poder central para o personagem e que ganhou sua devida importância no gameplay. É possível interagir com diversos objetos no cenário e o gameplay recompensa muito o combate aéreo, todos esses aspectos que diferenciam demais a experiência neste jogo e tornam seu combate muito original.
E temos também os gadgets, é claro. Eles adicionam uma camada extra de improviso, convidando o jogador a aproveitar janelas de oportunidade em que um gadget vai ter seu potencial usado ao máximo. A bomba de teia, por exemplo, é ótima para um quarto apertado com inimigos menores, colando a maioria deles na parede na hora. É bem divertido usar os gadgets.
Cabe falar aqui também, rapidamente, sobre os segmentos de furtividade. Não são tão frequentes e oferecem uma boa mudança no gameplay, o que ajuda a não cansar de ficar só se balançando e combatendo. O melhor é que, tirando algumas missões da história e desafios específicos, você pode abandonar completamente a furtividade e partir pra briga na maioria das atividades paralelas e até em outras missões da campanha. No modo “stealth” é ainda mais divertido usar os gadgets, já que ficar alternando entre eles não quebra o ritmo do gameplay como acontece no combate.
Falando no gameplay furtivo, temos algumas missões para jogar com a Mary Jane. Acredito que o termo que melhor caracteriza jogar com o interesse romântico do Homem-Aranha é um tanto a parte burocrata e chata do game. Não chega a ser categoricamente ruim, mas é tão menos divertido que o resto do jogo que fica uma sensação de “por que estou fazendo isso?”. Parece um obstáculo que você é obrigado a passar antes de voltar para a parte legal do game. A maior vantagem desses trechos de gameplay com a MJ é que eles não são muitos.
Outro detalhe é o sistema de níveis e desbloqueio de habilidades.Você consegue boas quantidades de experiência realizando as missões principais e secundárias do jogo e pouquíssima experiência fazendo as atividades paralelas. E essa ideia foi muito interessante, porque o incentivo de fazer outras atividades e correr atrás de colecionáveis vem de conseguir “tokens”. Fazer as mini-missões dos laboratórios de pesquisa do Harry Osborn, por exemplo, lhe dá tokens de pesquisa. Parar crimes espontâneos, tokens de crime, recolher mochilas, tokens de mochila, etc.
O desbloqueio de habilidades é baseado nos níveis que você ganha com experiência, cada novo nível libera um ponto de habilidade, que você gasta na sua árvore de skills. Já os gadgets, novas roupas e incrementos, você libera usando os tokens. Ou seja,há incentivos iguais tanto para as atividades principais e paralelas do jogo. E isso é muito interessante principalmente por causa da importância que o game dá para as diferentes roupas que podem ser desbloqueadas. Elas não servem apenas para estética, cada roupa tem um poder especial atrelado a ela que é liberado junto com o desbloqueio da roupa. E o mais legal aqui é que você pode usar o poder liberado de uma roupa em outra. A roupa do Homem-Aranha Punk, por exemplo, libera uma habilidade em que o herói tira uma guitarra e ondas sonoras mandam os inimigos longe. Depois de liberado esse poder, você pode equipar na roupa que quiser, não precisa usar a Punk.
Além de escolher um “poder do traje”, você pode também equipar mais três “modificadores” por vez, que também são liberados com tokens. Isso é muito interessante porque dá pra ajudar um pouco na customização do que você quer pro seu aranha, mais focado em furtividade, deslocamento, combate, etc.
Os gráficos do game estão excelentes para o que pode ser oferecido no console. A atenção aos detalhes e, principalmente, o trabalho com as luzes na cidade, ajudam na imersão e na sensação de deslumbramento quando estamos balançando por aí. O jogo tem, basicamente, três situações de luminosidade: dia, entardecer e noite. O entardecer especialmente é incrível, com a luz do sol invadindo as frestas entre prédios. Passar pela Times Square à noite também é certo para conseguir alguns sorrisos de muitos jogadores.
Os desenvolvedores tiveram uma atenção em especial para popular a cidade não só nas ruas, mas também em terraços e nas mais diferentes localidades, dando mais vida e uma noção maior da importância das suas ações, afinal você está defendendo uma cidade onde há pessoas indo e vindo.E com tanto movimento na cidade e elementos na tela, preciso elogiar a estabilidade do jogo. Apesar de rodar travado em apenas 30fps, o game não oscila em nenhum momento.
Também não posso deixar de mencionar a atenção e o cuidado com detalhes no desenho dos personagens e, obviamente, nas roupas do Spider. As pessoas são expressivas e suas feições têm nuances, o que ajuda demais na imersão da história. Já os uniformes do herói esbanjam capricho e inspiração e, mesmo roupas antigas como a do Aranha Escarlate, ganham um tratamento renovando trazendo mais detalhes e renovando o visual, mesmo sem abandonar sua essência. Acredito que os fãs de longa data, como eu, vão gostar muito do cuidado empregado na implementação dos diferentes visuais do Homem-Aranha no jogo.
O áudio do game é muito bom e segue o nível acima da média de qualidade do jogo.A dublagem em português está muito boa. Não dá pra querer que seja tão boa quanto o que acontece com a captura de movimentos dos atores que interpretam os personagens, mas temos vozes profissionais que mantêm a imersão no jogo, além do texto ser devidamente adaptado. Aliás, falando em adaptação, deixo aqui uma pequena ressalva ao fato dos nomes dos personagens não terem sido traduzidos. As pessoas chamam o nosso herói aracnídeo de “Spider-Man”, mesmo com o jogo em português. Isso causa MUITA estranheza pra quem não conhece a fundo as historias do personagem. O nome Homem-Aranha já está mais do que normalizado no Brasil, ele é chamado assim nos gibis, séries, filmes, etc. Não entendi essa escolha, e ela acontece com todos os nomes de personagens – o Rei do Crime é “Kingpin”, o Abutre é “Vulture”, etc, mas parece que a decisão veio da própria Marvel.
A trilha sonora mostra forte inspiração no que foi estabelecido na trilogia de filmes original, do Sam Raimi. As músicas casam bem com a temática e são perfeitamente funcionais.
Já da parte de efeitos sonoros não tenho do que reclamar. O herói tem um vasto repertório de piadinhas para usar ao longo do jogo e os NPCs também contam com uma biblioteca variada de falas. O som do impacto dos golpes e dos tiros ajuda na imersão dos combates e os sons característicos dos gadgets também ficaram muito bem implementados.
Marvels’ Spider-Man tinha uma missão muito clara: trazer de volta um dos maiores super-heróis da história para os games, assim como ressurgir a Casa de Ideias no meio, sendo um titulo obrigatório para fãs do herói e uma excelente recomendação pra qualquer pessoa que curte jogos de ação em mundo aberto. A Insomniac Games acertou em cheio no sistema de deslocamento do jogo, tornando o simples fato de ir de um lugar para outro uma grande diversão. Mas o jogo oferece ainda um divertido e complexo sistema de combate, um enredo interessante com personagens envolventes, ótimos gráficos e uma diversidade enorme de colecionáveis e itens para desbloquear. Tudo isso muito bem amarrado num ritmo que não dá vontade de parar de jogar. A meta foi alcançada com louvor sem sombra de dúvidas.