Máquinas Mortais | Adaptação impressiona visualmente, porém peca no roteiro

Danilo de Oliveira
6 Min de Leitura

Peter Jackson é um dos diretores mais engenhosos e talentosos do cinema atual. Seu trabalho na incrível trilogia O Senhor dos Anéis, abriu de vez as portas para o diretor tivesse carta branca em Hollywood. A refilmagem de King Kong, Um Lugar no Paraíso e até a emblemática trilogia do Hobbit, só nos mostrarão o quanto Jackson sabe dá qualidade e vigor a seus projetos.

Com seu calibre ele traz agora na cadeira de produtor, Maquinas Mortais, adaptação baseada no primeiro(lançada no Brasil ano passado pela editora Harpercollins)de uma série de quatros livros escritas por Philip Reeve que traz elementos da cultura steampunk com universo pós apocalípticos. Porém se a premissa da adaptação é boa, ela consideravelmente apresenta problemas em sua execução.

N trama a humanidade quase teve um fim em um conflito nuclear e biológico chamado de Guerra dos Sessenta Minutos. O mundo virou um descampado, a tecnologia foi praticamente extinta e todos os esforços humanos se voltaram para um único objetivo: fazer suas cidades sobreviverem. Para isso, elas precisam se mover, se tornando Cidades de Tração, para se afastar da radioatividade e doenças. Londres é uma grande cidade e está sempre a busca de novas cidades para se alimentar, como dita o Darwinismo Municipal: metrópoles consomem as cidades menores, que consomem vilarejos e assim por diante…No meio de um ataque de Londres à uma cidadezinha desesperada, Hester Shaw(Hera Hilmar), , tenta matar Thaddeus Valentine(Hugo Weaving), o maior arqueólogo da metrópole. Valentine é salvo por Tom Natsworthy(Robert Sheehan), um historiador aprendiz de terceira classe. De repente, ambos acabam caindo para fora da Cidade de Tração. Agora perdidos no vasto Campo de Caça, sem uma cidade para protegê-los, os dois precisam unir forças para sobreviver a um caminho cheio de saqueadores, piratas e outras Cidades de Tração. Além disso, ao que tudo indica Londres está planejando um ato desumano, envolvendo uma arma não usada na Guerra dos Sessenta Minutos, que pode dar fim ao pouco que restou do planeta…” Assim, a dupla precisará embarcar novamente na cidade em movimento, para derrotar o tirano – que também está construindo uma arma mortal para invadir as terras dos antitracionistas (os que não vivem em cidades predadoras sobre rodas).

Escrito por Jackson, Fran Walsh e Philippa Boyens e dirigido pelo estreante Christian Rivers (que era supervisor de efeitos visuais dos filmes de Jackson) Maquinas Mortais acerta ao traduzir com perfeição a visão tecno-apocalíptica abordada no livro. Combinando influências da estética steampunk à la Mad Max e traços da elegante e chique moda londrino-vitoriana, a roupagem visual do longa é certamente um atrativo e um deleite aos nossos olhos.As cenas de ação com as cidades se movimentando, as naves e cidades, tem um visual impressionante como só a Weta é capaz de desenvolver. Rivers utiliza conceitos e estruturas já vistas em outras obras baseadas em adaptações para construir as bases de um interessante universo cinematográfico que não só aponta para o futuro de nós mesmos, como também concretiza o autêntico e complexo conceito por trás da quadrilogia de histórias escritas por Reeve: a do “darwinismo municipal”.A teoria da cadeia alimentar de cidades, em si — que remete às atuais tendências neo-expansionistas e neo-imperialistas de potências como Estados Unidos, China e Rússia, determinadas a exercer um domínio territorial, econômico, social, cultural e político sobre nações menos poderosas —, é verdadeiramente instigante. A nossa ganancia pelo poder e tecnologia farão a gente a pagar pelos nossos erros e crimes a ponto de vivemos esse universo?

São perguntas intrigante, mas que não são desenvolvida devido ao grande problema do filme: Seu roteiro.A trama se faz um tanto genérica e os roteiristas prefere estabelecer um frágil romance adolescente nos moldes de Jogos Vorazes e Divergente a resolver os cruciais levantamentos que, quase que inconscientemente nos leva, sobre o presente caminhar da humanidade. O roteiro prefere seguir por varias soluções fáceis e suas reviravoltas em nenhum momento impacta na tela,trazendo também um grande numero de personagens que o filme não sabe desenvolver durante a trama.  Um desperdício de potencial, já que a obra tinha importantes questões como eu disse acima para serem explorada, mas os envolvidos preferiram utilizar os elementos mais clichês pra utilizarem em sua história.

A atriz islandesa Hera Hilmar consegue fazer o que pode com sua protagonista, mas alguns detalhes que o roteiro empurra pra ela, quebra com seu jeito invocado e destemido. Sua química com Robert Sheehan é inexistente e não gera nenhuma comoção no publico. O ator traz o velho clichê do herói relutante e em formação, mas seus trajetos só gera raiva e impaciência na plateia. Hugo Weaving é outro que tenta trazer charme ao seu vilão e faz o que pode com o que o roteiro lhe oferece, dando carisma e megalomania características trazida de alguns políticos atuais com o que vimos varias vezes no cinema.

Maquinas Mortais no final acaba sendo mais aquele filme moldado pra o entretenimento casual que uma obra que traz relevantes questões sobre nosso futuro. Tanto potencial para se criar uma franquia com questionamentos incríveis foi deixada de lado para se criar um roteiro raso que entrega muito menos do que as grandes promessas que faz em seus competentes minutos iniciais.

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