A segunda temporada de Manhãs de Setembro começa com a viagem de retorno da Cassandra (Liniker) a São Paulo, depois dela ter ido com Leide (Karine Teles) e o filho Gersinho (Gustavo Coelho), a um torneio de matemática em Curitiba. A 410km do destino final, uma falha no motor do carro faz com que o grupo precise chamar um mecânico. O mais próximo e provável de ir até eles no meio do nada é Lourenço (Seu Jorge), o pai que Cassandra não vê há anos.
- A Mulher Rei | Viola Davis traz uma história forte sobre guerreiras poderosas em épico de ação
- Moonage Daydream é uma experiência sensorial ousada a figura de David Bowie
Um dos pontos altos da temporada são as mudanças na vida de Cassandra as quais ela luta contra com todas as forças. Ela já fazia isso na primeira temporada ao descobrir que tinha um filho, mas a medida que o tempo passa a natureza dessa relação e a forma como isso cresce, toma diversas proporções, dando a ela responsabilidades não só físicas – como buscar o filho na escola -, mas também emocionais, afinal um dos grandes desejos de Gersinho é ter Cassandra presente em sua vida de verdade.
E a protagonista realmente luta contra isso e seu alter ego, a Vanusa, toma um papel ainda mais significativo nessa temporada, clamando e questionando Cassandra sobre voltar a ter uma vida de liberdade e sem amarras, onde ela pode fazer o que quiser com a própria vida. Mas com cada vez mais pessoas dependendo dela – seja dando atenção para o filho, o apoio para Leide, ou uma conversa para encontrar a paz com o pai -, Cassandra vai se dando conta que essa é a sua vida agora e é preciso trabalhar com isso.
O interessante dessa temporada é que ela fará algumas pessoas refletirem sobre o que liberdade quer dizer: o que viver a sua vida plenamente? Sempre projetamos o nosso futuro e o que não parece condizer com esse plano se torna um empecilho, o que pode nos fazer empacar no lugar, quando na verdade deveria se tornar um degrau para alcançar o plano maior, ou mesmo ser incluído nesse plano, que é o que Cassandra não consegue fazer a princípio.
Ela não queria a responsabilidade de um frio, mas tem. Ela não queria se tornar o ponto de apoio de terceiros, mas é. Ele gostaria de ter ficado mais tempo sem ver o pai, mas ele quer uma reconciliação. Ela não pode fazer tudo em prol dos outros, mas tem que fazer sua parte porque o dia-a-dia demanda isso, porém essas situações fazem com que ela – e a Vanusa – sintam que estão perdendo a liberdade que tanto lutaram para para ter.
E observar isso se desenrolar na tela é algo bonito, mas também frustrante e agoniante, porque independentemente de sua sexualidade ou orientação sexual, Cassandra é o tipo de personagem que passa por conflitos que muita gente consegue se identificar.
Para além da parte do roteiro focado na protagonista, o espaço dado aos outros personagens contribuem para que os seis episódios passem simplesmente voando. A narrativa da Leide, impecável desde a primeira temporada, só cresce nessa segunda parte, onde ela se vê entendendo melhor os preconceitos sofridos por Cassandra e permanece de cabeça erguida durante as várias e contínuas tentativas de conseguir um emprego, e poder conquistar tudo o que deseja. Ela é uma personagem, acima de tudo, muito solitária e ainda vai render muitos nas próximas temporadas.
O casal Aristides (Gero Camilo) e Décio (Paulo Miklos) também tem mais espaço nessa temporada protagonizando situações muito interessantes por mostrar, de forma natural, que um casal homoafetivo passa pelas mesmas situações e preocupações que qualquer outro casal. Isso é bem sutil, mas bem gostoso de ver por sua naturalidade. Até o interesse amoroso de Cassandra, Ivaldo (Thomas Aquino), possue passagens muito boas e importantes, principalmente pelo personagem se ocupar das implicações e dificuldades enfrentadas pela pessoas que saem do armário após um longo relacionamento hétero.
É perceptível que Manhãs de Setembro é uma série muito bem pensada. Da mesma forma que a ligação entre a primeira e segunda temporadas acontece de forma bem natural, o que a atual temporada deixa engatilhado para próxima – a terceira – já nos deixa com grandes expectativas. Continua valendo cada minuto e mal podemos esperar para os próximos.